Publicado em 14/03/2021 às 08:59:00
As Filhas de Eva é dramaturgia de primeira qualidade e aqui não cabe discussão e os exemplos que provam a afirmação não são poucos, desde Renata Sorrah em um de seus melhores trabalhos nos últimos anos, até a composição detalhada de Giovanna Antonelli e de Dan Stulbach e que os colocam na disputa pelo mais importante trabalho de composição de 2021. Porém, a série de Adriana Falcão, Jô Abdu, Martha Mendonça e Nelito Fernandes e com direção artística de Leonardo Nogueira, comete o mesmo erro de toda produção brasileira que tenta mostrar mulheres como heroínas: tratar homens como vilões.
É sempre bom começar um texto analítico falando dos pontos fortes para não dar a sensação de que a série não vale a pena, e essa vale cada minuto! O roteiro denso, inteligente e muito leve chama a atenção e dá frescor para a dramaturgia brasileira, tão carregada nas tintas do melodrama nos últimos tempos, como se não existissem outras opções narrativas. As Filhas de Eva acerta ao fugir do dramalhão ou até do folhetim e experimentar leveza que, em certos momentos, lembra o texto afiado de A Grande Família em seu auge.
A escolha milimetricamente pensada de elenco vale um parágrafo específico. Dificilmente se vê nomes tão fortes de nossa dramaturgia reunidos em produção que não seja uma novela. Renata Sorrah, eternizada por papéis melodramáticos fortes como Helena Roitman (Vale Tudo, 1988) e Nazaré Tedesco (Senhora do Destino, 2005), vai muito bem como uma mulher milionária que se descobre infeliz no dia da festa de bodas, completando 50 anos de casamento, e ali, com centenas de convidados, pede o divórcio, entrando em pé de guerra com o marido, que quer lhe deixar sem nada.
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Renata mudou o jeito de interpretar e desceu muito, utilizando o rosto para dar vida à sua mulher amargurada e que comete peripécias, como ir a um bordel na busca de uma puta que roubou um quadro milionário. O bom humor da personagem é outro ponto alto e que permite a ela brincar com o tempo de humor exclusivamente por meio do texto.
Quem está acompanhando Laços de Família, Mulheres Apaixonadas e, até a última sexta-feira (12), A Força do Querer, pôde ver o estilo de interpretação de Giovanna Antonelli e Dan Stulbach. Esqueça tudo isso ao sintonizar o Globoplay para assistir aos 12 episódios da primeira temporada de As Filhas de Eva, ali eles são outras pessoas.
Dan mostra toda a sua versatilidade ao interpretar um homem egoísta e que projeta a carreira na inveja que sente da esposa ao mesmo tempo que se sente sufocado pelo comportamento dela, já que os dois dividem a mesma profissão, são psicólogos. O tipo macho escroto, que trai a mulher sem pensar duas vezes e diz a amante que é solteiro, mas absolutamente charmoso e humano, impossível odiar.
Já Giovanna faz uma mulher que tenta sequestrar o marido para uma lua de mel, não permite que ninguém entre em casa usando calçados e até destrói o automóvel quando está com raiva, completamente descontrolada. Mas Giovanna foge de seu principal estilo de interpretar, cheio de caras, bocas e berros. Aqui, ela está centrada, falando baixo, sem muitos movimentos, o que a coloca em um de seus melhores trabalhos.
Em As Filhas de Eva, a direção vai muito bem ao trabalhar profundamente com o elenco e dar a oportunidade de que todo mundo saia de sua zona de conforto, como já mostrado aqui. Mas também acerta muito com a escolha de posicionamento de câmeras, muito longe do lugar comum e que busca inspiração em séries gringas, como Breaking Bad, Better Call Saul e The Marvelous Mrs Maisel, com direito até a um plano sequência incrível no primeiro episódio.
O único senão do ótimo trabalho de Leonardo Nogueira como diretor artístico é a escolha da trilha sonora. Ao colocar apenas músicas internacionais, inclusive quando os personagens andam pelas ruas do Rio de Janeiro, fica uma sensação estranha de que a produção foi feita para atrair apenas o público de outro país.
O grande erro de As Filhas de Eva, no entanto, é a forma dicotômica que os autores brasileiros insistem em tratar a libertação feminina, em pleno século XXI. Como outras novelas e séries, a trama aqui escorrega quando tenta mostrar mulheres independentes e fortes, mas que para isso, precisam enfrentar vilões de desenho animado na pele de homens malvadões e sem piedade.
As três mulheres que protagonizam a história são cercadas apenas por machos escrotos e que não são apenas infiéis, mas que cometem crimes e se mostram vilões pérfidos do nível de folhetim barato. Não precisava de nada disso para a narrativa funcionar, uma pena.
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