Publicado em 24/04/2024 às 06:54:00,
atualizado em 24/04/2024 às 12:41:18
Paraíso Tropical está longe de ser a melhor novela do autor Gilberto Braga (1945-2021), que assinou a trama em parceria com Ricardo Linhares. Se comparada a clássicos como Dancin’ Days (1978) e Vale Tudo (1988), o atual cartaz do Vale a Pena Ver de Novo fica devendo. Contudo, numa avaliação isolada e alheia à obra do escritor, vale a reprise.
A cena da reconciliação entre Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura), que foi ao ar na terça-feira (23), expõe o que a novela tem de melhor. Na declaração de amor, o vilão crava: “Você é a cachorra mais burra aqui desse calçadão… Porque só você não viu ainda que eu amo você também, sua cachorra, sua piranha, sua bandida!”.
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Os amantes roubaram a cena quando a novela foi ao ar pela primeira vez, em 2007, e seguem sendo a grande atração do folhetim 17 anos depois. Os atores, além dos comprovados talentos, esbanjam química ao encarnar aquilo que era a especialidade do autor: criar tipos controversos, sem caráter e, por esses mesmos motivos, irresistíveis.
Essa qualidade também revela o pior defeito do texto. Os protagonistas, Daniel (Fábio Assunção) e Paula (Alessandra Negrini), talvez sejam as figuras menos carismáticas de toda a novela. Bonzinhos a todo tempo, certinhos demais, é como se suas únicas características fossem ser éticos, sem qualquer falha que gere identificação ou simpatia.
O casal principal é bem menos interessante que Antenor (Tony Ramos) e Lúcia (Gloria Pires), por exemplo. O empresário tem desvios de caráter, enquanto a empreendedora é voluntariosa e desmedida em suas reações. Há ainda Joana (Fernanda Machado), que faz as vezes de mocinha paralela à trama central e se permite alguns desacertos, como trabalhar como prostituta.
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Falta nos mocinhos o sangue que corre nas veias dos coadjuvantes, algo que se repetiu, em maior ou menor grau, em toda a obra de Gilberto Braga. Ressalta-se sua capacidade de criar boas personagens femininas, como a trambiqueira Marion (Vera Holtz), a dona de casa conservadora Dinorá (Isabela Garcia) e a arrivista Nely (Beth Goulart), que se redime na reta final.
A trama das gêmeas rivais soa batida – ainda mais quando reprisada ao mesmo tempo que Mulheres de Areia (1993), exibida até março. A troca de identidades entre as irmãs serve apenas para dar ritmo à narrativa e em pouco interfere no desenrolar da trama. É apenas mais um plano da Taís (Alessandra Negrini) que precede a morte misteriosa da vilã na reta final.
Dirigida por Dennis Carvalho, Paraíso Tropical demora alguns meses a engrenar e, não por acaso, tem seus melhores momentos quando Daniel e Paula deixam de ser o foco principal. Um dos melhores entrechos é quando Bebel decide arruinar o casamento de Olavo, fazendo o amante ser flagrado traindo a noiva no dia da cerimônia.
O desfecho da novela tem um dos melhores plot twists da história recente da TV brasileira. A identidade do assassino de Taís não é lá tão surpreendente, mas o motivo do crime, que envolve um grande segredo, garante o impacto do gran finale.
Tipos como Taís, mas principalmente Bebel e Olavo, continuam sendo o grande trunfo da novela, que se firma nas qualidades habituais do universo criativo do autor, dos vilões charmosos às tramas de suspense imbricadas. A reprise, surpreendente e repentina após quase 20 anos da exibição original, mostra que até as mais medianas das criações de Gilberto Braga ainda merecem uma atenção.
A reprise de Paraíso Tropical termina em 3 de maio no Vale a Pena Ver de Novo, nas tardes da Globo. A trama será substituída por Alma Gêmea (2005), que volta ao ar na próxima segunda-feira, 29 de abril.
Assista à abertura de Paraíso Tropical:
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