Publicado em 08/05/2021 às 08:21:03
Em 20 de maio de 1990, há 30 anos, ia ao ar uma das novelas que mais deram dor de cabeça à Globo: O Dono do Mundo. De Gilberto Braga, a trama conta a história do cirurgião plástico Felipe Barreto (Antônio Fagundes), que apostou uma caixa de champanhe importado com o amigo Júlio (Daniel Dantas), de que era capaz de levar Márcia (Malu Mader), noiva virgem de seu funcionário Walter (Tadeu Aguiar). A história patinou nas primeiras semanas, chegando a marcar índices próximos a 30 pontos no Ibope, o que era imperdoável na época.
Gilberto Braga tinha como objetivo apenas "refletir a realidade do país em torno de um melodrama". O próprio autor, anos depois, admitiu que errou na concepção original da novela, pois chegou a conclusão que o público não condenava a atitude de Felipe. Os telespectadores condenaram a mocinha Márcia, que cedeu aos encantos de um homem bem-sucedido.
"Foi uma confusão danada. O Dono do Mundo eu acho a primeira semana a melhor coisa que eu já fiz na vida. Muito forte, embora totalmente errada como novela de televisão. Porque era muito cruel e penosa para o pobre ver. Pobre levando porrada e não tendo como se defender. A audiência começou a cair e eu tive que mudar tudo", contou ao Memória Globo.
Uma das primeiras medidas para fazer com que o público comprasse a história de Márcia foi fazer com que ela agredisse Felipe com um bisturi e fosse parar na cadeia. "Eu tinha uma heroína que o público não gostava e um vilão que o público admirava", constatou o experiente autor.
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Na época, o SBT acertava em cheio na exibição de Carrossel (1989) que estreava na emissora. As duas tramas concorriam por alguns minutos. Numa entrevista à Folha de São Paulo em edição de junho de 1991, o Homem do Baú mandou uma indireta a Gilberto Braga. "Se a Globo não estiver satisfeito com o Gilberto Braga, estou de portas abertas para recebê-lo, afirmou.
O novelista disse que não aguentava ver impiedade em relação aos pobres. Na história, eram retratados como antiquados, atrasados e até ingênuos, enquanto os ricos eram arrogantes, pedantes e preconceituosos. Sem meio termo, a trama perdurou até janeiro de 1992, e anotou 43,3 pontos de média geral, deslanchando na reta final chegando a índices de mais de 50 pontos.
Para tentar fisgar o público, Gilberto Braga praticamente rasgou a sinopse original: Felipe Barreto entrou em decadência, perdeu tudo que tinha e se apaixonou de verdade por Márcia. Ledo engano... Tudo não passava de uma grande "trollagem" do autor. Mas aí, o público já havia comprado a nova história.
"A audiência já estava conquistada. Foi uma grande surpresa. Isso tudo da cabeça do Gilberto", comemorou Ricardo Linhares no Memória Globo. "Em O Dono do Mundo, eu pesei a mão na crítica social e paguei o pato. Televisão tem que pegar um pouco mais leve", reconheceu Braga.
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