Opinião

Globo ainda amarga consequências pelo fim de Malhação

Novela destinada ao público mais jovem ficou 27 anos no ar

Cauã Reymond, Marjorie Estiano e Caio Castro foram revelados na Malhação - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Silvio Cerceau

Publicado em 14/05/2024 às 06:54:44,
atualizado em 27/05/2024 às 10:08:43

Malhação estreou em abril de 1995 e sua última temporada foi ao ar em abril de 2020. Seus criadores, Emanuel Jacobina e Andréa Maltarolli, ofereceram um produto original, um folhetim com ares de juventude que se tornou a novela mais longa da TV brasileira, tendo como protagonista a locação que levava o título da trama. Ao longo das diversas temporadas, tratou questões delicadas e peculiares do universo jovem. Abordou temas como diversidade, ISTs, gravidez na adolescência, bullying e tantos outros que vemos ao nosso redor diariamente.

Na minha opinião, a Globo, ao encerrar esse produto, fez uma economia barata e perdeu muito. Foi um erro tirar Malhação do ar. A novela, que teve dezenas de autores e muitos atores e atrizes iniciantes, servia como uma oficina para a formação desses artistas. Após serem selecionados na oficina de atores da Globo, iam para o estágio que era a novela teen.

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Quantos talentos saíram de Malhação e hoje são destaques. No time masculino, cito Caio Castro e Cauã Reymond. Esses dois, quando chegaram aos horários tradicionais, inclusive o mais nobre, já não eram desconhecidos e já tinham ganhado a simpatia do público. André Marques também surgiu em Malhação e se tornou depois um apresentador cativo do público com uma carreira de sucesso enquanto esteve na emissora.

No time feminino, Marjorie Estiano ficou conhecida em Malhação e logo migrou para o horário nobre, primeiro em Páginas da Vida (2006), novela de Manoel Carlos, e depois como protagonista de Duas Caras (2007), obra de Aguinaldo Silva. Sophie Charlotte também começou sua saga em Malhação e hoje é uma atriz de destaque. Eu poderia citar aqui dezenas de atores e atrizes que tiveram sua primeira aparição na trama teen da Globo, mas iria me estender muito.

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No grupo de roteiristas, muitos autores que hoje estão na linha de frente das novelas passaram por Malhação e assim puderam aperfeiçoar a arte de criar e escrever uma novela. Veteranos que estavam afastados voltaram a atuar nas diversas temporadas e assim o público conseguiu matar saudades dos seus ídolos, ativava a memória afetiva e dava oportunidade a esses profissionais de viverem da sua arte.

Malhação faz muita falta na TV. Sua temporada que iria ao ar em 2021, após a pandemia, entrou em pré-produção e, inesperadamente, foi cancelada. A Globo alegou na época que o fim do produto se deu por causa da audiência rotativa e que isso atrapalhava a grade noturna. Não creio nisso, talvez seja mais em conta colocar uma reprise que dá os mesmos números no Ibope do que produzir algo novo.

Entre tantas consequências desse fim, destaco a dificuldade de encontrar rostos novos para protagonizar as novelas das seis, sete e nove. Esses rostos, quando surgem, são rejeitados e acabam desagradando e afastando o público, algo perigoso, pois reflete exclusivamente na audiência que não anda nada bem em nenhum dos horários.

Malhação ficou 27 anos no ar e abria as portas para o público mais jovem se familiarizar com a dramaturgia na TV aberta. Atualmente, fisgar essa parcela mais juvenil do telespectador é o grande desafio da Globo.

Assista à 1ª abertura de Malhação (1995):



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