Publicado em 30/10/2022 às 12:30:00
Fazer uma vilã é tarefa difícil por diversas razões. Receber o papel de antagonista logo depois de ter interpretado uma mocinha icônica é ainda pior por questões óbvias. Junte-se a isso o fato de que as duas personagens são mães, tudo fica mais complexo. Mas Regina Casé juntou tudo isso e ignorou as dificuldades, fazendo dos limões uma limonada digna dos melhores restaurantes do mundo.
Como a pérfida Zoé, em Todas as Flores, Regina é o oposto da eterna dona Lurdes, de Amor de Mãe (2020). Se a segunda viveu a trajetória do heroi para encontrar o filho perdido, a primeira faz o caminho oposto para aterrorizar a filha - que também estava perdida. É ela a responsável por destruir com a vida redondinha de Maíra (Sophie Charlotte) e dar o pontapé inicial para o sofrimento da mocinha.
Se Letícia Colin está arrasando como uma vilã histriônica e que lembra muito Carminha (Adriana Esteves), em Avenida Brasil (2012) este não é o caso de Casé. A atriz busca inspirações mais próximas de outra personagem do mal criada também por João Emanuel Carneiro, Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita (2008).
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Não há gritos, não há caras e bocas e quase não há frases de efeito. Zoé é do mal por conta de suas atitudes. Logo em sua segunda cena ela já comete um assassinato - no único momento em que a personagem mostra sua verdadeira face nos dez capítulos exibidos até o momento. A partir daí, ela encarna a mãe zelosa das duas filhas, com poucos momentos em que demonstra ser uma vilã - quase sempre quando está com Vanessa (Letícia Colin).
Ninguém, no entanto, tem dúvida que Zoé é do mal. E não está no texto ou nas cenas em que ela aparece. Porém, todo mundo sabe que a personagem é tão má ou pior que Vanessa, a responsável pelas frases de efeito e pela rivalidade com a mocinha até aqui. Tudo isso por conta do tom de voz e do olhar com que Regina Casé empresta para a personagem. Ela é terrível e não deixa espaço para alguém duvidar do que a personagem é capaz.
Criar uma vilã dessa estirpe, principalmente depois de ter feito uma mãezona como foi Lurdes é muito difícil. Casé domina todas as técnicas de respiração, empostação vocal e expressão. Mas ela vai além, dá o ponto de subjetividade que a personagem pede. Zoé caminha para entrar para o hall das grandes vilãs e a atriz parece disposta a fazer acontecer.
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