Após ser escravizada, mulher negra chora de medo ao segurar mão de repórter branca
Madalena, 62, trabalhava nesta condição desde que era criança, onde sofria maus-tratos, não tinha salário e era enganada pela filha do ex-patrão
Publicado em 28/04/2022 às 19:23,
atualizado em 28/04/2022 às 19:23
O vídeo em que uma mulher negra fica receosa em segurar a mão de uma repórter branca repercutiu nas redes sociais. As imagens mostram Madalena Silva, que foi resgatada do trabalho análogo à escravidão, e a repórter Adriana Oliveira, do Bahia Meio Dia, afiliada à Globo, em Salvador (BA). A gravação, que foi exibida nessa quarta-feira (27), tratava de trabalho escravo na Bahia e comoveu os espectadores.
“Fico com receio de pegar na sua mão branca”, disse Madalena, enquanto chora. “Mas por quê? Tem medo de quê?”, questionou a repórter, que estendeu as mãos. “Por que ver a sua mão branca… eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”, desabafou. “Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas nós somos mulheres, mas você é mulher, eu sou mulher, os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, disse Adriana, que abraçou Madalena.
Desde os 8 anos de idade, Madalena Silva era escravizada por uma família. Ela passou 54 dos 62 anos vividos nessa condição. Porém, em maço do ano passado, ela foi resgatada e mora em Lauro de Freitas. Além de não receber salário, ela, que trabalhava como doméstica, sofria maus-tratos. Como se não bastasse isso, Maria ainda foi roubado pela filha dos ex-patrões, que fizeram empréstimos em seu nome e obtiveram R$ 20 mil de sua aposentadoria.
A repórter postou a história em seu perfil nas redes sociais e disse que o momento foi o mais emocionante da carreira dela. “Ainda tô impactada com o encontro com Dona Madalena. Ela foi vítima de uma violência brutal por 54 dos 62 anos de vida. E dentro de uma casa ‘de família’ foi submetida a condições análoga à escravidão. Ela foi resgatada, em março, por auditores do Ministério do Trabalho. Hoje vivi um dos momentos mais emocionantes nos 27 anos de profissão. Ainda tem muita luta!!”, contou.
Em outra postagem, Adriana Oliveira definiu como “monstruosidade” o que fizeram com “Dona Madalena” e afirmou que se sentiu “impotente” diante da situação. “Estarrecedor. Inacreditável. Inaceitável. Violência brutal. Seria interminável a lista do que fizeram com Dona Madalena. A Bahia ocupa 2 lugar em número de empregadores que submeteram trabalhadores à situações análoga à escravidão. Me senti tão pequena, tão impotente diante da dor de Dona Madalena. Vontade de acolher e nunca mais ter notícia de monstruosidades assim”, disse.
Internautas reagem à matéria, elogiam conduta de repórter e lamentam: "nunca deixou de existir"
A história deixou vários internautas revoltados, muitos disseram que foram às lágrimas e elogiaram a conduta da repórter. “Que triste! Sua sensibilidade Adriana foi de uma precisão absurda. Parabéns por ser e por conduzir esta nossa história. Quantas Donas Madalenas existem e resistem nesse mundo!?!”, indagou uma usuária.
“Adri, que sensibilidade! A dona Madalena, o nosso abraço! Que não fechemos mais os olhos para essa realidade que, infelizmente, nunca deixou de existir no Brasil”, postou outro.