Pegadinhas do SBT

Diretor das Câmeras Escondidas detalha superproduções e afasta suspeita de armação: "Não tem como"

Jefferson Cândido comenta desafios das Câmeras Escondidas e revela bastidores


Jefferson Cândido e ETs em câmeras escondidas
Jefferson Cândido deu roupagem mais moderna às Câmeras Escondidas - Fotos: Divulgação/SBT
Por Thiago Forato

Publicado em 17/10/2021 às 07:06,
atualizado em 26/10/2021 às 15:45

Antiga Câmera Indiscreta, as Câmeras Escondidas completam 40 anos no SBT e nasceram praticamente junto com o canal. Quadro que começou com narração de Silvio Santos há quatro décadas, logo passou a ser feita por Gugu Liberato (1959-2019) no programa Alegria entre 1982 e 1983 e no ano seguinte, retornou para o Programa Silvio Santos. Na década de 1990, teve seu auge no extinto Topa Tudo por Dinheiro (1991-2001) e agora vive a fase de produções mais elaboradas. Antigo telespectador do quadro, Jefferson Cândido está na direção da atração desde 2011 e foi o responsável por modernizá-las. Pegadinhas como do Fantasma do Elevador, Annabelle, It e Maldição da Chorona tiveram sua assinatura. Todas elas viralizaram mundialmente, mas volta e meia há quem questione a veracidade delas. "Não tem como. Mas ninguém reconhece? Reconhece. Às vezes ficamos 10, 15 horas gravando pra tentar pegar uma ação boa pra ir para o público", explica ele em entrevista exclusiva ao NaTelinha.

Cândido está no SBT há 20 anos e trabalhou por quase uma década na dramaturgia como Assistente de Direção de Henrique Martins (1933-2018), a quem é só elogios. "Meu mestre", diz. Nas novelas, esteve em novelas do início dos anos 2000 como Canavial de Paixões (2003), Seus Olhos (2004), Esmeralda (2004-05), Os Ricos Também Choram (2005-06), Cristal (2007), dentre outras. Em 2009, mudou-se para o Programa Silvio Santos e diz que o diretor da atração, Fabiano Wincher, pediu "uma nova cara" para as Câmeras Escondidas. Foi justamente quando ele começou a fazer a adaptação de Os Velhinhos se Divertem e a apostar em um tom mais moderno para o quadro. "Pensamos em fazer algo com uma cara nova, a ideia era trazer um público jovem. A gente não esperava que ia bombar. Estourou e resolvemos seguir essa linha", relembra.

Ele ressalta que o SBT produz pegadinhas para todos os públicos, desde pastelão, com criança como a do Sítio do Picapau Amarelo e essas de terror, baseadas em filmes das telonas. A primeira aconteceu em 2013 com o boneco Chucky, o que abriu portas paras as seguintes como Carrie: A Estranha, A Invocação do Mal, It e Annabelle. "Ninguém conhecia a Annabelle", frisa.

Engana-se quem pensa que as superproduções custam muito dinheiro. Jefferson desmitifica isso e garante que os valores não são tão altos quanto parecem:

"É que acaba ficando visualmente muito legal. O Chucky se você for ver é o figurino e o ponto de ônibus. O ponto de ônibus já existia. A única coisa que fizemos foi colocar o vidro temperado. A gente tem todo esse cuidado pra nada acontecer em cena. Se colocar um vidro comum, pode espirrar nas pessoas. O temperado cai, não espirra. Então tem esse cuidado. A Invocação do Mal, a casa já existia. Annabelle, mesma coisa. É que visualmente fica bacana. Tem uma ou outra que é um pouco mais [cara], mas no geral não."

Ex-telespectador das Câmeras Escondidas virou diretor

Diretor das Câmeras Escondidas detalha superproduções e afasta suspeita de armação: \"Não tem como\"

Aos 39 anos de idade, Jefferson relembra que assistia ao quadro todos os domingos quando criança, mas nunca imaginou que dirigiria anos depois. "Assistia todo domingo quando era criança. Tinha uns 10, 12 anos. Todo domingo à noite nos reuníamos pra esperar as câmeras. Minha irmã era solteira e ia com o namorado para a casa, para assistirmos. Era muito telespectador. Meu sonho sempre foi dramaturgia."

Quando entrou para as Câmeras Escondidas, Jefferson conta que as gravações eram praticamente diárias, já que eram mais simples. Como o SBT já dispunha de um grande acervo delas, desde os anos 1980, lhe foi proposto que o ritmo fosse diminuído, mas que a emissora passasse a ganhar na qualidade. "A ideia era essa. O Fabiano [diretor do PSS] propôs isso. Sabia bem como funcionava a questão dos planos. Antes, as Câmeras eram gravadas atrás de biombos. As ideias eram boas, mas os planos... Era antigo, gravava dentro de carro... A gente começou a estudar outras formas, adaptar cenário, câmera no chão. Na época das Velhinhos [Se Divertem], a gente colocou câmera dentro de carrinho de bebê, a gente investe mesmo em câmeras. A gente põe às vezes dentro da lata de lixo, em mala tranversal ou colocamos ela em algum ponto da rua."

"A ideia era mudar aquela coisa quadrada. A gente começou a testar os planos, algumas coisas, quando começamos a fazer Os Velhinhos se Divertem e fui para Los Angeles. E tinha uma gravação dos Velhinhos lá, o Off Their Rockers com a Betty White e lá vi essa forma de câmeras com lixeira, algumas traficanas. A gente já tava fazendo isso, e lá aprendi mais ainda", recorda.

Não há armação nas pegadinhas, garante

Diretor das Câmeras Escondidas detalha superproduções e afasta suspeita de armação: \"Não tem como\"

Assunto recorrente quando se trata de pegadinhas, Jefferson é categórico: não existe nada forjado. "Como você vai ter uma reação de uma pessoa comum chorando de susto? É difícil ter uma reação. A gente grava hoje um, dois dias uma brincadeira, em superprodução", explica.

"Hoje a gente tem making of. Numa fase, muitas pessoas começaram a reconhecer o Ivo [Holanda]. A gente não coloca. 'As pessoas não reconhecem?'. Reconhecem. Mas não vou colocar no ar uma vítima que reconhece o Ivo porque não tem graça. Essas reações que elas reconhecem hoje, colocamos no making of, a gente tem um programa chamado Câmera Escondida que vai ao ar todo domingo no YouTube, estamos no nono. É o Ivo que apresenta. É um programa de auditório e lá a gente mostra muito os bastidores. A gente leva vítimas que caíram. Tem uma menina que caiu há 21 anos. Ela conta como foi, se ficou famosa depois. Os apresentadores perguntam tudo isso. Não tem como não ser real. Se for ver as reações de sustos, não tem como. Mas ninguém reconhece? Reconhece. Às vezes ficamos cinco, seis, sete, 10, 15 horas gravando pra tentar pegar uma ação boa pra ir para o público. A gente tenta o melhor, mas muitas vezes não vão para o ar. Às vezes as pessoas reconhecem, outras vezes dão risada numa câmera de terror ao invés de tomar susto. Tem muita gente. Que m... é essa, começa a dar risada? Então... Acontece."

Jefferson Cândido rechaça armação nas Câmeras Escondidas

O lado "B", portanto, está disponível semanalmente no canal das Câmeras Escondidas no YouTube, que possui 8 milhões de inscritos, somente atrás do próprio SBT dentro da emissora, que tem 10 milhões. Mas as peripécias de Ivo Holanda & cia totalizam quase 4 bilhões e meio de visualizações, aí sim, batendo o da própria emissora. "É um canal novo praticamente, de 2014 pra cá. Antes não tinha canal de Câmera Escondida. Tanto que a Menina Fantasma quando viralizou, foi no canal de uma fã. Foram fãs que postaram. Depois que a gente foi ter canal, vimos a força que tinha", recorda.

Cândido ainda revela quais são as pegadinhas mais "fáceis" de obter uma boa reação das vítimas. "As câmeras da Vivi são fáceis de ter uma reação boa. Os caras realmente caem na onda dela. São câmeras que a gente faz e são certeiras, que vai rolar e gravar dentro do horário X, entendeu? Com o Ivo hoje, gravamos pouco com ele devido à pandemia. Nos últimos quatro, cinco anos, estamos gravando pouquíssimo com ele. Tem algumas que a gente veste ele, são mais pastelão, de pombo, Pokémon. Ou que ele controla algum carrinho, drone, então a gente evita colocar ele em contato, porque as pessoas reconhecem muito ele. Quando começou a acontecer isso, trouxemos o ator Adriano Arbol que é um outro ator maravilhoso, de teatro, já fez filmes e está em A Praça é Nossa agora. E colocamos muita coisa que seria característica do Ivo nele", acrescenta.

Com uma década nas Câmeras Escondidas, nunca teve uma que não tenha ido ao ar, mas ele relembra uma que não conseguiu fazer. "Uma vez faríamos uma parceria com a Warner que era do King Kong, e a minha ideia era uma sala, num escritório, a gente ia fazer até em um prédio da Paulista, a gente ia começar a ter notícias na TV, íamos fazer um tremor no andar e no final de tudo ia entrar as mãos do Kong na sala quebrando as paredes. Além de ser caro, acima do esperado, o tempo era curto, porque na época o filme ia ser lançado acho que em março, e mudou para lançar em janeiro, e passaram pra gente em novembro. E não é assim. A gente começa a elaborar muito tempo antes. Pode chamar isso de superprodução. Tem que produzir muito tempo antes. Annabelle, a primeira, começamos a fazer seis meses antes."

"Mostraram o filme pra gente antes do filme estar finalizado. Fui para Los Angeles assistir as filmagens do filme e já trouxe a ideia na cabeça. Não é rápido. A gente faz o cronograma de pelo menos sete meses de antecedência. A gente sempre vê o que tá saindo, o que é tendência lá na frente. Nosso público é muito exigente, a gente conquistou isso. Na época do The Walking Dead, fizemos aquele no metrô, que foi um ano de produção. A gente conseguiu e rolou. Os filmes sempre a gente vê antes. As distribuidoras mostram antes. Por exemplo, o Caça Fantasmas estreia dia 11 [de novembro], a gente já viu. Só não fui pra Los Angeles acompanhar as filmagens. E a gente gosta, todo mundo curte muito o que faz."

A pegadinha dos Caça Fantasmas é mais uma superprodução que vai ao ar no SBT e impressiona. "A gente fez uma seleção e encontramos essas quatro crianças. O carro foi construído no SBT e adaptado, conseguimos o carro fiel ao filme e construímos a Geleia também, esse fantoche. Os quatro atores estão idênticos aos americanos, se você ver o trailer, o perfil, estão réplicas. Sósias. Idênticos. Muito parecidos", orgulha-se. Confira a foto em primeira mão abaixo:

Diretor das Câmeras Escondidas detalha superproduções e afasta suspeita de armação: \"Não tem como\"

Pegadinhas do SBT são sucesso no mundo

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As ideias simples também rendem, como uma de Vivi Fernandez que interpreta uma cega paqueradora. "É uma câmera muito simples, mas ficou incrível. Não tem nada de superprodução, e aí a gente vê resultado pra caramba. A da escada rolante da Vivi é a que tem mais visualizações no nosso canal hoje. Ela é muito simples, tem mais de 50 milhões de views só no nosso canal. Uma coisa que a gente tenta fazer. A maioria dessas câmeras a gente tenta não colocar muito texto quando a gente pensa em viralizar lá fora, é mais gestual. Não tem texto. Agrada todo mundo quando você consegue atingir todas as línguas."

Segundo o diretor, as Câmeras Escondidas do SBT são um sucesso nos Estados Unidos, França e Japão. Até mesmo em voos elas foram exibidas, bem como nos cinemas em A Maldição da Chorona. A câmera de terror abriu a sessão não só no Brasil, mas na América Latina. E ele compartilha uma história curiosa: "Fizeram até um filme baseado nas nossas câmeras, da Menina Fantasma. Esqueci agora, é um americano de terror, claro, e eles contam a história de uma equipe de produção de câmera escondida. E aí eles criaram, até o jeito do teste que eu fiz na Menina Fantasma na época da Anna Lyvia eles souberam. Como eles souberam? Não sei como descobriram isso".

Outra curiosidade é que os Velhinhos se Divertem é um formato francês. E adivinha só quem foi o responsável por trazê-lo ao Brasil? "O próprio Silvio trouxe uma vez um DVD e falou que estava comprando esse formato."

Para janeiro, a aposta é uma pegadinha do filme Pânico, que já está em produção. Por conta da pandemia, as produtoras ainda estão voltando em um ritmo mais lento que o normal e ainda não vem sendo possível planejar outras do tipo.

Questionado sobre porque o quadro faz sucesso até hoje, o diretor é categórico: "As pessoas tentam se distrair, sair dos problemas, é meio que uma válvula de escape, vejo pelos comentários. Fico muito ligado em tudo. Leio cada comentário nos vídeos. Às vezes perco duas, três horas do dia lendo comentários das pessoas. Os comentários no YouTube são muito nosso feedback. 'Ah, tava cheio de problema'... Acaba virando uma válvula de escape para o público. É uma diversão sadia, a galera curte mesmo. A galera é fã do Ivo Holanda que tem 86 anos e continua aí até hoje".

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