Publicado em 09/10/2022 às 10:00:00,
atualizado em 09/10/2022 às 13:25:39
Como aconteceu em Avenida Brasil (2012) é provável que a crítica enxergue Pantanal sob o prisma das potências que ganharam o coração do telespectador pela força narrativa. O arco dramático das personagens de Isabel Teixeira e de Juliana Paes fizeram com que as atrizes brilharem, mas como há dez, novamente uma novela se sustenta graças à milimétrica composição de um ator: Murilo Benício.
Fazendo um paralelo com o fenômeno de João Emanuel Carneiro, nas duas obras os personagens de Benício eram os mais difíceis. Em Avenida Brasil, Tufão era só um receptor da narração e não gerava conflitos, só os recebia, papel normalmente impossível de se fazer algo louvável para o ator, não para ele. O próprio novelista já disse mais de uma vez que, embora Adriana Esteves tenha sido um fenômeno, quem sustentou a trama foi o ator. Agora ele repete a dose.
Em Pantanal foram muitos os arcos dramáticos que permitiram um elenco afiadíssimo brilhar. É raro quando se entrega tantas boas oportunidades e todo mundo aproveita. É possível destacar Isabel Teixeira e Juliana Paes, mas não se pode ignorar o trabalho de Leandro Lima, Juliano Cazarré ou Aline Borges. Seria injustiça não citar Silvero Pereira, Karine Teles, Gabriel Sater e Camila Pitanga. O mundo teria que parar se o texto não lembrasse de nomes como José Loreto, Dira Paes, Osmar Prado, Irandhir Santos ou Marcos Palmeira. Isso sem falar em uma Alanis Guillen em estado de graça ao transformar Juma em fenômeno pop.
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O elenco brilho e isso é um fato. Mas tudo isso graças a Murilo Benício. O ator teve o personagem mais complicado por ser um vilão capaz das maiores desumanidades e seguiu um caminho impensável, o transformou em humano. Seria muito mais fácil assistir Pantanal se Tenório fosse a versão masculina de Flora (Patrícia Pillar), em A Favorita. Ele não era um psicopata, não na forma. As ondas de sentimentos, com direito a choro ao ouvir a música que contava a história trágica de sua família, ou a emoção ao ouvir o choro do neto, fizeram o inimaginável. O público torcia e se compadecia por Tenório.
Não porque vivemos num país conservador e até reacionário - isso é um fato, mas em novelas torcemos pelos heróis. Tudo se deve a Tenório. A generosidade de Murilo Benício que não quis roubar as cenas quando os colegas precisavam brilhar é um fato que não cabe discussão. Mas sua capacidade de fazer a roda girar e a história dramática se construir, sustentando-se em apenas um personagem é de causar inveja. Todo mundo dentro da novela odiava Tenório, mas ao público era impossível compartilhar do mesmo sentimento.
Um vilão humanizado é uma frase recorrente no folhetim. Mas poucos atores conseguem experimentar isso. Só lembrar que o fazendeiro levou os telespectadores às lágrimas com o nascimento do filho de Marcelo (Lucas Leto) e Guta (Julia Dalavia) dias depois de ter participado de uma das sequências mais fortes da história da dramaturgia: o estupro de Alcides diante de Bruaca. E ninguém ousou dizer que tratava-se de um choro fingido.
Murilo Benício provavelmente não vai ser o destaque de Pantanal nas premiações, mas se a novela foi um sucesso de elenco, quase todo mundo deve uma pontinha disso a ele.
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