Publicado em 29/04/2022 às 10:39:00,
atualizado em 29/04/2022 às 12:44:37
Na Globo desde 1996 de maneira ininterrupta, o jornalista Chico Pinheiro deixa a emissora. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (29) em um e-mail interno enviado aos funcionários pelo diretor geral de Jornalismo, Ali Kamel, e encaminhado pela Globo ao NaTelinha (veja o texto na íntegra no final da reportagem). A saída do âncora do Bom Dia Brasil, segundo ele, ocorreu em "comum acordo".
"Depois de 51 anos de jornalismo diário, 32 deles na Globo, em comum acordo com a emissora, Chico decidiu deixar o dia a dia da vida de repórter, como ele faz questão de se definir. Pretende se dar um sabático e, mais adiante, se dedicar a atividades num ritmo mais espaçado", inicia Kamel, em trecho divulgado pelo site Metrópoles.
Ali Kamel continua dizendo que ficou combinado de que sua saída aconteceria depois do Carnaval, que em 2022 foi excepcionalmente em abril. "E combinou comigo que esperaria o fim de mais uma brilhante transmissão do Carnaval, a que se dedica há vinte anos, para que esse anúncio fosse feito, numa sexta-feira", continua.
O diretor agradece os serviços prestados e elogia: "De nós, seus colegas e amigos, fica o reconhecimento de ter convivido na redação com um dos grandes jornalistas que a televisão brasileira já produziu e uma das pessoas “boa gente” com quem já compartilhamos histórias e experiências. Entre mim e Chico fica carinho e amizade, e muitas sextas feiras por vir. A ele, agradeço em nome da Globo por toda a contribuição que deu ao nosso jornalismo".
Desde 2019 a saída de Chico Pinheiro já era planejada pelos executivos da emissora, que viam que o ciclo do jornalista já havia se completado. A ideia na ocasião era buscar nomes que rejuvenescessem o Bom Dia Brasil, conforme antecipou o NaTelinha.
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Chico ingressou no Grupo Globo há 45 anos, no cargo de chefe de reportagem. Nos anos 80, trabalhou em outros veículos, como na Quilombo, produtora que cuidava da carreira artística do compositor Milton Nascimento. Ele editou o jornal Trem Azul, foi chefe de gabinete do secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais e comandou um programa de debates na TV Minas, chamado Alta Tensão.
Em 1989, Pinheiro foi para São Paulo como contratado da Band. Inicialmente, editou e apresentou diariamente o Canal Livre. Entre 1992 e 1993, foi âncora do Jornal da Noite, Jornal de Domingo e Jornal da Bandeirantes (1993-1995).
Chico também foi contratado da Record como diretor de jornalismo e apresentador do principal noticiário da emissora em 1995. Quando um pastor da Igreja Universal, Sergio von Helde, chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida durante um programa, o jornalista decidiu pedir demissão.
Logo, se transferiu para a Rádio CBN e permaneceu por lá até 1997. Antes disso, em 1996, foi convidado para voltar à Globo como apresentador no Bom Dia São Paulo e editor do Bom Dia Brasil. Também passou a apresentar eventualmente o Jornal Nacional e o Jornal da Globo.
Desde 2011, comanda o Bom Dia Brasil. Em março de 2020, devido a pandemia de Covid-19, se afastou da bancada por fazer parte do grupo de risco e só retornou em julho de 2021, depois de ter tomado as duas doses da vacina.
Confira o e-mail de Ali Kamel sobre Chico Pinheiro na íntegra:
"Chico Pinheiro conquista de imediato o público em casa e seus colegas no trabalho com duas características marcantes: a língua afiada contra as mazelas do Brasil e uma simpatia contagiante. Este mineiro, cujo amor pelo jornalismo só encontra paralelo na paixão pelo Galo, não é mineiro. Nasceu em Santa Maria da Boca Monte, cidadezinha do Rio Grande do Sul. Mas foi criado em Minas Gerais, conquistou o coração dos paulistas e fez grandes amigos no Rio. Para nossa sorte, desistiu do curso de engenharia na UFMG depois de quatro anos e se formou em jornalismo na PUC-MG em 1976 (mas já estagiava em redações desde 1971, primeiro no Diário de Minas e, depois, na sucursal mineira do Jornal do Brasil). Em 1977, veio para a Globo Minas como chefe de reportagem a convite de Eduardo Simbalista, com quem trabalhara no JB. Inquieto, foi para Navarra fazer uma pós-graduação e, na volta, tornou-se repórter em Belo Horizonte do Jornal Nacional. Fez entrevistas de que se orgulha: entre muitas, com Doutor Ulysses Guimarães e o então ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, essa última censurada pela ditadura militar.
A mudança para São Paulo foi em 1989 para apresentar o Jornal da Band, o carro-chefe da emissora. Lá foi premiado pela cobertura do impeachment de Fernando Collor e ancorou os principais telejornais da Band até 1995. O retorno à Globo, em 1996, foi como apresentador do Bom dia São Paulo, com participação no Bom dia Brasil, e os plantões na bancada do JN. Logo depois, Chico conquistou os corações paulistanos no SPTV - uma bancada onde brilhou por 13 anos.
Dessa época, se destaca a entrevista histórica com Niceia Pitta, ex-mulher do então prefeito Celso Pitta, sucessor de Paulo Maluf. Niceia revelou para Chico as entranhas do esquema de corrupção e pagamento de propina na prefeitura numa reportagem exibida num Globo Repórter especial sobre o caso.
Chico é sempre atento a causas sociais. Na Globo, desenvolveu o movimento “Sou da Paz”, pelo desarmamento, que se transformaria depois no instituto de mesmo nome com forte influência no que viria a ser o Estatuto do Desarmamento. É também conselheiro do movimento Todos Pela Educaçao e do Instituto Ayrton Senna. Graças ao trabalho no jornalismo comunitário da em SP, recebeu o título de Cidadão Honorário da capital paulista. Depois, foi agraciado com o título de cidadão honorário de Águas de Lindóia, terra de sua mulher, a jornalista, Leda Rielli, nossa colega, terra onde pretende viver um dia.
Chico cobriu as visitas ao Brasil dos Papas João Paulo II, Bento XVI e seu xará Francisco. Dessa última, tenho uma lembrança muito afetuosa, pois fui testemunha do carinho que sempre teve pelo pai, seu Antônio, católico fervoroso que gostaria de receber uma benção de Francisco. O Papa receberia convidados de pessoas ligados de alguma forma aos organizadores da Jornada da Juventude, que a Globo apoiou. Era tudo muito restrito, mas o empenho de Chico era tão comovente que consegui um convite para o seu Antônio. Ocorre que Chico estava preocupado com o bem-estar do pai, já idoso, que chegara muito cedo ao Palácio São Joaquim. Apesar de saber que ele seria bem cuidado, Chico não não conseguia descansar: queria estar por perto para cuidar do pai, algo quase impossível, mesmo para ele. De repente, quando olho para o lado, lá estava Chico, ao lado do pai. Como ele entrou? Ele gosta de dizer que fez como a água, que sempre encontra um caminho por onde passar.
Em sua trajetória, entrevistou grandes nomes das artes no Espaço Aberto da Globonews, como Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Walmor Chagas, Nathalia Timberg e tantos talentos dos palcos. Dessa experiência, nasceu o Sarau, programa que é ainda hoje um dos maiores arquivos de gênios de nossa música, entrevistados com habilidade, elegância, deixando sempre o convidado se sentindo em casa.
A competência e a popularidade trouxeram Chico para o Rio em 2011, para assumir a bancada no Bom Dia Brasil. Chico já participava do programa entrando de São Paulo e passou a ancorar o telejornal, primeiro ao lado de Renata Vasconcellos e depois de Ana Paula Araújo. No Bom Dia, cobriu eleições presidenciais no Brasil, as manifestações de 2013, Copas, Olimpíadas, guerras, desastres e tudo mais que tenha sido notícia nesses onze anos.
Sem perder o sotaque mineiro nem o bom humor, Chico saúda o início das semanas com um entusiasmado “Coragem!”! E a chegada do fim de semana com “Graças a Deus, hoje é sexta-feira”. Este carisma transborda para a equipe, que sempre para, atenta a suas histórias.
Depois de 51 anos de jornalismo diário, 32 deles na Globo, em comum acordo com a emissora, Chico decidiu deixar o dia a dia da vida de repórter, como ele faz questão de se definir. Pretende se dar um sabático e, mais adiante, se dedicar a atividades num ritmo mais espaçado. E combinou comigo que esperaria o fim de mais uma brilhante transmissão do Carnaval, a que se dedica há vinte anos, para que esse anúncio fosse feito, numa sexta-feira. Talvez para poder dizer com força o seu bordão, cuja origem, apesar do significado mais ligeiro, ele explicou assim, numa entrevista: “As pessoas me perguntam por que eu digo isso, me perguntam se eu não gosto de trabalhar. O motivo na verdade é outro. Na sexta, a gente cumpriu o dever, a gente navegou pela vida durante a semana, conhecendo coisas, aprendendo coisas e procurando melhorar. E sexta-feira, claro, é o começo de estar mais com os amigos, de estar mais relaxado e de se sentar à mesa para partilhar o que foi vivido durante a semana com o companheiro, aquele com quem como o pão, aqueles com quem divido a minha mesa. Essa alegria do encontro, em geral, acontece na sexta-feira”.
De nós, seus colegas e amigos, fica o reconhecimento de ter convivido na redação com um dos grandes jornalistas que a televisão brasileira já produziu e uma das pessoas “boa gente” com quem já compartilhamos histórias e experiências.
Entre mim e Chico fica carinho e amizade, e muitas sextas feiras por vir.
A ele, agradeço em nome da Globo por toda a contribuição que deu ao nosso jornalismo.
Ali Kamel"
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