Discussão e alerta

Ex-participante do The Voice Kids reacende debate: Competições infantis na TV são saudáveis?

Para ela, formato deveria ser proibido

Bel no The Voice Kids - Reprodução/TV Globo
Por Thiago Forato

Publicado em 10/10/2020 às 08:45:00

A cantora Bel Sant'Anna, que participou do The Voice Kids no ano passado, falou sobre sua experiência no reality da Globo e expôs o quanto a competição mexeu com seu psicológico e autoestima, afetando até mesmo seu desejo de cantar. O discurso reacende a discussão: até que ponto é saudável crianças disputarem na TV?

Na opinião da ex-participante do reality musical, o programa deveria ser proibido. "Não só porque as crianças estão sendo usadas para entretenimento alheio, mas eu já senti na pele como é estar lá e não me fez bem. Ninguém abusou de mim ou coisa do tipo, me trataram muito bem em vários aspectos, o que eu estou falando é sobre a mecânica do programa", inicia ela.

A cantora classificou a competição como algo "duvidoso" pelo mais puro entretenimento, e desabafou: "Fui desqualificada nas batalhas e perdi toda a minha autoestima, tudo o que fazia eu querer cantar, toda a mágica que a música tinha pra mim foi embora porque eu pensava que não era boa o suficiente pra continuar. Alguém lá dentro me designou ruim demais para seguir no show".

Bel também relatou ter passado um ano inteiro parada sem tocar piano, aquecer a voz ou até mesmo cantar no chuveiro. "Até hoje tenho muita insegurança", destacou. De acordo com ela, ainda, as psicólogas da Globo pouco faziam.

A emissora, por sinal, exibe a grande final da quinta temporada do The Voice Kids neste domingo (11), com Kauê Penna, Maria Eduarda Ribeiro ou Paulo Gomiz na decisão.

VEJA TAMBÉM

Competições podem ser estimulantes, diz psicólogo

Segundo o psicólogo Alexander Bez, a competição na infância, geralmente ligada aos esportes e atividades físicas, podem ser estimulantes e bastante positivas. "Entretanto, o segredo está na preparação psicológica caso a criança perca. Competições como o The Voice Kids são entendidas como saudáveis, pois estimulam a determinação e acabam expondo que nem sempre a criança irá ganhar, mas ela deve persistir", diz ao NaTelinha.

Para ele, cabe aos pais orientarem e deixarem claro que se trata de uma diversão, sempre com um respaldo emocional. A ajuda de um psicólogo também é importante: "O papel do especialista é analisar cada criança e buscar as melhores soluções para sanar as frustrações e ansiedade de cada competidor mirim. Avaliar se a criança possui fragilidades psicológicas e se a competição está ocasionando sequelas emocionais".

Caso não exista preparo psicológico e emocional, a chance de frustração é grande, de acordo com Bez. "Esse tipo de competição não só permite a criança a desfrutar essa ambientação competitiva, mas também a prepara para a vida. Para não ter o elemento da baixa autoestima, frustração e sensação de inferioridade a preparação para derrota é necessária", conta.

Enquanto para Bel o The Voice Kids deveria ser proibido, o psicólogo discorda: "A vida nos proporciona diversos tipos de competição, ao instigar esse espírito competitivo, desenvolve melhor o sistema cognitivo, aprimorando pontos necessários para o desenvolvimento. Além de mostrar a criança que nem sempre ela irá vencer, evita a permanência do conceito de perfeição".

Um fator que pode ser determinante para o psicológico da criança é a inclusão do ingrediente "parabenizar". "Isso deve ser amplamente difundido, exaltar o talento dessas crianças mesmo durante a derrota é fundamental. Levar a competição como uma diversão e oportunidade de mostrar o trabalho desses pequenos artistas para o Brasil e mundo é interessante também, mesmo que não ganhem é importante ressaltar que eles foram selecionados entre várias outras crianças e tiveram oportunidade de fazer novos amigos e entrar com tudo no mundo musical", encerra.

TAGS:
NOTÍCIAS RELACIONADAS
MAIS NOTÍCIAS