Publicado em 13/12/2021 às 06:30:10, atualizado em 13/12/2021 às 12:31:38
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Mariana Nunes teve destaque em Amor de Mãe (2019-21) como Rita, personagem-chave no desenvolvimento da trama, uma mulher humilde e atormentada por ter abandonado a filha no passado. A atriz retorna às novelas com um tipo totalmente diferente: na pele da Dra. Joana de Quanto Mais Vida, Melhor, ela interpreta uma médica independente e bem-sucedida, papel raramente destinado a atrizes negras. “Sinto que ainda vivemos sob um regime de cotas”, reflete a artista, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
“Acho importante existir uma médica negra na novela das sete. A Joana é um divisor de águas, independentemente da repercussão que tenha, por ser uma personagem inserida na sociedade, mas não no lugar social comum que estamos acostumados a ver. A ficção ainda corre um pouco atrás da realidade quando falamos disso. É cada vez mais comum vermos negros como profissionais de saúde, em lugares de chefia e de ascensão, mas ainda são pouco representados, e, quando acontece, são furtados de suas subjetividades”, reflete Mariana Nunes.
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Para a intérprete, Joana foge à regra de como as mulheres negras aparecem na teledramaturgia. “A escassez dela não é material. Ela vive um drama de amor e um pouco da solidão da mulher negra que é muito comum àquelas bem-sucedidas financeiramente. Onde estão seus pares? Quanto mais ascensão temos, menos negros encontramos. Não posso generalizar, mas essa é uma questão muito presente nas nossas rodas de conversa.”
A devida representatividade ainda não foi alcançada, segundo a atriz. “Estamos em um passo primário, que é preciso ser reconhecido, porém ainda estamos muito atrasados. É comum ter aquele ator negro que pontua o elenco, porque já não é mais tolerado que não haja nenhum. Já entendemos isso e podemos passar para um próximo passo, que é o da concreta diversidade”, reflete Mariana.
“Uma coisa muito frequente que tenho visto é: quando existe um negro, é imediato que fará casal com uma pessoa branca. São muitos casais interraciais no nosso audiovisual. É bacana, interessante, mas cadê os casais intrarraciais? Eles existem, mas também são pouco representados.”
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Quanto Mais Vida, Melhor é a primeira novela em que Mariana Nunes atua do início ao fim: “Muitos aprendizados”
Em Quanto Mais Vida, Melhor, Joana é uma mulher madura, ética, apaixonada por sua profissão e pelo colega Guilherme (Mateus Solano). A personagem em nada lembra Rita, último papel de Mariana Nunes em novelas, que entrou em cena em Amor de Mãe para tentar desmascarar Thelma (Adriana Esteves), mas acabou assassinada pela vilã. A morte marcou o fim da primeira fase do folhetim, interrompido pela pandemia da Covid-19.
“Entrei no olho do furacão, mas consegui encontrar condições para fazer meu trabalho”, recorda a atriz. Ela não pôde assistir à segunda fase da história de Manuela Dias quando foi ao ar, em março, e só tem feito isso agora. “Sabia o tamanho da personagem dentro da trama e o que ela significava, até porque eu acompanhava a novela. Então foi fácil entender o tom, a função dela, mesmo entrando em uma construção já iniciada.”
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Já Quanto Mais Vida, Melhor, cujas gravações já foram concluídas, foi a primeira novela em que a atriz atuou do início ao fim - no currículo, ela tem dezenas de filmes, séries e peças de teatro. “Foi muito legal poder viver uma trama inteira, acompanhar os capítulos chegando, não saber o rumo da personagem. Mesmo não estando no ar enquanto gravávamos, ainda assim era uma obra aberta. Foi muito gostoso viver esse frenesi de não saber para onde a Joana iria.”
“Vejo na novela vários corpos que eu tive ao longo de um ano: me vejo mais gorda, mais magra, com uma pele melhor, com mais espinhas… É um processo de autoconhecimento, autoaceitação e de construção a longo prazo. Você tem que sustentar a credibilidade e um tom crível do personagem durante muito mais tempo, passando por muitas situações. São muitos aprendizados fazendo [novela].”
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Em breve, ela também poderá ser vista em uma minissérie dirigida por Guel Arraes, que transpôs o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, para o universo das comunidades do Rio de Janeiro. “Uma grande dificuldade - ou um grande desafio - foi a embocadura do texto, poder falar as palavras do escritor com toda a sua formalidade e eloquência, mas dentro de uma realidade muito atual e corriqueira, que faz parte do nosso cotidiano”, avalia. A produção ainda não tem previsão de estreia.
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