Faustão usa na Band a mesma estratégia de Jô Soares quando trocou a Globo pelo SBT
Na década de 80, muitas pessoas achavam que Viva o Gordo e Veja o Gordo eram o mesmo programa
Publicado em 04/01/2022 às 05:00,
atualizado em 04/01/2022 às 09:50
Os principais comentários sobre a estreia de Faustão na Band na virada do ano foram sobre as semelhanças do programa com o Domingão do Faustão, atração que o apresentador comandava na Globo até o começo de 2021. Cenário, iluminação, caracteres, corpo de ballet, distribuição da plateia, tudo lembra o dominical da emissora carioca. Engana-se quem pensa que essa estratégia é nova. No final de 1987, quando trocou a Globo pelo SBT, Jô Soares usou essa mesma tática. Deixou o Viva o Gordo para trás e lançou o Veja o Gordo, que, além do nome parecido, tinha o mesmo formato do humorístico global.
Veja o Gordo era exibido no mesmo dia e no mesmo horário que Viva o Gordo, às segundas-feiras, por volta das 21h30. Assim como seu precursor, contava com artistas convidados e personagens interpretados pelo próprio Jô. Para tapar o buraco que o programa deixou, a Globo começou a exibir filmes na Tela Quente, o que não passou batido para a concorrência. No início de cada edição de sua atração no SBT, Jô Soares alfinetava a antiga casa. "Veja o Gordo! Se você quiser autógrafos dos nossos artistas, venha a São Paulo. Se quiser dos artistas da concorrente, vá aos Estados Unidos. No ar, mais um vice-campeão de audiência", dizia a locução feita pelo apresentador.
Mais de 30 anos antes de Faustão tirar alguns nomes da Globo e levar para a Band, como Cris Gomes, José Armando Vannucci e Anne Lottermann, Jô Soares desfalcou o elenco da então vênus platinada para compor a equipe de seu humorístico no SBT. Eliezer Motta, Marlene Silva, Suzy Arruda (1917-2005), Alexandre Régis e Paulo Celestino Filho (1957-2017) são alguns dos atores que toparam fazer a mudança com o apresentador. Além dos humoristas, Max Nunes (1922-2014) e Hilton Marques, roteiristas da emissora carioca, também acompanharam Jô.
O clima da saída de Faustão da Globo azedou de vez quando as empresas que anunciam no Domingão, e investem milhões no canal, começaram as conversas para negociar e terem suas marcas expostas na nova atração do comunicador na Band. O mesmo aconteceu com Jô Soares, na década de 80. Com a perda do apresentador, estima-se que a Globo tenha perdido também cerca de 40 milhões de cruzados mensais, entre patrocínios e ações de merchandising.
Como forma de represália, a emissora cancelou os dois especiais de fim de ano de 1987 do Viva o Gordo que estavam planejados, acabou com os comentários de Jô do Jornal da Globo e proibiu a exibição de comerciais anunciando os shows de teatro que ele fazia. Faustão também foi alvo das invertidas de sua antiga casa, com sua saída do Domingão antecipada para junho, mesmo tendo seu contrato em vigência até dezembro.
Jô Soares foi para o SBT porque queria um talk show
O motivo que levou Jô Soares a sair da Globo após 20 anos na emissora foi o sonho de poder comandar um talk show. Silvio Santos demonstrou interesse pelo projeto do apresentador, enquanto a televisão dos Marinho queria mantê-lo no humorístico Viva o Gordo. A estreia de Jô Soares Onze e Meia aconteceu em agosto de 1988, cinco meses após a chegada do veterano à nova casa, onde passou a conciliar o programa de entrevistas com o Veja o Gordo.
Inspirado em programas norte-americanos, como The Tonight Show e Late Show with David Letterman, a atração ficou no ar por quase 12 anos e levou ao estúdio cerca de sete mil entrevistados. O talk show acabou com a volta do apresentador para a Globo, onde passou a comandar o Programa do Jô, em abril de 2000. Jô ficou na Globo até 2016, quando decidiu se aposentar da TV.