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Destino de novelas inéditas de Gilberto Braga é uma incógnita, diz biógrafo

Mauricio Stycer assina com Artur Xexéo livro sobre a trajetória do cultuado autor de Dancin’ Days, Vale Tudo e outros sucessos


Gilberto Braga
Gilberto Braga deixou duas novelas e uma minissérie inéditas na Globo; projetos podem não sair do papel - Foto: Reprodução

“O Balzac da Globo” é como a biografia de Gilberto Braga (1945-2021), lançada pela editora Intrínseca, define um dos mais elogiados e cultuados autores de novelas do Brasil. A aproximação com o escritor francês, pela crônica da elite social e pelo protagonismo do dinheiro nas histórias, é destacada ao longo do livro, iniciado por Artur Xexéo (1951-2021) e concluído por Mauricio Stycer.

“Uma característica que realça muito na obra do Gilberto Braga é essa descrição que ele faz da elite econômica em várias novelas. É uma marca que se consolidou. Eventualmente, pode-se até pensar que ele estava se repetindo, mas vejo como a reiteração de um estilo”, comenta Stycer em entrevista exclusiva ao NaTelinha.

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O traço ficou mais evidente em Água Viva (1980), um dos grandes sucessos do autor. “Houve uma recepção interessante dos ricos à imagem dos ricos da novela. Muitos falavam: ‘É muito real. Não parece comigo, mas conheço muita gente que é assim’”, comenta o jornalista.

“Esse desenho teve um efeito muito positivo para a própria audiência da Globo: ter autor que dialoga com as classes A e B e as retrata sem ser de forma maniqueísta”, destaca Stycer. Estão no currículo do novelista títulos que marcaram a TV, entre eles Escrava Isaura (1976), Dancin’ Days (1978) e Vale Tudo (1988), e sucessos mais recentes, como Celebridade (2003) e Paraíso Tropical (2007).

O livro teve início com entrevistas feitas por Artur Xexéo com Gilberto Braga. Xexéo morreu em junho de 2021, de parada cardíaca em meio ao tratamento contra o câncer linfoma não-hodgkin. Stycer foi então acionado para seguir com o projeto. Meses depois, em outubro de 2021, Braga também morreu, vítima de septicemia.

Gilberto Braga queria biografia com “verdades impublicáveis” sobre sua história

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Fatos até então pouco conhecidos sobre a vida e a obra de Gilberto Braga são revelados na biografia. Mauricio Stycer conta que se surpreendeu com o passado familiar do escritor, que inclui o assassinato da avó paterna, detalhes sobre a história do pai e ainda o suicídio da mãe.

“Isso está no livro porque houve um desejo dele de contar essas histórias, o que reforça o caráter da biografia. É verdade quando ele diz que só dá para fazer biografia se for para publicar as verdades impublicáveis. Se é para deixar ‘mais ou menos’, não vale a pena”, comenta o biógrafo.

“Quando ele decidiu contar a história dele, estava decidido a revelar histórias fortes que as pessoas não conheciam ou conheciam muito mal.”

Mauricio Stycer

Um traço marcante da personalidade do novelista era a exigência com o próprio trabalho. Por vezes, renegava até mesmo o título de autor. “Exigência, ele tinha, com certeza. Modéstia, acho que não. Acho que havia um pouco de pose”, aponta Stycer.

“Ele dizia o tempo todo: ‘Eu só sou um escritor de folhetins, estou nisso só pelo dinheiro’. Acho que o Gilberto usava essas observações como uma defesa, para não parecer que estava adorando o que fazia, porque de fato ele adorava. Ele tinha muito prazer nisso e entendia a importância que é escrever uma novela.”

Projetos deixados na Globo podem render imbróglio judicial com viúvo

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O livro também joga luz sobre os últimos anos de vida de Gilberto Braga. O veterano não teve mais projetos levados ao ar após o fracasso de Babilônia (2015), escrita com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga e alvo de uma onda conservadora, que rejeitou a novela especialmente após o beijo gay entre Estela (Nathália Timberg) e Tereza (Fernanda Montenegro).

Alguns projetos foram para a gaveta da Globo. Intolerância seria uma releitura de Brilhante (1981), trama do autor prejudicada por cortes da Censura Federal. Seria uma novela das 23h, faixa já desativada na emissora. Já Feira das Vaidades foi encomendada para as 18h, mas a história baseada no clássico britânico Vanity Fair parece picante demais para o horário. Há ainda uma minissérie sobre Elis Regina (1945-1982).

“Não encontrei, em nenhum momento da pesquisa, qualquer pessoa falando que ele estava magoado com a Globo”, diz Stycer. “Prevaleceu uma versão que é um pouco forçada. Óbvio que qualquer autor fica frustrado quando tem uma sinopse rejeitada ou que fica na gaveta. Mas casos como esse aconteceram em outros momentos. Como outros autores, ele teve sinopses rejeitadas e entendeu que isso era do jogo.”

Não há qualquer sinal de que os projetos possam sair do papel. “Ainda é um momento de bastante incerteza na Globo sobre que rumos tomar com a teledramaturgia. Conversando com o Edgar [Moura Brasil, viúvo de Gilberto], percebi que ele e a Globo tinham uma divergência sobre quem tem direito a esse material. É uma incógnita.”

Destino de novelas inéditas de Gilberto Braga é uma incógnita, diz biógrafo

Gilberto Braga: O Balzac da Globo foi lançado no Rio de Janeiro nesta semana. Em 20 de fevereiro, o evento será realizado na Livraria da Vila, na Vila Madalena, em São Paulo.

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