Viúvo de Gilberto Braga volta a atacar a Globo e condena remake de Vale Tudo: "Não vai dar certo"
Arquiteto e decorador, Edgar Moura Brasil ainda falou sobre Corpo a Corpo, Babilônia, Louco Amor e Feira das Vaidades
Publicado em 24/06/2024 às 11:34,
atualizado em 10/07/2024 às 16:45
A volta de Corpo a Corpo no Canal Viva, a partir desta segunda-feira (24), e o remake de Vale Tudo (1988), cujo lançamento está previsto para março de 2025 em comemoração aos 60 anos da Globo, têm feito os fãs de Gilberto Braga (1945-2021) relembrarem outros grandes trabalhos do autor.
Viúvo do escritor, Edgar Moura Brasil, porém, não vê as duas ações como uma homenagem da Globo ao falecido, pelo contrário. Em entrevista ao site da jornalista Heloisa Tolipan, o arquiteto e decorador detonou a emissora e condenou a releitura do clássico protagonizada por Regina Duarte.
+ Fora do SBT, Eliana tem longa reunião com chefão da Globo
+ Adepta de surf e yoga, Mariana Godoy revela rotina na Record e crava: "A TV não vai acabar"
"Eu acho que mexer em Vale Tudo é um absurdo tão grande que não consigo imaginar a adaptação. Primeiro porque é uma novela perfeita e os diálogos e a história são perfeitos, a direção também, bem como os atores e a trilha sonora. Mexer em Vale Tudo e reescrever é algo absurdo e cada notícia eu tomo um susto", reclamou Edgar.
"Recentemente publicaram que a personagem Odete Roitman [vivida por Beatriz Segall (1926-2018) na versão original] entraria no primeiro capítulo, em vez do capítulo 40 ou 50. Na obra original a escolha em segurar a entrada dela se justificava para dar tempo do povo se acostumar com a história e a chegada dela ser um acontecimento. Ou seja, isso não vai dar certo. Acho que tem muita obra para ser refeita, então por que fazer Vale Tudo? Não consigo entender. Gostaria… é como refazer E o Vento Levou. Eu pararia com isso e faria outra história", comentou.
"Eu acho isso tudo uma maluquice. Para comemorar os 60 anos da Globo eu tenho um livro, Afundação Roberto Marinho, de Romero Machado, que daria uma ótima novela", provocou Moura, citando o livro que denuncia supostos negócios obscuros da Globo.
O viúvo de Gilberto Braga também falou do último projeto do marido na emissora, a novela Feira das Vaidades, que acabou não saindo do papel. "Tinha uma temática muito pesada. Porém, ele e a Denise Bandeira, coautora, conseguiram amenizar. Mas a TV Globo estava com essa coisa terrível de economizar. Era melhor fazer outra bobagem que gastasse menos, e qualquer novela poderia entrar no lugar de Feira. Começaram a pedir para cortar cenário para baratear. Não sairia uma novela boa, acho", disparou.
"Gilberto ficou grilado quando Boni saiu da direção da Globo. Mario Lucio Vaz (1933-2019) e Silvio de Abreu não gostavam de Gilberto Braga, tinham a patota deles [composta por] Walcyr Carrasco e Glória Perez. Gilberto ficou quatro anos ganhando sem receber nada. Ele estava magoado. Os quatro anos que ficou sem escrever novela, ele ficou muito triste", revelou Edgar Moura Brasil.
"A época dos grandes autores acabou e agora ninguém tem um trabalho [com personalidade]. Ninguém mais sabe quem são os autores de novela. Eu estou assistindo Anos Rebeldes, do Gilberto. E, para mim, é muito bom falar dele. O Brasil é um país de memória curta. Quanto mais se lembram dele, melhor", afirmou.
Viúvo de Gilberto Braga fala sobre Corpo a Corpo e Babilônia
Dono de grandes personagens, Gilberto Braga escreveu tipos até hoje lembrados, mas para Edgar Moura Brasil Maria de Fátima, personagem de Glória Pires em Vale Tudo, é a sua preferida. "É a mais safada, a melhor escrita e a que mais gosto, ainda que eu goste de todas", disse.
O arquiteto ainda confidenciou que o marido não curtiu Louco Amor (1983). "Ele não gostava de nada. Foi uma obra que nem fez sucesso nem fracasso, passou despercebida, e ele não gostava do elenco nem da novela", admitiu.
Sobre Corpo a Corpo, ele revelou uma preocupação. "Fico preocupado pela reprise porque um dos romances principais da novela, entre o personagem do Marcos Paulo (1951-2012) e o da Zezé Motta explora a questão do racismo. Gilberto chegou a ganhar da então vereadora Benedita da Silva a medalha Pedro Ernesto por sua ação contra o racismo na novela. Mas a própria Benedita dizia ser muito chato chegar em casa e ver [sua etnia] ser chamada de macaca. O Gilberto mostrava o racismo para falar de racismo. Eu não sei como a Globo vai fazer para exibir. Temo que venham a descaracterizar a obra. Vou ver para saber como vão fazer isso", avisou.
Por fim, Edgar falou da última trama de Gilberto Braga que a Globo exibiu, a problemática Babilônia. "Chegou na hora errada. O [prefeito Marcelo] Crivella que começou a falar mal da trama na igreja, de que Babilônia era um absurdo, uma decadência moral, e a novela começou estigmatizada. Depois veio o beijo da Fernanda Montenegro com a Nathalia Timberg e o pessoal caiu em cima. Gilberto reconheceu depois que errou, porque ele criticou Torre de Babel (1998) e incorreu no mesmo erro. Se fosse no capítulo 50, com as pessoas com mais intimidade com os personagens, tudo bem, mas sendo o primeiro capítulo, o pessoal caiu em cima como se duas pessoas não pudessem dar um selinho. Demorou muito tempo para consertar. Além de tudo era uma novela pessimista, tinha uma sucessão de coisas que não deram certo", declarou.