Sambódromo do Rio tem pista branca à pedido da TV Manchete
Emissora do Grupo Bloch teve participação importante na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro
Publicado em 19/02/2023 às 08:30
Os desfiles das escolas de samba do Rio iniciam neste domingo (19) com transmissão exclusiva pela Globo e Globoplay. As agremiações atravessam o sambódromo da Marquês de Sapucaí numa pista pintada, anualmente, de branco. Isso ocorre desde que os técnicos da extinta TV Manchete (1983-1999), também detentora dos direitos de transmissão dos desfiles entre as décadas de 80 e 90, alertaram que a cor seria a melhor opção para a TV.
Procurado pelo NaTelinha, Fernando Morgado, consultor de empresas de mídia, professor e autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos - A Trajetória do Mito, falou sobre a importância da Manchete na transmissão do Carnaval na televisão.
“Quando nasceu, a Rede Manchete era conhecida por sua qualidade técnica. Havia, portanto, uma preocupação estética muito forte. Por exemplo: foram os técnicos da Manchete que recomendaram a pintura da pista com tinta branca. Assim, as luzes dos carros refletiriam muito mais do que no asfalto. E essa prática continua até os dias atuais”.
E continua: "A TV Manchete herdou a tradição da revista Manchete (1952-2000). Um grande hábito carioca era correr para a banca e comprar a edição especial que saía na Quarta-Feira de Cinzas, cheia de belas fotos dos bailes, concursos de fantasia e desfiles".
A Manchete, que pertencia ao Grupo Bloch, transmitiu os desfiles do Carnaval do Rio pela primeira vez em 1984, ano que inaugurou o sambódromo carioca. Antes, as escolas de samba desfilavam no centro da cidade, na Avenida Rio Branco, com exibição da Globo e, eventualmente, pela Band e TV Educativa.
Em 1984, TV Manchete furou a Globo nos desfiles das escolas de samba
Ainda em 84, a Manchete furou a Globo, transmitiu o Carnaval com exclusividade e virou líder de audiência na folia da TV naquele ano. A situação acabou melando a relação de Adolfo Bloch (1908-1995) e Roberto Marinho (1904 -2003) que, segundo o Livro do Boni, escrito pelo ex-todo poderoso da Globo, existia nos bastidores um acordo para repassar os direitos da escolas de samba do Rio para a líder de Ibope.
“O governo, com o sambódromo na mão, assumiu a negociação dos direitos. A coisa foi engrossando e, pressionado, achei uma saída: combinei com o Moysés Weltman, da Manchete, que ele compraria o Carnaval sozinho e depois repassaria a minha parte. Esse compromisso foi assumido pedra e cal, depois dele ter consultado o Adolfo Bloch. Uma vez assinado o contrato, no entanto, o Weltman não me atendia mais, e o Bloch não respondia nenhum telefonema do dr. Roberto Marinho, que declarou guerra ao Adolpho Bloch. Ficamos fora do Carnaval".
Livro do Boni
A qualidade da Manchete na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio acabou melhorando a cobertura da Globo. Uma dessas consequências foi a criação do conceito Globeleza, em 1991, que acabou se tornado um case de sucesso.
Por fim, ao NaTelinha, Fernando Morgado destacou as apostas da Manchete na transmissão do Carnaval: "O volume de cobertura da Manchete não tinha paralelo. Eram dezenas de horas ininterruptas no ar. Uma sequência de desfiles ao vivo do Rio e de São Paulo, blocos no Nordeste, bailes, concursos de fantasia, reprises de desfiles, telejornais e especiais musicais. Era a melhor opção para quem gostava da folia, mas não pretendia sair de casa”.
Confira a chamada do Carnaval da Manchete em 1990: