Fora da TV, Chapolin completa 50 anos; conheça bastidores da série
Lançada em 1970, foi a primeira série mexicana exportada pela Televisa
Publicado em 19/11/2020 às 04:27
Mesmo fora do ar, ele ainda é o herói da América Latina mais conhecido no mundo. Chapolin Colorado, criação do comediante Roberto Gómez Bolaños (1929-2014), completa 50 anos de sua primeira aparição na TV como um ícone pop e primeira atração mexicana a conquistar o mundo além das novelas.
Embora tenha começado em 1970, nem mesmo o Grupo Chespirito, que administra o legado artístico de Bolaños, sabe dizer com precisão em qual data estreou o herói atrapalhado e equipado com anteninhas de vinil e marreta biônica. Fãs de Chaves e Chapolin que compram guias de programação da TV mexicana dos anos 70 identificaram o primeiro registro do personagem: 3 de dezembro de 1970.
Chapolin começou como um quadro do programa Chespirito para substituir La Mesa Cuadrada. Segundo conta em sua autobiografia, Sin querer Queriendo: Memorias (2006), Bolaños precisou cancelar o humorístico após fazer piada com um cineasta que, entre a gravação do programa e sua exibição, cometeu um assassinato.
"Dizem que as adversidades podem ser produtivas. Creio que sim, porque como consequência de ter sofrido aquela adversidade (o cancelamento de La Mesa Cuadrada) surgiu a necessidade de criar algo novo que substituísse aquele esquete. Foi quando me lembrei daquele personagem que havia sido recusado por muitos comediantes: o Chapolin Colorado", escreveu Bolaños, que decidiu interpretar o papel.
"Chapulín" é uma espécie de gafanhoto muito apreciada pelos mexicanos, que comem o inseto frito ou refogado em diversos pratos. Bolaños teve a ideia de representar o personagem como um ser pequeno e quase inofensivo, o que Chapolin costuma aparentar nos episódios. Fraco, o herói assume ser medroso, porém enfrenta seus medos e muitas vezes consegue superá-los.
Torcida uniformizada Chapolins Brasileiros, em 2016 - Foto: Reprodução/Instagram
Chapolin "verde"
O primeiro uniforme de Chapolin foi confeccionado pela então mulher de Chespirito, Graciela Fernández, e só foi vermelho porque não havia tecidos disponíveis na cor pretendida pelo comediante: verde. Por muito pouco, a roupa do herói não se assemelhou à da torcida brasileira que fez sucesso nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, vestida como o personagem, mas com as cores da bandeira nacional.
"Inicialmente, eu havia colocado outro 'sobrenome' ao personagem, porque eu pensava chamá-lo de Chapolin Justiceiro. Mas depois de ter desenhado o uniforme apropriado, tive um inconveniente: a cor da roupa. Porque eu tinha decidido que seria verde. Apesar disso, as peças que seriam parte fundamental do traje só encontrei facilmente em quatro cores: preto (muito fúnebre), branco (muito reflexo para a iluminação da TV), azul (inapropriado para os truques de chroma key que já planejava utilizar), e vermelho (que também apresentaria problemas técnicos, mas até então não sabia). De maneira que, por eliminação, o personagem teria que usar um uniforme vermelho", contou Bolaños em sua autobiografia.
Sucesso instantâneo
Os primeiros quadros de Chapolin, ainda dentro do programa Chespirito, tinham entre sete e oito minutos de duração. O mais antigo que se tem registro é O Marciano, que mais tarde ganhou outras versões conhecidas do público brasileiro. O êxito do personagem, afirmou Bolaños, foi instantâneo.
"O que eu jamais imaginaria era o sucesso imediato que meu personagem obteve, porque havia passado duas ou três semanas após a estreia e as pessoas já repetiam 'não contavam com minha astúcia' cada vez que encontravam o momento propício para isso (e encontravam a cada instante). Chapolin pronunciou a frase desde o primeiro programa em que apareceu. Logo iria acrescentando outras muitas frases que não apenas passaram a formar parte do vocabulário do público, mas também chegaram a ser usadas em caricaturas de personagens políticos e até na propaganda deles próprios", contou o comediante.
Apesar do figurino e cenário toscos, o programa elevou a audiência da TIM (Televisión Independiente de México) e, ao lado de Chaves, ganhou horário próprio em 1973, com episódios de 30 minutos, quando a emissora uniu-se ao Telesistema Mexicano, formando a rede Televisa.
Chapolin foi um dos primeiros programas mexicanos exportados para o resto do mundo e abriu as portas para outros produtos locais, como as famosas telenovelas. O herói foi exibido em mais de 100 países e traduzido para mais de 50 idiomas.
Despedida de Chapolin e saída da TV
Bolaños decidiu terminar com Chapolin em 1979 após se machucar de verdade em uma cena em que atrapalhava uma construção e cortou o supercílio ao tropeçar em uma parte do cenário. Nos episódios seguintes, usou um tapa-olho igual ao de um pirata para esconder os pontos no rosto. O comediante, na época com 50 anos, achou arriscado continuar interpretando o herói e decidiu encerrar o programa.
Semanas após o acidente, Bolaños gravou o episódio de despedida de Chapolin, em que relembra momentos da série com os atores interpretando eles mesmos. No final, Bolaños, vestido de Chapolin, agradeceu à equipe técnica e todo o elenco, inclusive Carlos Villagrán e Ramón Valdés, que tinham deixado o programa. Apesar de ter anunciado o fim do personagem, Bolaños voltou a gravar em 1980, dentro do programa Chespirito, até 1992.
Desde agosto deste ano, Chapolin e Chaves não são exibidos por nenhuma emissora de TV, fato inédito desde a estreia do humorístico, em 1970. O contrato firmado entre Roberto Gómez Bolaños e Televisa expirou e não foi renovado, e por isso todos canais pelo mundo que negociaram com a rede mexicana tiveram que tirar as séries do ar, incluindo o SBT, que estreou Chapolin em 20 de agosto de 1984, dentro do programa TV Powww!.