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Sensível, coerente e poética: o final de "Sete Vidas"
A coluna "Enfoque NT" faz uma análise sobre o fim da novela das seis
Por Thiago Forato
Publicado em 10/07/2015 às 19:30
Chegou ao fim nesta sexta-feira (10), a novela das seis “Sete Vidas”, com autoria de Lícia Manzo e direção de Jayme Monjardim.
O que pudemos acompanhar nesses quatro meses de história foi uma deliberação poética, com excelente construção de diálogos que a autora soube escrever e contar. Manzo foi categórica e conduziu “Sete Vidas” de maneira rara, sem cair na pieguice ou no dos piores clichês folhetinescos.
É verdade, “Sete Vidas” foi uma novela mais curta do que o comum, e isso ajuda com que ela tenha menos (ou nada) de “barriga”, termo designado para um período em que a história anda em círculos e nada acontece. A trama não caiu nessa e em 106 capítulos contou o que tinha que contar.
Domingos Montagner no papel de Miguel, o aventureiro destemido, que a cada problema se refugia nos mares foi o ponto central da história. É a partir de uma ação na sua adolescência que ela se desenrola, já que nos Estados Unidos, por necessidade financeira, acaba fazendo uma doação de esperma para um banco, que geraria sete vidas, ou seis, já que Júlia (Isabelle Drummond) descobre mais tarde que seu pai é outro. De qualquer maneira, sete foram as vidas completamente modificadas com a descoberta de seus outros irmãos e progenitor.
Sensibilidade aflorada
Não é segredo pra ninguém que Lícia Manzo tem uma sensibilidade fora do comum. Isso já foi visto em “A Vida da Gente” (2011) e mais uma vez ele mostrou a sua capacidade de desenvolver e criar uma novela com laços sem apelar para o lado mais raso folhetinesco. Nada de personagens caricatas, vilões ou mocinhos estabelecidos.
Sua habilidade em arquitetar personagens críveis e verossímeis se assemelha a Manoel Carlos. Aliás, esta comparação é inevitável. O que se viu em “Sete Vidas” são seres reais e humanizados, como a mãe preconceituosa e patricinha Branca (Maria Manoella), a mãe superprotetora Iara (Walderez de Barros) ou o filho folgado Arthurzinho (André Frateschi). Há uma série deles dentro da trama.
Ausência de vilões
É claro que o telespectador de telenovelas é fã de um bom vilão. E se uma história não for bem idealizada, o público sente falta, o que acaba comprometendo todo o resto do produto.
Mas, o talento de um bom autor também se mede pela maneira em que ele contextualiza vilões. No caso de “Sete Vidas”, os maiores vilões foram as circunstâncias em que os personagens tinham boas ou más ações. Isto é, qualquer um estava sujeito a tomar decisões boas, ou não tão boas, como é a vida, que nos oferece um leque de possibilidades.
Coesão
Muitos podem ter se revoltado com o fato de Júlia ficar com Pedro (Jayme Matarazzo) e não com Felipe (Michel Noher). Afinal, Pedro foi durante toda a trama aquele cara mesquinho, egoísta e individualista. Em contrapartida, o amor por Júlia era recíproco e imensurável desde o início. Nada mais natural que, apesar dos pesares, eles terminassem juntos. Justo ou não, o final, há que se dizer, foi coerente.
“Sete Vidas” certamente entra para história como uma daquelas novelas para se apreciar. Apreciar os bons diálogos, conversas bem elaboradas, fotografia e direção bem feitas por Monjardim e uma trilha sonora condizente com o universo que se propôs a mostrar, sem esquecer da abertura, que foi extremamente conceitual. What a wonderful world.
Thiago Forato é jornalista, escreve sobre televisão há dez anos e assina a coluna Enfoque NT há quatro, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele: thiagoforato@natelinha.com.br | Twitter e Instagram: @tforatto
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