Publicado em 18/09/2021 às 08:17:00,
atualizado em 18/09/2021 às 18:28:30
Em 17 de setembro de 1996, ia ao ar na extinta TV Manchete (1983-1999) a novela Xica da Silva, com autoria de Walcyr Carrasco, o que só se descobriu meses tempos. O autor tinha contrato com o SBT e não poderia ter escrito uma novela na concorrente, mas a falta de espaço no canal de Silvio Santos fez com que ele tomasse essa atitude inusitada, o que acabou lhe rendendo frutos depois.
Xica da Silva estreou cerca de mistério. Afinal, quem era Adamo Angel? O pseudônimo utilizado por Carrasco despertava a curiosidade do elenco e jornalistas. O diretor Walter Avancini (1935-2001) apenas despistava dizendo que ele simplesmente não queria aparecer. A Manchete endossava o coro e mentiu ao afirmar que Angel era um historiador e escritor de livros esotéricos.
A qualidade do roteiro fez com que o elenco questionasse o verdadeiro autor. Muitos apostavam que se tratava de Dias Gomes, algum medalhão da Globo ou até Paulo Coelho. A trama era ficcional e se desenvolvia a partir de um fato histórico: o encontro entre Xica e o contratador João Fernandes, personagens que existiram e viveram um grande amor em meados do século 18, no estado de Minas Gerais. Comentava-se que eles teriam vivido por 14 anos juntos e tido 12 filhos.
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Conforme os capítulos foram se passando, e Xica da Silva foi se transformando no maior sucesso da Manchete desde Pantanal, muito se especulou. "É um historiador paulista, tem dois livros de esoterismo. Mas acha que não é hora de aparecer", insistia Avancini numa entrevista ao Jornal do Brasil em outubro de 96.
Segundo o diretor, a sinopse da novela havia sido enviada há dois anos para a emissora. Li, gostei e o chamei para conversar. A gente conversa todo dia por telefone. O texto é muito bom e quase nunca precisa ser alterado. Por isso vale a pena correr o risco quando surge um novo autor", contava ele, dizendo ainda que os textos chegavam no Rio de Janeiro via Sedex.
Numa entrevista curiosa ao jornal O Globo em novembro de 96, Adamo Angel respondeu se era ou não contratado de alguma emissora. A entrevista foi feita via fax. "Essa pergunta só pode ter uma resposta: não. Se fosse contratado de outra rede, seria obrigado a dizer não. Se não fosse, também".
Carrasco, sob anonimato, relatou como escrevia Xica da Silva: "Possuo um colaborador, o escritor José de Carvalho. Meu processo de criação é, fundamentalmente, a partir de meditações. Coloco uma música, geralmente new age, deito e fecho os olhos. Deixo as imagens de Xica passarem diante de mim. Depois, levanto e dou continuidade à história".
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Antes da novela terminar, em abril de 1997, Carrasco revelou que era o autor da novela. Ele explicou em entrevista coletiva que o impeditivo de revelar quem era foi o fato de atuar no SBT como assessor de dramaturgia. E não houve multa. Pelo contrário: ele teria que escrever novelas para a emissora nos dois anos de contrato restantes.
"Me realizo e no ato de escrever. Pessoas de sucesso, no cotidiano, são muito chatas. Além do mais, ouvia as pessoas falarem bem de Xica... perto de mim", justificou, acrescentando que apenas Avancini, dois diretores da Manchete e outros quatro amigos sabiam do segredo. "Nem minha mãe sabia", surpreendeu.
Carrasco chamou o dono do SBT de "cavalheiro" e admitiu: "Burlar o assédio da imprensa e a curiosidade do público durante todos esses meses não foi tarefa fácil. Mas, fui poupado de atores pedindo para aumentar seus papéis". Terminava ali o mistério, após mais de seis meses, sobre quem era o autor de Xica da Silva.
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