Publicado em 03/12/2019 às 05:53:00
Uma sequência de postagens no Twitter, em que o internauta Eduardo Hanzo narrava a longeva rivalidade entre sua avó e uma vizinha, inspirou a série Eu, a Vó e a Boi. A ideia de levar a “thread” para a ficção partiu da novelista Glória Perez, que direcionou o projeto a Miguel Falabella. Com apenas seis episódios, a produção estreou na última sexta-feira (29), no Globoplay.
Eu, a Vó e a Boi narra as desavenças entre Turandot (Arlete Salles) e Yolanda, a Boi (Vera Holtz), que moram frente a frente. A história, contada sob o ponto de vista do neto das duas, Robilou (Daniel Rangel), é definida pelo garoto como “as crônicas do rancor”.
O ódio recíproco é o sentimento mais intenso na vida das duas senhoras. Viúvas e aposentadas, elas usam todo o tempo livre para acirrar a guerra declarada há várias décadas. Tanto que contaminam a todos, desde familiares aos demais que vivem da rua Tudor Afogado.
Presidente da associação de moradores, Yolanda se recusa a iniciar as obras para o tapar um valão, que cresce a cada dia bem em frente à casa da inimiga. Turandot, por sua vez, deu à rival o apelido de “boi”, por considerar “vaca” um xingamento muito machista.
A rivalidade entre elas só cresceu quando Norma (Danielle Winits), filha de Turandot, se casou com Montgomerry (Marco Luque), filho da Boi. Da união, nasceu Robilou e o caçula Matdilou (Matheus Braga). Turandot também é mãe de Celeste (Giovana Zotti), que vive um noivado eterno com Cabello (Edgar Bustamante), o dono de uma pizzaria cujo principal ingrediente costuma ser fios capilares do cozinheiro.
Já no clã da Boi vive Marlon (Magno Bandarz), um boa-vida que é sustentado pela juíza Belize (Eliana Rocha), de 75 anos. A vizinhança conta ainda com Orlando (Otávio Augusto), dono de um relicário e guardião de vários segredos, e Demimur (Valentina Bulc), amiga de infância de Robilou que volta para balançar seu coração.
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Com dinamismo, a direção artística de Paulo Silvestrini faz um bom casamento com o texto de Miguel Falabella. A fotografia de Dudu Miranda emprega tons escuros à história que, apesar de cômica, trata de sentimentos sombrios como ódio, rancor e amargura.
Como em outros trabalhos, o autor imprime lirismo a diversas passagens. Um destaque é a cena em que a detetive Seu Rocha (Alessandra Maestrini) se revela soprano e entoa O Mio Babbino Caro, de Puccini, chamando atenção de toda a vizinhança. A produção também se mostra eficiente na bonita sequência em que Rocha ganha um beijo de Norma nos bastidores de sua primeira apresentação.
Outro bom momento, divertido, é o duelo entre as protagonistas rivais com mangueiras de regar planta, no melhor estilo bang bang, com direito a trilha de faroeste ao fundo.
Falabella também gosta de fazer de suas tramas um desfile de nomes exóticos: Matdilou, Demimur e Ardósia Rocha são alguns deles. Se esse filão ainda faz rir, certas piadas e personagens que também trazem a marca do autor já não soam naturais como outrora. Por vezes, parece que Falabella aposta em um simples festival de bizarrices, sem perceber que isso, por si só, não é suficiente para manter interesse em sua nova criação.
Não orna com a trama principal, não diverte e nada acrescenta à série o envolvimento entre Matdilou, adolescente de 17 anos, e Mary Tyler (Stella Miranda), uma senhora que quer ser garotinha. Há também personagens sem grande função, como a venezuelana Milagros (Paula Cohen). Essas e outras figuras fazem com que a narrativa se desvie do foco principal.
O autor também tenta repetir fórmulas que já deram certo em sua biografia. Prova principal desse artifício é Norma, vivida por Danielle Winits. Na personagem, há muito de Copélia (Arlete Salles), de Toma Lá Dá Cá, e Darlene (Marília Pêra), de Pé na Cova. Sem, é claro, o frescor e a graça que as duas irrepreensíveis veteranas traziam a esses papéis.
Para agravar o problema, Winits repete voz e trejeitos de outros de seus trabalhos na TV e no cinema. O elenco, de forma geral, deixa a desejar. Tanto que, à medida em que certos coadjuvantes vão ganhando destaque, a atuação de Winits parece ser o menor dos problemas.
A (única) grata surpresa fica por conta de Giovana Zotti, estreante em teledramaturgia. Sua atuação tragicômica como Celeste, a filha de Turandot que completa “bodas de prata de noivado”, se destaca entre os coadjuvantes. Uma pena que a trajetória da personagem caia na armadilha da personagem que “altera” sua orientação sexual por pura carência e desilusão amorosa.
O melhor da série fica mesmo por conta de Arlete Salles, Vera Holtz e das armações de suas personagens para prejudicar uma à outra. Boi, por exemplo, em vez de socorrer a vizinha, grava os gritos de dor de Turandot quando ela sofre um acidente doméstico. Já Turandot vai à forra cortando a energia da casa da rival quando Boi precisa respirar com ajuda de aparelhos.
Não à toa, são justamente esses os entrechos inspirados pela thread de Eduardo Hanzo, o que prova que a ideia de levar a história para a dramaturgia foi acertada. Carecia, contudo, de maior crivo, cuidado e criatividade na hora de acrescentar tramas e personagens paralelos a esse fio condutor.
Por fim, Eu, a Vó e a Boi deixa seu recado a um Brasil que, assim como Turandot e Boi, tem sido dominado por uma implacável onda de ódio e intolerância. Pouco a pouco, o sentimento entre as protagonistas destrói tudo que está à volta. Com uma eficaz analogia na cena final, conseguimos nos ver à beira de um valão, tal qual os moradores da rua Tudor Afogado.
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