Globo exalta Gilberto Braga, mas mantém trabalhos inéditos na gaveta
Autor de novelas, que deixou novelas escritas, completaria 79 anos nesta sexta-feira (1º)
Publicado em 01/11/2024 às 05:27,
atualizado em 01/11/2024 às 10:03
A Globo tem feito homenagens e exaltado a obra de Gilberto Braga (1945-2021). Além da série documental Meu Nome é Novela, produzida pelo Globoplay logo após a morte do autor, a emissora prepara um remake e uma reprise para o ano que vem. Entretanto, os trabalhos inéditos deixados pelo veterano seguem na gaveta, sem previsão de serem produzidos. Se estivesse vivo, ele completaria 79 anos nesta sexta-feira (1º).
Lançada no início do ano, a biografia Gilberto Braga: O Balzac da Globo ressalta que o autor não teve mais projetos levados ao ar após o fracasso de Babilônia (2015), escrita com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga e marcada pela baixa audiência.
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A trama foi alvo de sabotagem de uma parcela conservadora do público, que rejeitou a novela especialmente após o beijo entre Estela (Nathália Timberg) e Tereza (Fernanda Montenegro), exibido no primeiro capítulo. As lésbicas perderam espaço, e a duração da novela chegou a ser reduzida por conta da rejeição do público.
Depois de Babilônia, Gilberto apresentou alguns projetos na Globo, mas todos foram para a gaveta. Ele morreu em 26 de outubro de 2021, aos 75 anos. A causa da morte foi uma infecção sistêmica decorrente de uma perfuração no esôfago.
Novela censurada nos anos 80 tem releitura inédita
Entre os projetos deixados pelo autor, está Intolerância, que seria uma releitura de outra novela dele, Brilhante (1981). A trama, que também abordada a homossexualidade, foi prejudicada por cortes da Censura Federal, que veteram o tema. O novo projeto seria uma novela das 23h, faixa já desativada na emissora.
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Braga também escreveu a novela Feira das Vaidades, encomendada para as 18h. Entretanto, a história baseada no clássico da literatura britânica Vanity Fair, de William Makepeace Thackeray, pareceu picante demais para o horário, e o projeto não foi adiante.
Intolerância foi escrita em parceria com João Ximenes Braga, enquanto Feira das Vaidades teve Denise Bandeira como coautora – ambos trabalharam com o famoso autor em diversos projetos na TV. Ele também deixou uma minissérie sobre a trajetória de Elis Regina (1945-1982), contada em 10 capítulos.
Conflito com a Globo e processo do viúvo
Em entrevista ao NaTelinha em fevereiro, o jornalista Maurício Stycer – que deu continuidade à biografia de Gilberto Braga após a morte do autor inicial do projeto, Artur Xexéo (1951-2021) – falou sobre a relação do novelista com a Globo nos últimos anos de vida:
“Não encontrei, em nenhum momento da pesquisa, qualquer pessoa falando que ele [Gilberto Braga] estava magoado com a Globo. Prevaleceu uma versão que é um pouco forçada. Óbvio que qualquer autor fica frustrado quando tem uma sinopse rejeitada ou que fica na gaveta. Mas casos como esse aconteceram em outros momentos. Como outros autores, ele teve sinopses rejeitadas e entendeu que isso era do jogo.”
Maurício Stycer
Em agosto, reportagem da Folha de S. Paulo revelou que a Globo contestou uma ação movida por Edgar Moura Brasil, viúvo de Gilberto. Ele acusa a emissora de não prestar contas sobre repasses de direitos autorais de novelas produzidas e do contrato do autor.
Edgar é o responsável e um dos sócios da GT Produções Artísticas Ltda, criada por Gilberto para assinar contratos com a Globo. O decorador tentou, sem sucesso, ter acesso a informações da situação das obras do escritor com a empresa.
No processo, a Globo informou as obras escritas por ele às quais tem direito, incluindo tramas que foram ao ar e os três projetos supracitados, além de um episódio para a série Os Experientes, exibida pela Globo em 2015 e cancelada após a primeira temporada.
Legado de Gilberto Braga estará mais vivo do que nunca em 2025
O legado de Gilberto Braga estará presente na TV em 2025, quando ele completaria 80 anos. A Globo prepara para o horário nobre o remake de um de seus principais trabalhos, Vale Tudo (1988), escrita com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004).
Vale Tudo ganhará uma nova versão, comandada por Manuela Dias. Uma entrevista recente da autora à Folha causou polêmica justamente pela indicação dada por ela de que pretende se distanciar da obra original em alguns pontos. A novela é considerada uma das melhores já feitas na TV brasileira.
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Em cartaz no Canal Viva com a reprise de Corpo a Corpo (1984), que nunca havia sido reapresentada, Braga deverá continuar no ar na TV a cabo com Celebridade (2003), título mais cotado para substituir Viver a Vida (2009) no ano que vem.