"a mocinha do horário das nove defende suas terras com arma de fogo. Não é isso que o presidente fala todos os dias?"
Publicado em 03/06/2022 às 04:00:00,
atualizado em 05/06/2022 às 13:18:47
Nem Lula, nem Bolsonaro. Quem está unindo o Brasil e virou unanimidade nacional é Juma Marruá (Alanis Guillen). Desde que a novela Pantanal estreou, em 28 de março, o brasileiro coloca toda a guerra que a polarização política vem fervilhando nos últimos sete anos num potinho e guarda a sete chaves. No pouco mais de uma hora em que a produção da Globo está no ar, não há espaço para a guerra de narrativas, apenas para acompanhar a trajetória da mulher-onça que tem tirado o fôlego de quase 80 milhões de pessoas todos os dias.
Os dados da Kantar Ibope deixam claro: Pantanal alcança semanalmente quase 40% de toda a fatia da população brasileira e, ao se considerar apenas acima de 14 anos, o número cresce. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há 9,1 milhões de pessoas até 14 anos, ou seja, com idade inferior da Classificação Indicativa. Sem essas pessoas, Pantanal chega a perto de 45% da fatia toda da população brasileira.
Para Mario Okajima, especialista em dramaturgia, Pantanal é uma unanimidade porque tem o elemento principal de uma produção: uma história de amor cativante. "A história de Juma ganhou o coração do brasileiro médio e quando isso acontece não há como segurar e a tendência é que o fenômeno só aumente", explica em depoimento ao NaTelinha. "Dificilmente a trama não vai continuar batendo recordes", completa.
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O NaTelinha ouviu espectadores da história escrita por Bruno Luperi, com base no original de Benedito Ruy Barbosa, que foi ao ar na TV Manchete em 1990, e a resposta é sempre muito semelhante. Eleitores de Lula e de Bolsonaro, que costumam discordar de tudo, são convergentes quando o assunto é Pantanal.
"A novela mostra a luta das mulheres pela liberdade, por serem donas de seu próprio corpo. Isso é progressismo puro", comenta Aline Ramos, militante de esquerda. "Além disso, a Globo acerta ao denunciar a situação atual do Pantanal e falar das caças ilegais", completa.
Já Jorge Augusto dos Santos, eletricista e defensor feroz de Bolsonaro, se derrete pela novela. "Muito boa, não perco um capítulo", mas ele pondera que a história mostra exatamente o que o bolsonarismo defende. "Ali não tem mimimi, todo mundo resolve seus problemas como quer", lembra
"a mocinha do horário das nove defende suas terras com arma de fogo. Não é isso que o presidente fala todos os dias?"
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Num ano de eleição, Pantanal consegue o improvável ao unir lulistas e bolsonaristas num só tema. "Quando você fala de polarização política, faz parte do mecanismo o lado A sempre discordar do lado B, seja por qual motivo for. No caso de Pantanal, os fãs dos dois lados pegam carona no sucesso para defender suas pautas", explica Okajima.
Mas não é só isso, porque poderia se tratar de oportunismo, segundo ele. "Os eleitores de Lula e de Bolsonaro não querem usar Pantanal para atrair o eleitor em dúvida. Eles falam da novela porque gostam da história e porque estão envolvidos todos os dias no capítulo".
O próprio candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, pegou carona no assunto recentemente e se comparou a Jove (Jesuíta Barbosa) na história. "É só uma forma de mostrar que todo mundo assiste a novela, até o presidenciável". Se Bolsonaro vê Pantanal ninguém sabe, já que ele não disse ainda, mas em outubro o eleitor pode até ter que escolher entre um e outro, agora, tudo o que ele quer é assistir a história de amor em paz.
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