Coluna do Sandro

Autores da Globo preparam protesto contra novo contrato de novelas

Emissora vem adotando o vinculo por obra para novos contratos firmados com escritores


Estúdio da Globo chamando MG4, o maior da América Latina
Estúdio MG4 onde são gravadas as novelas da Globo - Foto: Divulgação/Globo

Nos bastidores, autores e roteiristas da Globo estão acertando os últimos detalhes de um movimento contra os planos da emissora de abandonar o formato de contrato fixo para o setor de dramaturgia. Insatisfeitos, esses profissionais acreditam que, com o vínculo por obra, ficará cada vez mais inviável sobreviver da profissão. Passando por um período de ajustes de gastos, nos últimos dois anos, a Globo já demitiu dezenas de escritores para adotar o modelo de vínculo por projeto com muitos deles.

O NaTelinha apurou que detalhes deste protesto vêm sendo desenhado entre alguns autores. Além do modelo de contrato, pontos como remuneração e direitos autorais nas plataformas digitais também estão sendo debatidos. Nas próximas semanas, um documento deverá ser entregue à diretoria da Globo e pode ocorrer até uma greve.

Somente nos últimos dois anos, a rede demitiu os seguintes autores: Aguinaldo Silva, Euclides Marinho, Paulo Halm, Elizabeth Jhin, Izabel de Oliveira, Walter Negrão, Angela Chaves, Alcides Nogueira, Daniel Adjafre, Silvio de Abreu, Miguel Falabella, Patricia Moretzsohn, Ana Maria Moretzsohn, Filipe Miguez, Marcos Bersntein e Maria Adelaide Amaral. De acordo com fontes, nos próximos meses outros escritores serão desligados.

Em todos os casos, a emissora deixou as portas abertas para eles retornarem com novos projetos, porém, num novo modelo de contrato: por obra. Para isso, precisam aceitar uma remuneração menor, diante da nova política salarial da Globo.

“Vou te dar um exemplo. Se um autor trabalhar em torno de seis meses numa sinopse de novela e a Globo, ao analisar, não aceitar o projeto? O profissional trabalhou de graça. Como ele vai pagar suas contas? Como vai se sustentar? A única opção é ele criar uma outra história e ter a esperança da emissora aceitar. Esse modelo é impraticável”, disse um autor à coluna sob a condição de anonimato.

A mudança no modelo de contrato de autores de novelas aconteceu de forma gradativa desde 2018, quando foi implantado o programa Uma Só Globo. O maior grupo de mídia nacional promoveu diversas mudanças operacionais e unificou as empresas TV Globo, Globoplay, Globosat, DGCorp (Diretoria de Gestão Corporativa) e Globo.com, com ajuda da consultoria Accenture.

“Transformando a Globo numa empresa mediatech. O programa busca integrar equipes e estruturas, desenvolver novas áreas de competência, novos negócios e novas receitas, além de estabelecer um relacionamento mais direto com o consumidor. O processo de unificação foi concluído em 2021”, diz o site Memória Globo.

O grupo brasileiro vem buscando se adequar a tendência do mercado internacional e seguindo modelos de contratos com roteiristas de importantes players, como Netflix, Disney, Paramount, Prime Video e HBO.

Ex-autor da Globo desabafou sobre o futuro dos roteiristas no mercado de TV 

Autores da Globo preparam protesto contra novo contrato de novelas

Em abril, em um depoimento enviado ao NaTelinha, o escritor e jornalista João Ximenes Braga, vencedor do 41º Emmy Internacional pela novela Lado a Lado (2012-2013), já tinha exposto o desagrado que o setor enfrentava em relação ao novo formato de vínculo que está  sendo adotado no mercado brasileiro com a chegada das gigantes de streaming.

“Se as coisas continuarem como estão, esse mercado vai entrar em colapso, e não vai demorar, pois não é só o fim do contrato longo. Isso vem junto com uma nova visão de produção em que o roteirista é apenas um técnico e não mais pode almejar a posição de autor/criador. Tudo ao mesmo tempo, e de propósito, para baratear a mão de obra”, desabafou o premiado autor.

E encerrou: “Pois em breve os jovens que hoje estão abarrotando as salas de roteiro vão entender que, como roteiristas nesse sistema uberizado, não terão direito à ambição de conquistar nem a independência financeira, nem a realização artística. Previsão essa que não vem de bola de cristal, mas da História: quando o descontentamento é generalizado, se resolve ou na guilhotina, ou na greve".

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