Felipe Castanhari admite que não é mais movido por números no YouTube: "Cansei um pouco"
YouTuber lança novo estúdio inspirado em melhorar a entrega dos seus conteúdos para novos públicos, porém, não se exige tanto acerca de números na plataforma
Publicado em 11/08/2022 às 04:00,
atualizado em 11/09/2024 às 21:20
Há mais dez anos no YouTube, Felipe Castanhari não dá mais tanta importância aos números de visualizações que consegue com seu canal Nostalgia. No início de sua carreira na plataforma, o empresário fazia vídeos voltados aos programas que marcaram sua infância e adolescência. No entanto, nos últimos anos, ele optou por se focar em assuntos que o interessam na idade adulta, como história, ciência e política e, por isso, prefere por dar mais importância a qualidade do conteúdo que entrega do que ficar preocupado com a audiência em si.
"Depois de dez anos, eu vou sentir bem sincero, eu cansei um pouco de pensar nisso. Eu não me importo, não olho mais o número de acessos. Eu tenho que ter um nível de responsabilidade nos acessos em relação a quanto aquilo que vai gerar de dinheiro no adsense, pela responsabilidade pela equipe para se pagar. Não dá pra simplesmente não olhar. Mas não era como antigamente em que o próximo mês tinha que crescer mais", explicou ele ao NaTelinha.
Felipe, então, preferiu se especializar em uma fórmula de conteúdo que funciona para seu canal do YouTube: de vídeos mais longos, bem produzidos e com várias pessoas na equipe. De acordo com os temas, que vão de Guerra na Ucrânia até a pandemia de Covid-19, o produtor de conteúdo investe na contratação de novos profissionais para melhorar o resultado apresentado e atrair ainda mais espectadores. Mensalmente, ele investe R$ 60 mil em sua folha de pagamento, porém, há projetos esporádicos que custam por volta de R$ 150 mil.
Um desses investimento, inclusive, foi na construção de um novo cenário para o canal Nostalgia. Agora, os novos vídeos de Castanhari serão apresentados em um estúdio maior e com mais recursos, como: efeitos de luzes, lentes de alta potência, entres outros apetrechos.
Por conta da novidade, Felipe Castanhari concedeu uma entrevista ao NaTelinha em que falou sobre como é possível continuar relevante nas redes sociais e como ele lida com as adversidades na carreira, como episódios de cancelamentos, ou o desafio de atingir a um novo público na Internet que não está acostumado com vídeos longos.
Confira a entrevista com Felipe Castanhari na íntegra:
As pessoas mais jovens gostam muito de conteúdo muito rápido, como o TikTok. Só que você faz um trabalho completamente diferente, seja na animação ou nos documentários, com um conteúdo mais longo. Como você consegue fidelizar esse novo grupo? O novo cenário vem pra ajudar isso também?
Felipe Castanhari - Sim, eu acho que o que eu tiver em minhas mãos, ao meu alcance, [vou fazer] pra tentar pegar essa essa audiência mais nova e independente de idade. Tem muita gente mais velha também usando o TikTok. Está uma febre esses formatos curtos e mais rápidos. Isso virou uma febre no mundo inteiro. Então, a minha ideia é clara. Se eu conseguir 10% de público com uma qualidade de vídeo melhor, com um cenário mais bonito, uma direção de arte, algo que vai brilhar os olhinhos da pessoa, eu já fico feliz. A mudança do cenário também tem a ver com eu me desafiar como profissional, onde eu consigo chegar. Eu sinto que o formato longo do meu canal funciona por conta da atenção que a gente dá a esse roteiro, a edição, que é para ser um vídeo de entretenimento, mais do que um vídeo de educação.
Entendi. Só que a gente também vê na internet que as pessoas não estão gastando tanto dinheiro para fazer os conteúdos mais longos. Então por que fazer esse movimento de investir mais para fazer um conteúdo diferente?
Felipe Castanhari - Eu tenho muita sorte, né? De conseguir me manter relevante durante quase onze anos de YouTube. É sorte, trabalho, uma mistura de vários fatores. Eu fui me adequando muito a plataforma, tive muita sorte do YouTube impulsionar muito os meus vídeos de história com o algoritmo. Ele gosta dos vídeos de história, porque são longos e tem uma retenção grande porque as pessoas voltam no vídeo pra estudar. Então, eu sinto que com essa sorte, eu consegui usar os benefícios e os ganhos desse trabalho para reinvestir nele. Eu poderia estar acomodado, poderia ir pra formato mais fáceis, mais simples, que são mais baratos de se produzir.
Mas eu sempre tive essa questão no meu canal, tipo, de sempre estar passando por alguns problemas financeiros porque todo dinheiro é reinvestido ou utilizado pra pagar a equipe, que é grande, e a gente está sempre querendo aumentar, melhorar, trazer mais profissionais, mais consultores, mais pesquisa, mais ilustradores, melhorar o nível. Acaba que a gente tem que abrir mão de algumas coisas como da periodicidade do canal, porque a gente não consegue fazer vários vídeos por semana.
Quanto, mais ou menos, você investe em cada episódio de história?
Felipe Castanhari - A gente não tem essa contabilização por vídeo porque temos uma equipe fechada mensal. Mas a gente deve ter uns R$ 60 mil reais por mês de investimento em equipe e eventualmente tem alguns vídeos muito caros né? Como a retrospectiva [de final de ano] que já é um projeto bem popular do canal também e não é a mesma equipe que faz. Sou eu que escrevo, faço a letra, eu que canto, mas aí tem um um estúdio e a gente contrata tudo separado.
Após Mundo Mistério, da Netflix, você pensa em fazer uma outra coisa voltada para o streaming novamente?
Felipe Castanhari - Ah, eu estou trabalhando em alguns projetos aí. Eu não posso falar muita coisa, não posso dar ainda vazamentos de nada, mas eu já eu estou trabalhando, sim. O grande tesão agora também na minha carreira é de justamente trabalhar para formatos diferentes da internet, que são menos imediatos. Por mais que eu demore para fazer meus vídeos, é legal você também contar com uma estrutura muito maior e com valor de uma série [como] para a Netflix.
Como é fidelizar seu público para um conteúdo que não tem tanta periodicidade. Você usa suas outras redes sociais para mantê-los interessados?
Felipe Castanhari - Tem duas questões, ou você pode focar seu plano de carreira nos números, nos crescimento do canal, para trazer gente nova. Mas,depois de dez anos, eu vou sentir bem sincero, eu cansei um pouco de pensar nisso. Eu não me importo, não olho mais o número de acessos. Eu tenho que ter um nível de responsabilidade nos acessos em relação a quanto aquilo que vai gerar de dinheiro no Adsense, pela responsabilidade pela equipe para se pagar. Não dá pra simplesmente não olhar. Mas não era como antigamente, em que o próximo mês tinha que crescer mais. Eu sinto que às pessoas elas entendem o propósito, estilo do canal e voltam. Até porque, mais da metade do canal vem de pessoas que não estão inscritas. Sem contar professores que exibem os vídeos em sala de aula, muita vezes baixam o conteúdo. Então pra mim, não me importo muito, o que importa é as pessoas assistirem.
Agora, particularmente, eu vejo que toda vez que você faz um vídeo sobre história seu nome aparece nos Trending Topics do Twitter porque você acaba "cancelado" pelo seu trabalho. Como se blinda com essas críticas?
Felipe Castanhari - É, acho que é o fato de eu estar sendo cancelado pelo meu trabalho é uma coisa natural quando a gente entende a polarização do país. Sempre tem a ver com política, de alguns vídeos terem gerado polêmica. O país está cada vez mais polarizado e é natural cada vez mais vai ter discordância em determinados assuntos, mas eu não deixo de fazer algum tipo de vídeo porque eu acho que vai dar polêmica. Eu não tenho medo, porque eu confio muito no meu trabalho. Eu confio muito no que vou falar nos vídeos, na minha equipe de pesquisadores. Mas não tem jeito, a internet está cheio de gente que não enxerga exatamente que talvez exista um outro ponto de vista para aquilo que ela tanto defende e que pode estar certo também. O complicado é que tem tema que nem a própria a academia, nem os historiadores entram em um consenso. Tem coisa que que vai ter historiador que acha uma coisa, vai ter historiador que acha outra.
Quando você começou a fazer os vídeos sobre nostalgia, eram realmente de coisas que aconteciam na sua infância, mas agora, talvez, para os novos públicos, esses mesmos vídeos sejam de coisas que aconteceram quando você já era adulto. Você pretende ou até está preparado pra fazer esse tipo de conteúdo novamente no seu canal?
Felipe Castanhari - Tem uma coisa que mudou, hoje em dia [a informação] está muito mais diversificada pelas quantidade de conteúdo e plataformas de streaming. Não tem mais aquele fenômeno de que você tinha uma geração que todo mundo conhecia as mesmas coisas, porque todo mundo cresceu com a televisão, que eram poucos canais, então, todo mundo compartilhava, de certa forma, esse conhecimento de cultura pop. Agora, mudou, eu acho que a verdade é que a gente tá ficando velho, a gente tem que entender que essa geração nova, essa molecada, já tem acesso a tanta coisa que eles não tempo suficiente para assistir tudo que tem de legal. Claro que, eventualmente, alguma coisa vai bombar muito e todo mundo vai assistir, mas no geral, mas cada um vai ter um gosto diferentes assistindo suas coisas. Eu parei de fazer os videos de nostalgia, por isso, acabou minha infância. Agora eu vou para uma coisa que eu gosto mais na vida adulta, ciência, história, são coisas que eu gosto. O canal continua sendo um reflexo da minha personalidade e das coisas que eu gosto.
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