Heslaine Vieira comenta cena de "racismo reverso" em Nos Tempos do Imperador
"É importante vermos os avanços nos debates", opinou a intérprete da vilã Zayla
A atriz Heslaine Vieira encerrou as gravações de Nos Tempos do Imperador na semana passada; cenas tiveram que ser regravadas para evitar polêmicas - Foto: Reprodução/Globo
Heslaine Vieira dá vida à Zayla, um dos papéis centrais de Nos Tempos do Imperador, na Globo. Em entrevista divulgada neste sábado (20), Dia da Consciência Negra, a atriz opinou sobre a polêmica em torno de uma cena que aludia ao “racismo reverso” na novela das seis. Por conta da repercussão, passagens da novela foram reescritas, inclusive dando mais destaque à sua personagem.
“Situações que antes passavam sem serem questionadas, hoje são motivo de reflexão e apontamentos. É importante vermos os avanços nos debates, mesmo sabendo que existe uma árdua e extensa caminhada pela frente”, comentou Heslaine Vieira em entrevista ao jornal O Globo. O episódio com alusão ao “racismo reverso” foi ao ar em agosto e recebeu uma enxurrada de críticas.
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“Foi uma personagem muito difícil. E adoro isso. Estudei muito: o momento histórico em que ela vivia e me compreendi um pouco mais com isso. Me sentia no quintal da casa da minha avó no cenário da Pequena África. Acho muito importante e representativo existir uma princesa negra na TV.”
Heslaine Vieira
A artista encerrou as gravações da trama na semana passada. Ainda na entrevista, ela falou sobre as dificuldades impostas pelo preconceito no início da carreira. “Nada foi fácil. Fomos muito até a porta do Projac e, aos poucos, entendi que não existia tanto espaço para crianças pretas”, relatou. “Mesmo nova, entendi que havia um problema estrutural gigantesco e que eu precisaria ser duas vezes melhor para ter a mesma oportunidade.”
Entenda a polêmica sobre “racismo reverso” em Nos Tempos do Imperador
No capítulo 12 de Nos Tempos do Imperador, exibido em agosto, Pilar (Gabriela Medvedovski), uma jovem branca, busca morada na Pequena África, já que Luísa (Mariana Ximenes) partirá em viagem e não poderá mais abrigá-la. O local serve de acolhimento e proteção para negros livres, ex-escravizados, e também fugitivos. A moça tenta convencer Lupita (Roberta Rodrigues), que reluta em dividir o único quarto disponível.
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A ideia é vetada por Dom Olu (Rogério Brito), considerado o Rei da Pequena África. O líder explica que Pilar terá facilidade para encontrar outro lugar para morar, o que não acontece com os negros. Ela compreende o argumento, mas seu namorado, Samuel, acusa os outros moradores do reduto de discriminação na cena seguinte.
“Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos, se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com os negros?”, questiona o rapaz. Na história, ele é filho de uma mulher violentada pelo Coronel Ambrósio (Roberto Bonfim) e luta para encontrar a irmã, que fora vendida pelo vilão.
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Em seguida, Pilar dá uma lição sobre privilégios, reiterando a fala de Dom Olu: “Eu com certeza vou ter oportunidades de conseguir qualquer coisa, muito mais do que aquela menina, porque sou branca. E os brancos têm tudo, mesmo quando não têm nada. Já com os negros, não é bem assim”. Samuel arremata: “Isso tem que mudar. Brancos e negros têm que conviver como pessoas. Só, nada mais”.
A sequência instaurou uma crise nos bastidores da novela. Em uma operação para salvar a novela das seis, a direção resolveu fazer reuniões para discutir estratégias e evitar erros que possam gerar debates e, pior, inflame mais críticas contra a emissora. Nos Tempos do Imperador estreou toda gravada, e, por isso, várias cenas tiveram que ser reescritas.
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