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Luciana Vendramini relembra primeiro beijo gay das novelas: "Sem frescura"

Atriz protagonizou a primeira cena de troca de carícias entre duas mulheres nas novelas


Luciana Vendramini posada para foto; Luciana Vendramini e Giselle Tigre, em Amor e Revolução, dando o primeiro beijo gay das novelas
Luciana Vendramini relembra primeiro beijo gay das novelas - Foto: Reprodução

Quarenta segundos. Esta foi a duração do primeiro beijo gay visto nas telenovelas do Brasil. O tempo foi o ideal para mostrar a paixão que explodia entre Marina (Giselle Tigre) e Marcela (Luciana Vendramini) em Amor e Revolução (2011), no SBT. A cena rolou há exatamente 10 anos, época em que a abordagem da comunidade LGBTQIA+ ainda engatinhava na sociedade e representações na televisão destes tipos de personagens eram de forma caricatural.

A sequência da advogada e a jornalista da novela de Tiago Santiago abriu portas para ampliação do relacionamento gay nos folhetins. Uma das protagonistas da cena aclamada é Luciana Vendramini, que conversou com exclusividade com o site NaTelinha sobre a sequência gravada.

Aos 50 anos, atriz paulista também relembrou o mês do Orgulho LGBTQIA+, comemorado neste junho, e pediu mais respeito para a comunidade. Confira!

NaTelinha - Como vê a representatividade do primeiro beijo gay nas novelas, num momento marcante da teledramaturgia e da comunidade LGBTQIA+?

Luciana Vendramini: O legal da novela é o fato da gente ter protagonizado um beijo gay é que ninguém esperava por isso. Eu e Giselle já tínhamos ficado muito amigas. Quando a notícia do beijo chegou, a gente ficou superempolgada, na verdade, quando vi que elas iam se apaixonar, eu achei maravilhoso colocar isso numa novela sobre a ditadura, época em que várias coisas foram escondidas e camufladas.

Interessante que o casal Marina e Marcela acabou se tornando mesmo um representante do movimento LGBTQIA+, mesmo porque foi um casal que fez muito sucesso. Foi uma das minhas únicas personagens que eu era parada na rua (pelo público). As pessoas falavam que estavam torcendo para que elas terminassem juntas. Eu achei extremamente importante para a sociedade, para que as pessoas saibam que existem casais gays e que (eles) não têm controle de decidir o que eles são, eles nascem assim.

NaTelinha: O que as pessoas comentavam na rua sobre o casal?

Luciana Vendramini: Eu fiquei muito feliz porque desde heterossexuais e pessoas gays vinham falar comigo, para mostrar a torcida por Marina e Marcela. Acho que o amor delas foi muito bem desenvolvido. Quando a gente coloca o amor, independente se é hetero ou gay, a pessoa compra a ideia e entende. Ninguém nunca falou pra mim nas ruas que Marina e Marcela não podiam terminar juntas. Nunca ouvi isso. O autor conseguiu colocar muito bem a história delas, com muito respeito. Acho que as pessoas não viam que eram duas mulheres, e sim uma história de amor linda de pessoas apaixonadas e era isso o mais importante.

NaTelinha: Dez anos depois da exibição do beijo, você acha que o respeito à comunidade LGBTQIA+ melhorou?

Luciana Vendramini: Eu acho que, há 10 anos atrás, eu sentia mais leve a questão LGBT. Hoje está um pouco mais pesado esse assunto porque as pessoas devem se expôr mesmo, dar voz aos representantes da comunidade LGBT, precisamos dar ouvidos a eles. O que eu vejo é uma crítica de quem recebe essas notícias muito duras. Não acho isso justo porque ninguém escolhe ser gay, ninguém escolhe se vai gostar de homem ou mulher. Você nasce assim. Eles devem falar até que um dia isso torne uma normalidade, em que as pessoas não venham com tantas críticas e julgamentos por ser gay.

NaTelinha: Teve alguma história curiosa para gravar a cena do beijo?

Luciana Vendramini: Quando a gente viu que ia ter um beijo, eu fui a primeira dizer 'Giselle, a gente não pode dar uma bitoquinha, esse casal não merece uma bitoquinha. Elas têm que dar um beijo de amor, um beijo de casal'. Gisele ficava supertímida comigo, mas, depois de conversar com o diretor (Reynaldo Boury),surgiu a ideia de fazer uma coisa bonita, sem medo, sem frescura, sem ter timidez. Falei com o diretor que deveria ser um beijo como se eu fosse beijar um ator homem. Não é porque é mulher que eu vou me privar de alguma coisa porque não existe isso pra mim. Eu e a Gisele tivemos maior química, isso foi maravilhoso.

NaTelinha: Vocês chegaram a ensaiar antes?

Luciana Vendramini: A gente ensaiou duas vezes. A gente ensaiava marcação no cenário e, na hora de dar o beijo, a gente ficava juntinha. Eu senti que dependia de mim aquele beijo sair porque a Giselle estava na expectativa de como seria. Na hora de gravar, lasquei um beijo nela, um beijo de verdade entre duas mulheres apaixonadas. A gente não fazia a menor ideia do barulho que ia ser.

O legal dessa novela é que ela respeitava o horário. Era uma novela das 23h, então era permitido. Hoje em dia, as pessoas vem na rua casais gays juntos, mas, naquela época, pensávamos no horário. A gente chegou a gravar outros beijos. Teve uma cena de amor delas que foi bem editada, mas foi tão maravilhoso o feedback que a gente teve das pessoas torcendo por esse casal... Até hoje eu recebo fãs. Tem um monte de movimento Marina e Marcela até hoje.

NaTelinha: Você já teria envolvimento amoroso com outra mulher?

Luciana Vendramini: Por enquanto eu nunca me envolvi com uma mulher. Não teria problema nenhum se eu me apaixonar por uma mulher e me envolver. No momento, não aconteceu, mas a gente não pode dizer que dessa água nunca beberei. Também não teria problema nenhum em chegar pra minha família e falar que me apaixonei por uma mulher. Tenho certeza que eles iriam entender.

A gente tinha uma diarista trans e minha mãe não sabia. A Sabrina trabalhava na casa da minha mãe todos os dias. Um dia começou a rolar uma fofoca na cidade (Jaú, interior de São Paulo) que o médico gostaria de falar com a minha mãe. Ele disse que Sabrina não é Sabrina e sim Pedro. Minha mãe não se importou, ela nem se tocou, foi me contar bem depois. Eu mandava as roupas que eu não usava mais pra Sabrina. Minha mãe a tratava como mulher. Meu pai também não teve problema nenhum.

Se eu chegasse pra minha mãe ou meu pai falasse que eu estaria apaixonada por fulana de tal, eles iam me dar um abraço. Eles são muito tranquilos quanto a isso, mesmo sendo pai italiano, que me educou de forma muito rígida, na rédea curta, mas eu gosto, foi importante essa educação que meu pai deu. Admiro muito.

NaTelinha: Junho é considerado o mês do orgulho LGBTQIA+. Que mensagem você passaria para a sociedade sobre essa data?

Luciana Vendramini: Acho muito importante ter esse orgulho LGBTQIA+ porque (é um assunto) que precisa ser falado. Não tem cabimento pra mim não falar sobre isso e o mês é importante porque as pessoas precisam serem ouvidas, precisam falar e nós precisamos ouvir. (Ser LGBTQIA+) é uma coisa normal, não há nada de errado, é uma coisa natural. Tudo que é do ser humano precisamos ouvir e respeitar porque assim que a gente é e assim que a gente veio pra essa terra.

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