Opinião

A sociedade está naufragada no fundo do poço

Mundo acompanha de perto o drama dos bilionários


Submarino naufragado
Submarino virou um reality show - Foto: Reprodução/Internet

 

Sério mesmo que nos dias atuais nós estamos sendo obrigados a acompanhar o perrengue dos bilionários num submarino que parece que foi feito no fundo de casa em Pereira Barreto (interior de São Paulo)? Pior, eles pagaram uma fortuna para colocarem a própria vida em risco, e pra quê? Ver os destroços do navio Titanic que naufragou milhares de vezes nas nossas telas, através de uma janelinha tosca?

Ora, vale lembrar que existem inúmeras e maravilhosas filmagens do Titanic, com nitidez Full HD, feitas por equipes treinadas, multiprofissionais de todo mundo, e é óbvio que esses milionários podiam estar assistindo tudo no aconchego dos seus cinemas particulares, certamente existentes em suas casas.

Mas o incrível é que essa aventura aparentemente fracassada ganhou cobertura midiática atingindo patamares estelares. E tudo indica, lógico, que a curiosidade que emerge dessa situação teria dado margem a isso. Afinal, como esses seres, até então, iluminados, tiveram coragem de entrar num tubo de pasta de dentes gigante, operado por um joystick?

Sem dúvida, muitos sabem que a situação é dramática, mas enquanto se supõe que eles ainda estão vivos, uma coisa é fato: ter-se-á a certeza de que ninguém seria capaz de competir com eles ao prêmio de quem consegue fazer algo tão estupido. Próximo a isso, num exemplo mais próximo a nós, só o padre brasileiro que resolveu voar com balões de festa e morreu. Por outro lado, ligados nos fatos, mas menos interessados, há aqueles que dizem sem pestanejar: “Toma, acha que pode tudo porque tem dinheiro!”; “Rico assim tem que se ferrar, tanta gente o passando fome no mundo e eles gastando fortuna com bobagem”.

E nessa toada, sobrou, claro, adivinha para quem? Para nada mais, nada menos que a imprensa. Sim, pois é impossível não lembrar de naufrágios recentes, com centenas de refugiados tentando fugir do seu país de origem e mortos por se arriscarem em mar aberto, não para viverem uma aventura radical a 4 mil e 500 metros de profundidade, mas para fugirem da fome e da perseguição étnica ou política. E ao lembrar desses naufrágios, não há como não criticar a imprensa que é extremamente elitista, pois naufrágio de refugiados, mortos aos montes, mal ganham espaço nos noticiários, que dirá manchete na imprensa nacional. Já o “submarino” dos ricos ganha cobertura com opinião de especialistas, com infográfico, vários minutos nos telejornais, muitas páginas em portais de notícias. Enfim, essa realidade é cruel!

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Jamais o ineditismo deveria ser mais importante que vidas humanas, sendo elas quais forem. Nem mesmo a luta contra o tempo. Saber se eles vão viver ou não, não pode ser mais importante do que sabermos se as demais famílias que estão em zonas de guerra pelo mundo, hoje, vão sobreviver a novos bombardeios.

O mundo assistindo calado guerras absurdas ocorrendo em plena luz do dia, como na Ucrânia, Iêmen, Sudão, e por aí vai, mas paralisado por imaginar se todo dinheiro do mundo será suficiente para salvar cinco vidas que, em vida, talvez nunca tenham se preocupado com ele.

Até quando esse tratamento diferente? Por que vidas humanas são tratadas de forma diferente? Uma jovem baleada num condomínio de luxo tem muito mais visibilidade que uma menina baleada numa comunidade pobre. Isso é fato! E esse preconceito se perfaz em razão de cliques de audiência. E isso precisa de um basta. Isso é inaceitável!
Toda vida humana nos importa e deveria nos impactar da mesma forma.

Mas se você pouco se importa com dezenas de refugiados mortos e se interessa por cinco parasitas bilionários e posta nas redes sociais e se interessa apaixonadamente sobre isso para ganhar engajamento, likes etc, a chamada recompensa com boas doses de dopamina, pode ser que o problema não seja só a imprensa mesmo, deva ser essa sociedade que está cada vez mais naufragada no fundo do poço.

Marcos Ferreira é advogado há 23 anos, pós-graduado em Direito Penal e MBA em Gestão Pública

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