Publicado em 05/11/2021 às 06:51:00
Quando Aguinaldo Silva estreou Império pela primeira vez em 2014, o mundo e o Brasil eram muito diferentes e um sinal disso é como a recepção da novela mudou completamente em sua exibição original e, agora, na reprise forçada por conta da pandemia da Covid-19. A mudança mais sentida no país é o clima de polarização política e o pessimismo do brasileiro por conta da crise financeira e que afetou seu humor ao assistir a telenovela. Piadas, núcleos inteiros e até o protagonista José Alfredo (Alexandre Nero) foram vistos de modo completamente diferente por parcela do público nesta segunda exibição que chegará ao fim nesta sexta-feira (05).
Quando a Globo decidiu reprisar Império antes de retomar as novelas inéditas, muita gente acreditou que viria outro sucesso, como aconteceu no ano passado com Fina Estampa (2011), mas não foi o caso. A explicação pode ser complexa, mas o termômetro das redes sociais dá um indicativo de que pautas consideradas interessantes à época, foram rejeitadas completamente agora.
Um dos exemplos é o núcleo de Xana (Ailton Graça) e Naná (Viviane Araújo), que foram muito elogiados na primeira exibição da novela, mas que acabaram rejeitados por parte importante da audiência agora. Se em 2013 parecia natural que um travesti tivesse que se comportar como homem padrão para conseguir adotar um filho, esta parte da história foi considerada ultrapassada e até um desserviço. Além disso, a falta de profundidade sobre a orientação sexual e o gênero da personagem também incomodaram o público mais atento.
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O tom dado à homofobia também foi muito elogiado em 2013, principalmente pela delicadeza na construção da história de Cláudio (Jose Mayer). Dessa vez, no entanto, o mesmo personagem vivendo as mesmas situação mostrou um olhar diferente do público, que considerou a abordagem irresponsável em alguns momentos da narrativa de Aguinaldo Silva.
Outro ponto levantado por parte do público foi a rivalidade feminina, que é muito recorrente em novelas e, especialmente as do autor. Quando foi ao ar originalmente, Império causou frisson com torcidas do público por Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa) e por Maria Marta (Lilia Cabral), além de vibrar com a guerra de Cristina (Leandra Leal) e Maria Clara (Andreia Horta).
Especialmente essas duas, que disputavam o mesmo homem sendo irmãs e viviam de provocações baratas irritou parte importante dos telespectadores na reprise de 2021. Nas redes sociais, a novela foi acusada de incentivar a rivalidade feminina, tema que deveria ter sido superado pelas telenovelas, na visão da militância, que não abraçou a guerra como uma forma de conflito narrativo.
Em 2013, José Alfredo foi tratado como um grande antiherói e um dos grandes personagens daquele período, idolatro pelo público e enlouquecendo a mulherada. Dessa vez, porém, o protagonista da trama não caiu nas graças de todo mundo e a visão foi praticamente oposta do que havia ocorrido da primeira vez. O homem de preto foi tratado como um canalha egoísta e que maltratava suas duas mulheres.
Na visão de parcela importante da audiência, o personagem não dava o devido valor nem a Marta e muito menos a Ísis e foi descrito, durante muitos capítulos, nas redes sociais, como o famigerado boy lixo, acabando por ser rejeitado.
Como o mundo mudou, a reprise de Império acabou sofrendo com a mudança no humor das pessoas e a rejeição foi refletida nos índices de audiência, que fechou com 27,4 pontos, um dos piores números de toda a história da faixa das 21h.
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