Por que a série Os Outros é o melhor produto já lançado pelo Globoplay
Produção com Adriana Esteves supera com folga outras atrações originais da plataforma de streaming da Globo
Publicado em 14/06/2023 às 05:17,
atualizado em 17/04/2024 às 17:00
A série Os Outros já pode ser considerada o melhor produto original lançado pelo Globoplay. Com quatro episódios divulgados – o quinto sai nesta quarta-feira (14) –, a atração criada por Lucas Paraizo, a partir de um argumento de Fernanda Torres, com direção artística de Luísa Lima, desbanca qualquer outra aposta da plataforma de streaming do Grupo Globo.
Os Outros narra a evolução dos conflitos entre dois casais – de um lado, Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomas Aquino); do outro, Mila (Maeve Jinkings) e Wando (Milhem Cortaz) –, moradores de um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio, a partir de uma briga entre dois adolescentes, filhos deles.
Se, há algum tempo, a Globo parecia empurrar para o streaming alguns subprodutos, agora a emissora se mostra cada vez mais disposta a dispor, ali, o que há de melhor em sua dramaturgia, antes da exibição na TV aberta. Isso é notado desde Onde Está Meu Coração, ótima série, mas sem o apelo popular dessa mais recente aposta.
Os Outros é a produção mais bem acabada já feita em dramaturgia pelo Globoplay. O apuro artístico envolve plena coesão entre texto, direção e elenco como raras vezes se vê na televisão. Em outras atrações originais da plataforma, por vezes, quando um desses elementos despontava, outro ficava devendo.
Ancorada pela qualidade do texto de Lucas Paraizo e a direção certeira de Luísa Lima, o saldo, até agora, supera com folga tanto as melhores séries do Globoplay quanto as duas novelas originais – a infame Verdades Secretas 2 e a titubeante Todas as Flores, finalizada mês passado.
Os Outros tem ritmo alucinante sem descuidar da profundidade dos personagens
Os dois primeiros episódios têm ritmo alucinante, sem descuidar da profundidade dos dramas e dos personagens. Esse é talvez o maior mérito da série, já que outras narrativas costumam investir em uma profusão de acontecimentos e, em nome disso, mandam a coerência às favas. Apesar da queda no ritmo nos dois episódios seguintes, a atração mantém o interesse da audiência ao se aprofundar na intimidade das duas famílias.
A trama não reduz seus personagens a uma luta maniqueísta de bons versus maus, mas revela lados desiguais em disputas que, no fim das contas, também são sociais – entremeadas por temas como bullying, luta de classes e violência contra a mulher. Por essas e outras, é provável que Cibele gere mais empatia no espectador que Wando na guerra travada entre os dois.
Ótima em cena, como de costume, Adriana Esteves sabe criar identificação imediata com o público desde sua primeira aparição. Milhem Cortaz também reafirma seu potencial de criar tipos controversos. Todo o elenco brilha, com especial ainda menção a Drica Moraes, que rouba a cena quando aparece, e Eduardo Sterblitch, humorista em sua primeira incursão dramática.
Outro ponto que merece citação é a inspirada seleção que compõe a trilha sonora. As músicas, bem escolhidas no cancioneiro popular brasileiro, imprimem originalidade às cenas. Trazem ainda um tom melancólico e decadente, que refletem o do dia a dia dos personagens principais.
A inspiração, segundo os criadores, veio do thriller sul-coreano Parasita (2019), mas o início lembra mais uma Big Little Lies (2017) à brasileira, com uma narrativa mais tensa que a série norte-americana. A história fala de uma realidade tão comum no Brasil: nos últimos anos, quantas vezes não vimos, no noticiário policial, conflitos diários extrapolarem às raias da loucura?
O título, logo que surge na tela, sinaliza do que se trata a série. O “sou” evidenciado em “oS OUtros” indica que os conflitos com terceiros costuma dizer mais sobre nós que sobre eles. E a resolução dificilmente se dará sem que cada um direcione o olhar para si.
Assista ao teaser da série Os Outros, do Globoplay: