Paixão nacional

Em 70 anos, as novelas escreveram uma linda história de sucesso e amor com os brasileiros

Paixão nacional, as novelas mudaram nossos costumes e forma de levar a vida


Juliana Paes caracterizada de Maria da Paz segurando um bolo
A boleira Maria da Paz em A Dona do Pedaço - Reprodução/TV Globo
Por Taty Bruzzi

Publicado em 21/12/2021 às 04:00,
atualizado em 21/12/2021 às 07:40

Camila, que ama Edu, que ama Helena, que por amar os dois resolveu sair de cena. Isso te lembrou alguma coisa? Já estamos acostumados com esses triângulos amorosos há pelo menos 70 anos, tempo que as novelas brasileiras chegaram a essa caixinha mágica que é a televisão.

Com 7 décadas de existência e sucesso - isso porque os folhetins são hoje uma paixão nacional, assim como o futebol -, o NaTelinha não podia deixar a data passar em branco.

Afinal, são meses e meses acompanhando a vida de personagens fictícios, mas com histórias tão reais que acabamos nos identificando com uns, torcendo mais por outros e odiando o restante.

Em 70 anos, as novelas escreveram uma linda história de sucesso e amor com os brasileiros

Tá achando exagero? Então, vamos lá! Quem não se emocionou com o amor de Giuliana e Matteu, apostou no suposto assassino de Odete Roitman ou parou em frente à TV para descobrir o responsável pela explosão do shopping que atire o primeiro controle na próxima vítima.

Para entender um pouquinho melhor o segredo para tanto sucesso saiba que novela vem do termo novelo, levando o telespectador a esperar pelo desenrolar dessa história até o último nó.

Você já deve ter ouvido muito autor ou ator falando que novela é uma obra aberta, e é verdade. Isso porque ela permite ao criador da trama mover as peças desse tabuleiro, quer dizer, dessa história, sempre que achar necessário. 

Em 70 anos, as novelas escreveram uma linda história de sucesso e amor com os brasileiros

Por conta disso, alguém que começou bem na trama, de repente, pode se tornar uma má pessoa. Ou então, aquela personagem que recebeu duras críticas, às vezes pela atuação de seu intérprete, tem destino trágico.

E, ainda, podo ocorrer troca de casais por falta de conexão e simpatia do público de casa. Atualmente, até a recusa de um ator ou atriz em fazer algo previsto anteriormente no roteiro como, por exemplo, um corte de cabelo, pode determinar uma possível represália.

Modelo mexicano serviu de inspiração para as tramas brasileiras

Quando se pensou em trazer para o Brasil histórias televisionadas, o modelo implantado foi o das novelas mexicanas. No início, as principais referências eram as produções argentinas. A linguagem, herdada do rádio, consistia sempre em romances açucarados.

Lançada pela extinta TV Tupi no dia 21 de dezembro de 1951, um ano depois da chegada da televisão aqui no país, Sua Vida me Pertence foi escrita e dirigida por Walter Forster, que fazia também o mocinho da trama, par romântico de Vida Alves.

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Contou apenas com 15 capítulos encenados ao vivo, uma vez por semana cada, sempre no horário das 20h, e com duração de 20 minutos. Com o casal de protagonistas, a novela exibiu o primeiro beijo da televisão brasileira.

Na ocasião, a intérprete da personagem Elizabeth precisou pedir autorização ao marido e, de acordo com sua definição na época, a cena era descrita como um "encostar de lábios". Infelizmente, não se tem registro fotográfico da sequência.

Já o primeiro sucesso a cair na graça do público foi O Direito de Nascer, exibida também pela Tupi, em 1964. Naquela época, o custo era muito alto, obrigando grandes emissoras como a própria, além de Excelsior e Record, a esticarem ao máximo suas produções.

Um exemplo disso foi Redenção, escrita por Raymundo López e exibida pela TV Excelsior. Estrelada por Francisco Cuoco, entrou no ar em 16 de maio de 1966 e seu último capítulo foi exibido em 2 de maio de 1968, totalizando 596 capítulos.

De São Cristóvão ao Marrocos, passando pelo Japão até chegar no Leblon

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Uma das maiores produtoras de telenovelas do mundo, a TV Globo entrou no ar em 1965 para implantar sua "Fábrica de Sonhos" e não parou mais. O primeiro folhetim da emissora carioca foi Ilusões Perdidas, estrelado por Reginaldo Faria, Leila Diniz e Osmar Prado.

Escrita por Enia Petri e com direção de Líbero Miguel e Sérgio Brito, entrou no ar dia 26 de abril de 1965, permanecendo até o dia 30 de julho do mesmo ano, totalizando 56 capítulos.

Curiosamente, em São Paulo a novela era exibido na faixa das 21h, enquanto que no Rio de Janeiro começou a ser transmitida às 19h30, passando para a faixa da 22h depois de um mês no ar. 

Já a primeira produção em cores da emissora dos Marinho foi O Bem-Amada (1973), escrita por Dias Gomes e estrelada por Paulo Gracindo no famoso papel do prefeito corrupto Odorico Paraguaçu e Lima Duarte como um matador de aluguel. Disponível atualmente do catálogo do Globoplay, o folhetim foi também o primeiro a ser exportado para fora do país, sendo exibido em 30 países.

Em 70 anos, as novelas escreveram uma linda história de sucesso e amor com os brasileiros

De lá para cá, foram inúmeros os seus sucessos. De Selva de Pedra (1972) a Escrava Isaura (1976), passando por Roque Santeiro (1985), Vale Tudo (1988) e Renascer (1993), sem se esquecer de Vamp (1991) e Irmãos Coragem (1970).

De acordo com levantamento do Memória Globo, em 57 anos de sua existência a Rede Globo já produziu, e exibiu, 321 novelas. Incluindo, os atuais folhetins inéditos no ar: Nos Tempos do Imperador, Quanto Mais Vida, Melhor, e Um Lugar ao Sol.

Hoje, é possível afirmar que as novelas mudaram os hábitos das pessoas. Estão na forma de falar com bordões como "O pau te acha", Não é brinquedo, não", "Oxente, My God" e Are-Baba", entre tantos outros.

Na forma de se vestir, de preferência com "Catiguria", porque eu não sei você, mas "Eu sou chique, bem", quero muito ouro, "Inshalá", pois aprendi que "Cada mergulho é um flash".. 

Em 70 anos, as novelas escreveram uma linda história de sucesso e amor com os brasileiros

Nos sonhos com aqueles galãs maravilhosos e seus beijos ardentes. Nos vilões que odiamos amar e amamos odiar. Nazaré Tedesco e Carminha estão de prova. Assim como nas trilhas sonoras que bastam tocar para a gente recordar. Quer apostar?

"Levo vida de empreguete eu pego as sete. Fim de semana é salto alto e ver no que vai dar. Um dia compro apartamento viro socialite. Toda boa vou com meu ficante viajar"...

E a gente viaja mesmo. Aprendemos que de São Cristóvão ao Marrocos, passando pelo piscinão de Ramos, é um pulo. Dá até pra curtir uma temporada no Japão e depois voltar para o Leblon. O que é um voo de balão pela Capadócia quando se percorre até o caminho das Índias?

Eu não sei se "a culpa é da Rita", mas brincadeiras à parte, a verdade é uma só: quem fala que não gosta de novela está mentindo. Pode até não acompanhar diariamente, mas para diante da telinha só para ver a revelação do assassino, dar uma espiadinha no casamento da mocinha ou, simplesmente, falar mal da Camila. A propósito, alguém assistiu o capítulo de ontem?

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