Publicado em 28/06/2022 às 04:51:00,
atualizado em 28/06/2022 às 07:59:55
Personagem gay em Além da Ilusão, Leopoldo viu sua vida mudar depois que Plínio (Nikolas Antunes) confessou que estava apaixonado pelo autor da radionela "Ventre Maldito". Na ocasião, o galã chegou a pedir a mão do radialista em casamento. Tomada de muita emoção, a cena só não teve um beijo do casal. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Michel Blois nega que a sequência tenha sido cortada pela emissora, conforme especulações.
"Desde sempre, esse beijo não iria existir. Não estava escrito, pelo menos. Internamente, eu torcia para que existisse, torço para que o beijo entre dois homens não seja um evento na TV e, sim, algo que tenha somente a função de demonstrar amor", dispara.
Já o romance do seu personagem com outro do mesmo sexo era previsto desde o início da trama, conforme revela o ator: "Quando fui convidado para a novela já recebi todas as minhas cenas, já tinha o arco completo do Leopoldo".
"Isso tem seu lado ruim como, por exemplo, hoje, as novelas já não conseguem ser obras tão abertas. Então, não dá tempo para mudar curso de personagem, aumentá-lo ou mantê-lo na trama fora do programado", opina.
"Mas o lado bom é que tanto ator quanto direção conseguem trabalhar melhor as nuances, as curvas dos personagens, e aprofundá-los, tornando-os mais complexos e verticais", observa, Michel Blois. Confira a entrevista completa.
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NaTelinha: Mesmo sem beijo, a sequência deu o que falar. Teve frustração pelo suposto "corte" e críticas, alegando que a novela se passa na década de 1940, e nunca teria um casal gay, como se homossexualismo não existisse desde que o mundo é mundo. Como foi a repercussão com você nas redes sociais?
Michel Blois: Pois é! Como a história até hoje tinha sido contada, principalmente, pelos homens heterossexuais, parece que gay nunca existiu, parece que é uma invenção contemporânea. Alguém achar isto só corrobora com o silenciamento e apagamento histórico que a comunidade está sujeita. Muitas pessoas morreram e morrem fruto da homofobia. Ainda existe um ataque muito grande à comunidade LGBTQIA+. Porém, minhas redes sociais ficaram lotadas de amor, só recebi carinho e no privado recebo muitos depoimentos de pessoas contando suas relações com a família ao se assumirem gays, e eu acolho todos. Faço questão de estar aberto ao diálogo.
NaTelinha: Machista, o pai do Leopoldo decidiu que a internação do filho seria a solução para ele se tornar um macho de verdade. Você acha que em 2022 ainda existe quem acredita na cura gay?
Michel Blois: Infelizmente, ainda existe muito. Outro dia mesmo vi um vídeo de uns cinco homens dizendo que sua "igreja" tinha-os curado, que hoje eram ex-gays. É patético! Eu fico muito triste com essas coisas, porque as pessoas estão deixando de ser felizes, deixando de ser livres, deixando de ser quem realmente são para dar conta de um ideal imposto por uma sociedade preconceituosa, como se gay fosse algo errado. São reféns da homofobia.
NaTelinha: Estamos no mês do orgulho gay e ainda há quem se incomode com a orientação sexual das pessoas. Na sua opinião, porque a vida amorosa alheia desperta tanto interesse?
Michel Blois: Acho que somos um povo fofoqueiro mesmo. Saber das mazelas alheias ajuda a gente a seguir em frente, coloca todo mundo no mesmo barco, as dificuldades nos unem. Agora, fofocar da sexualidade alheia é outra coisa. Acho que fala mais do caráter da pessoa, porque durante muito tempo isto foi utilizado como arma, como chantagem, ou a intenção era só diminuir o outro, rir, ridicularizar. E isto está mudando, porque cada vez mais a comunidade LGBTQIA+ está fortalecida, cada vez mais orgulhosa de sua bandeira e suas siglas. Palavras que eram usadas para ofender hoje viraram palavras de orgulho, como bicha e viado, por exemplo.
NaTelinha: Você já esperava que o personagem cresceria tanto na trama, e conquistaria a torcida do público de casa, ou foi uma grata surpresa?
Michel Blois: Leopoldo foi se tornando um personagem que as pessoas queriam botar no colo e cuidar, assim como a Arminda [Caroline Dallarosa] fazia. Fui construindo ele com muitas camadas e, conforme ia tirando cada uma, ele ia ficando mais frágil, revelando mais a sua essência. Ele ficava na balança do drama e da comédia o tempo todo, assim como do impulsivo e do cartesiano, da liberdade e do machismo. E esse equilíbrio, junto com uma espécie de mistério, foi conquistando o público. Mérito de um trabalho de equipe, texto, direção e elenco.
NaTelinha: A novela caminha para sua reta final. Como você gostaria que fosse o desfecho do Leopoldo e do Plínio? Feliz assim como o seu casamento com Pedroca Monteiro, ator que viveu o subdelegado Prado em Quanto Mais Vida, Melhor?
Michel Blois: Eu confesso que fugir não seria a minha opção. Mas entendo que para muitos é a única opção. Leopoldo corria risco de vida com aquele pai, com essa internação iminente. Então, a fuga, neste caso, era a melhor opção. O limite é manter integridade física e mental. Eu, felizmente, tenho uma trajetória diferente, tenho minha família do meu lado e um casamento feliz, de 11 anos.
NaTelinha: Você já confessou que foi difícil se assumir, e que até hoje ainda não se sente à vontade em andar de mãos dadas com seu marido. Como é viver com medo de sofrer violência por amar uma pessoa do mesmo sexo?
Michel Blois: A gente vai criando nossa bolha, nosso ciclo de amigos, frequentando os lugares que te acolhem, que te respeitam, e isto vai deixando as coisas mais leves, mas quando você sai da zona de conforto, vai para um lugar desconhecido, bairro, festa, bar, restaurante ou outra cidade, por exemplo, você vê que o mundo é perigoso, tem sempre um radar de proteção, uma rota de fuga. Eu sou zero paranoico, faço isso naturalmente, um senso de proteção. Estou sempre a procura de pessoas e lugares que não me coloquem em risco, e que eu me sinta livre.
O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoiler da novela Além da Ilusão. Confira!
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