Publicado em 20/08/2020 às 17:41:00
Fábio Porchat é um dos principais nomes do humor na televisão e, principalmente, na internet. Um dos criadores do Porta dos Fundos e apresentador das atrações como Papo de Segunda e Que História é Essa, Porchat?, ele afirma que fazer comédia é uma atitude política. O artista também defende que os conteúdos humorísticos evitem incitar o ódio.
Ele relembrou que o Porta dos Fundos foi atacado por causa do episódio de Natal exibido na Netflix. Extremistas jogaram duas bombas na sede da produtora no ano passado, assustando os integrantes do grupo.
“Hoje em dia, fazer comédia é político. Foi fazendo comédia que jogaram duas bombas na minha produtora. Houve um atentado terrorista fazendo comédia. Comédia é um negócio sério, é tão sério que as pessoas se ofendem”, afirmou Porchat em entrevista para a revista Quem.
O roteirista ressaltou que ele procura fazer produções que levem as pessoas a refletirem sobre temas sociais. “A gente já fez parceria com a ONU, já fez vídeo sobre racismo, sobre machismo, sobre religião, gente maluca religiosa. A gente já fez piada com tudo. Tem piada até com terrorista muçulmano. Quando falaram assim: ‘Ah, mas você fez um vídeo de Jesus gay’. Cara, eu já fiz um vídeo sendo um terrorista muçulmano gay. Não tive problema com ninguém”, explicou.
Porchat ainda relembrou que já fez brincadeiras com todos os grupos. “A gente já fez piada sacaneando ateu, já brincou com todos lados, de todos os jeitos, e de todas as formas. Sempre levando muito a sério essa coisa de bater no opressor, e não no oprimido. De rir de quem bate, e não de quem apanha. Quem apanha está cansado, já. Está perdendo essa luta, precisa de aliado, de gente que indique a maluquice do opressor. A graça não é ver o negro apanhando, é ver o dono do Klu Klux Klan se ferrando”, acrescentou.
“Não existe sagrado para o humor. O sagrado é sagrado, porque a partir do momento que a coisa fica sagrada, ela vira lei e fica intocável e vira um monstro que vai se voltar contra você. A gente precisa poder falar do que a gente quiser. Mais uma vez: Não é incitando o ódio, a violência, disseminando preconceito. Quando falo de religião e brinco com isso, não entro na igreja, abro a porta e impeço um padre de falar. Não fico rindo da cara do crente que está no culto dele. Não chuto a santa, não vou a um terreiro e prejudico. Isso é crime. Estou falando de rir, de brincar, de ter uma outra visão sobre o assunto. A gente tem que poder rir de tudo justamente para não fazer com que as coisas virem monstros”, completou.
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O apresentador acredita que é preciso que todos tenham liberdade para falar de todos os assuntos, mesmo que não haja graça em determinadas piadas. Ele acredita que definir o que pode ou não poder falar é perigoso.
“A democracia é difícil, porque a gente tem que defender quem a gente odeia. Essa é a lição. O problema é falar ‘não pode’. E rola muito isso no Brasil, e isso é perigoso. A gente tem que deixar acontecer. Pode fazer piada com preto, com gay, com branco, com mulher, com aleijado, com todo mundo. O negócio é: 'Que tipo de piada você quer fazer? De que lado você está nessa luta? Que tipo de artista você é e que tipo de olhar tem sobre a sociedade?'”, finalizou.
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