Fim da MTV e Nickelodeon na TV paga acelera a reinvenção do setor
TV por assinatura vive revolução com streaming, canais FAST e modelo D2C
Publicado em 09/10/2025 às 04:05,
atualizado em 09/10/2025 às 15:22
A saída dos canais da Paramount da TV por assinatura no Brasil, incluindo MTV e Nickelodeon, prevista para o fim do ano, foi antecipada pelo NaTelinha e pegou o mercado de surpresa na última terça-feira (07). A decisão, tomada sob o comando da nova controladora Skydance, da família Ellison, acendeu um alerta entre os executivos do setor, que agora se perguntam: qual será o futuro da TV paga?
A reportagem do NaTelinha apurou que a Paramount optou pelo fim da distribuição com base na queda da receita publicitária, na redução do número de assinantes da TV por assinatura (PayTV), nos altos custos operacionais do SeAC (Serviço de Acesso Condicionado), que regula a TV paga no Brasil, e no foco estratégico de se transformar em uma empresa de perfil big tech.
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Entre os principais canais lineares que deixaram a TV por assinatura no formato SeAC ou streaming estão MTV, Paramount, Nickelodeon, Nick Jr. e Comedy Central. As operadoras vêm sendo informadas da decisão por meio de comunicados enviados nos últimos dias.
Além disso, a partir de 2026, a Paramount adotará o modelo D2C (Direct-to-Consumer), ou seja, passará a oferecer seus conteúdos diretamente ao público, sem intermediação de operadoras de TV por assinatura.
Isso significa que os canais, ainda não tem informações de quais, estarão disponíveis apenas via aplicativo Paramount+ e PlutoTV (que oferece canais gratuitos com anúncios, conhecidos como FAST, Free Ad-Supported Streaming TV).
A assessoria de comunicação da Paramount foi procurada pelo NaTelinha para comentar a notícia divulgada em primeira mão pelo site, mas ainda não respondeu ao contato.

Antes da saída da Paramount, foi a Disney quem deu o primeiro passo. No início de 2025, o grupo anunciou o fim da transmissão de seus canais lineares, entre eles Disney Channel, Star Channel (antigo Fox), FX, National Geographic e Baby TV, encerrando oficialmente as operações em fevereiro. Oito meses depois, a Paramount segue o mesmo caminho. Em comum, ambos os estúdios apostam em enlatados estrangeiros que já não despertam interesse na TV linear.
Com essas baixas, o cenário atual deixa apenas Globo e Warner Bros. Discovery como as últimas grandes programadoras ainda presentes no sistema tradicional.
Mercado acredita na reinvenção do modelo atual da TV paga
Especialistas dizem que a TV por assinatura está passando por uma grande virada desde que os serviços de streaming, como a Netflix, chegaram com força. A tendência agora é focar em canais ao vivo, como esportes, notícias e shows, que ainda seguram a atenção do público.
Para Fernando Morgado, consultor e professor de mídia, diante dos movimentos que são observados nos mercados no mundo inteiro, percebe-se que o público segue disposto a pagar por TV.
"O que devemos nos perguntar é se as pessoas ainda estão dispostas a pagar por conteúdo televisivo transmitido por cabo ou DTH, que foi o formato historicamente entendido como televisão paga. Quando olhamos para esse conceito, na letra fria da palavra, trata-se de pagar para ver conteúdo televisivo. Esse modelo precisa se reinventar continuamente."
Fernando Morgado - consultor e professor de mídia
Segundo Morgado, essa reinvenção passa por duas vertentes. A primeira é de serviço: ir além da televisão, como já se observa nas operadoras de cabo. Ao agregar internet, telefonia - o triple play, ou quadruple play - a televisão deixa de ser o centro do pacote e passa a ser um atrativo para fidelizar o cliente. A segunda vertente é o conteúdo, que enfrenta um cenário desafiador. Há um recorde histórico de produção no mundo, disputado por várias mídias.
"A TV paga precisa encontrar seu diferencial em termos de conteúdo. Como se trata de uma oferta de canais, estamos falando de TV linear, com grade. Oferecer apenas enlatados não diferencia a TV paga atualmente, pois esse tipo de conteúdo já é muito bem atendido pelas plataformas de streaming. Mesmo a TV aberta já não considera séries e filmes estrangeiros uma prioridade."
Fernando Morgado - consultor e professor de mídia
Um caminho possível, segundo Morgado, é o conteúdo ao vivo. “Gera um senso de urgência e uma demanda que pode levar a pessoa a querer permanecer na programação. Por se tratar de um conteúdo único, feito por seres humanos ao vivo, isso também pode fortalecer a relevância em termos de fidelização à assinatura", concluiu.