Publicado em 24/11/2021 às 07:47:00
Em 21 de dezembro de 1951, estreava Sua Vida Me Pertence, primeira telenovela brasileira. De lá para cá, quase 70 anos depois, os folhetins continuam sendo o principal produto da televisão no país, mas nem sempre tudo sai como o esperado. Recentemente, Camila Queiroz deixou o elenco de Verdades Secretas 2 e uma série de especulações sobre os motivos que levaram à demissão da atriz tomou conta dos noticiários. Porém, os desentendimentos nos bastidores das telenovelas brasileiras não são novidade e vêm acontecendo há décadas.
Em alguns casos, os atores são demitidos e se surpreendem com as mortes de seus personagens. Em outros, decidem deixar o elenco por conta própria e causam rebuliço na produção, que precisa se virar nos trinta para encontrar um substituto.
Em Roda de Fogo (1986), Lúcia Veríssimo interpretava Laiz Brandão, irmã da protagonista Lúcia (Bruna Lombardi). Porém, a atriz ficou conhecida nos bastidores da novela por suas crises de estrelismo, que culminaram em diversos atrasos e uma falta, o que irritou Paulo Ubiratan (1947-1988), diretor da trama de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes.´"Na época, havia um movimento sindical por um máximo de seis horas de trabalho. É um direito legal, mas o ator tem o dever de chegar na hora e saber o texto.
A Lúcia atrasava todo dia. Eu reclamava e ela atrasava de novo. Aí, eu a suspendi, e sabe o que ela fez? Faltou para passar o fim de semana em Los Angeles. Aí eu demiti”, disparou Paulo na ocasião. Lúcia deixou a produção perto da metade da trama, quando sua personagem viajou para o exterior e não voltou mais. No último capítulo, Fernando (Carlos Vergueiro), pai de Laiz, lê uma carta da jovem.
Ísis de Oliveira vivia Mimi Toledo em Meu Bem, Meu Mal (1990) e foi demitida por supostamente faltar as gravações de fim de ano da novela, o que para a atriz nada mais foi do que uma decisão arbitrária do diretor Paulo Ubiratan. Uma matéria da época, feita pelo Jornal O Dia, explica que Ísis pediu ao diretor para passar as festas de fim de ano em Lisboa, Portugal, e ele pediu para que ela falasse com a produtora, que era quem fazia o roteiro de gravação dos autores. Ísis viajou com o compromisso de telefonar no dia 26 de dezembro para saber quando iria gravar e fez isso, recebendo a resposta de que gravaria somente dia 02 de janeiro.
A loira voltou no dia 30 de dezembro e no dia marcado compareceu aos estúdios, mas percebeu que o clima estava estranho e o diretor se recusou a recebê-la para conversar. Ísis foi demitida e sua saída prejudicou o andamento da novela, já que um plano de vingança que era liderado pela moça ficou nas mãos de personagens que eram 'bonzinhos' demais para tal feito.
Na época, a mídia ressaltou que Ísis foi a primeira atriz da Globo a ser demitida no meio de um capítulo, exibido em 19 de fevereiro de 1991, por meio de indiretas colocadas no texto. “Dona Mimi não existe mais”, disse Sérgio Viotti (1927-2009), o Toledo, marido de Mimi. “Ela foi demitida”, acrescentou. “Nunca tinha ouvido falar em uma esposa demitida”, retrucou Doca (Cássio Gabus Mendes). “Digamos que foi demitida por excesso de faltas ao trabalho”, completou Toledo.
Em Pátria Minha (1994), Vera Fischer vivia a protagonista Lídia Laport e contracenava com Felipe Camargo, seu marido na época. Porém, desentendimentos entre o casal e até mesmo recusas de se encontrarem durante as gravações fizeram com que o autor Gilberto Braga (1945-2021) não tivesse outra opção, a não ser matar os personagens, que saíram da trama porque foram carbonizados em um incêndio. As notícias eram de que as brigas entre os dois eram recorrentes e a atriz teria chegado a aparecer para gravar com o antebraço esquerdo quebrado, o que provocou alteração em diversos capítulos.
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Além disso, as faltas e atrasos da loira para os compromissos com a novela já estavam irritando outros atores, inclusive Tarcísio Meira (1995-2021), que só saía de casa para gravar quando era avisado de que a colega já estava nos estúdios. Na época, Dennis Carvalho, diretor-geral da trama, lamentou. "Nunca passei por nada igual na TV. Antes de tudo, são dois colegas e gosto muito do trabalho deles", disse, se referindo à Vera e Felipe.
Desavenças entre atriz e diretor parece não ser um problema incomum nos bastidores de telenovelas. Em 1995, Maitê Proença vivia a antagonista Heloísa, em Cara e Coroa, e se surpreendeu ao receber um bloco de capítulos que continha a cena da morte de sua personagem, que cairia de um penhasco após uma briga. A atriz não se entendia bem com o diretor Wolf Maya e a saída de sua personagem da trama aconteceu depois que os dois tiveram uma desavença mais séria.
Maitê não foi comunicada previamente de que Heloísa morreria e Miguel Falabella, seu colega de elenco, que interpretava seu amante na novela, relembrou a situação em um depoimento para o livro Autores, Histórias da Teledramaturgia. O ator contou que, quando leu os capítulos da briga no penhasco, Maitê ligou para ele, já imaginando o que aconteceria. "Não deu outra. Ela ficou furiosa, com toda a razão, porque não tinha sido avisada de que sairia da novela", comentou Miguel.
Enquanto alguns atores são pegos de surpresa com suas demissões, outros surpreendem. Em 2010, Ana Paula Arósio desistiu de dar vida à Marina, em Insensato Coração. Na época do afastamento da atriz, a equipe da novela já estava em Florianópolis à espera do elenco e Paolla Oliveira foi escalada às pressas para substituir Ana Paula Arósio. Em entrevista à revista Veja Rio, Dennis Carvalho, diretor da produção, chamou a atriz de 'desequilibrada' e disse que, até aquele momento, ele estava esperando uma justificativa dela para o que aconteceu. A atriz alegou que não gostou do papel e decidiu se afastar da mídia, vivendo um grande período sabático longe dos holofotes.
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