James Ackel

Globo não precisou de formato de fora para crescer

Jornalista James Ackel analisa a compra de formatos de programas pela Globo


Luciano Huck
"The Wall" é um dos formatos atuais comprados de fora pela Globo

A Globo, maior rede de TV do país, cresceu sem precisar de absolutamente nenhum formato importado de produtoras estrangeiras.

Muito ao contrário, quando esteve sob comando de Boni e Walter Clark, toda sua programação foi criada em cima da criatividade de produtores e diretores. Além de um conselho de pensadores criado por Clark e que se reunia todas as manhãs a partir das 11h, tomava café com uísque e salgadinhos e depois almoçava pensando e falando sobre TV.

Este grupo de pensadores deixou de existir quando Clark saiu da Globo. A partir dali, apenas Boni comandava tudo com uma genialidade rara nos dias de agora.

A principal grade da Globo que se montava em cima de novela das sete, jornal, novela das oito e show às nove, não foi uma criação de Boni.

Tendo passado pela extinta TV Excelsior e muito estudioso de rádio e TV em toda sua vida, Boni aproveitou uma grade que tinha sido criada por Álvaro de Moya, um conhecedor de televisão que não teve a mesma fama de Boni.

Globo não precisou de formato de fora para crescer

O acréscimo na grade da Globo ficou por conta da novela das 6 que não existia na Excelsior.

Esta programação desenhada por Boni com base no que existiu na antiga emissora de Moya é a principal grade de alto faturamento da Globo até os dias de hoje. Nenhum programa era formato importado.

Afinal, a Globo tinha gente que sabia fazer TV e não precisava ficar comprando produto estrangeiro e mandando dinheiro para fora do país ao invés de pagar salários para brasileiros.

Hoje, infelizmente, até a Globo importa formatos e não tem mais uma equipe de diretores e produtores à altura da equipe do passado.

Atualmente, a Globo tem seis pessoas para fazer o trabalho que Boni fazia sozinho. E estas seis pessoas infelizmente não conseguem o resultado de sucesso que o ex-todo poderoso conseguia sozinho.

A Globo de hoje não é a sombra do que foi no passado. Mesmo sob críticas de apoio do Regime Militar, a a emissora teve gente que sabia comandar e criar produtos muito bons.

O Regime Militar ajudou e muito, obrigando empresas multinacionais a anunciar na programação ainda incipiente do começo da  Globo e obrigando inúmeras emissoras independentes pelo país a retransmitir o novato canal gerado no Rio de Janeiro.

A mais prejudicada foi a TV Record que perdeu muitas retransmissoras para a Globo. Mas ela, em contrapartida, criou uma programação de primeira linha e que foi aos poucos superando as outras emissoras.

A consolidação da Globo aconteceu com a queda da TV Excelsior e depois com o fechamento também da TV Tupi.

Hoje a emissora da família Marinho atravessa a pior fase de sua história. Teve prejuízo fantástico no ano de 2018 e demite aos montes.

Infelizmente, as outras emissoras não têm equipe de criação que possa criar de verdade e fazer frente à Globo e nem comando de emissora que possa criar um projeto viável de enfrentamento ao canal líder.

Os atuais concorrentes da Globo acham que basta comprar um produto de fora e tudo vai ficar bom. É a cultura da falta de criatividade.

Não é difícil enfrentar a rede carioca, desde que se tenha criatividade e conhecimento do ramo, coisa que parece não existir nas outras emissoras. O maior inimigo do canal líder é sua própria diretoria.

A  Globo cresceu gastando mas não sabe se sustentar nas finanças do mercado de agora.  


James Ackel é jornalista e faz parte da história da televisão, com passagens pela TV Excelsior, Paulista e Record.


*As opiniões expressas não refletem necessariamente a posição do site.

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