De volta aos estúdios, âncoras da ESPN relatam perrengues do home office
De acidentes domésticos e afastamento por Covid-19, Felipe Motta e Glaucia Santiago têm histórias para contar do período de trabalho remoto
Publicado em 26/09/2021 às 16:00,
atualizado em 26/09/2021 às 16:01
Todos os programas do ESPN voltam às transmissões em estúdio a partir desta segunda-feira (27). Entre os profissionais que trabalhavam de casa desde março de 2020 estão os âncoras Felipe Motta e Glaucia Santiago, que comandam o Sportscenter 2. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, os jornalistas falam do retorno ao trabalho presencial e relatam perrengues que viveram nos longos meses em home office.
“É uma sensação muito boa poder voltar a fazer o jornalismo como a gente ama, com boa estrutura, podendo debater os assuntos olho no olho. Como houve também a fusão entre Fox Sports e ESPN [em maio de 2020], finalmente vamos conhecer pessoalmente pessoas com quem já temos um entrosamento no vídeo, um carinho e uma amizade”, relata Gláucia Santiago.
A volta aos estúdios será na semana em que a jornalista completa dois anos de ESPN. Ela chegou ao canal em 30 de setembro de 2019 e, poucos meses depois, foi para casa por conta da pandemia. “Curti muito pouco a ESPN presencialmente. Tive pouco convívio e contato com os colegas”, comenta. Para Gláucia, o período de trabalho remoto foi desafiador.
“A transmissão ao vivo já tem sua carga de adrenalina. Se fazer TV já é uma loucura por si só, fazer de casa é ainda mais. Ainda que tenhamos hoje tantas plataformas digitais e um conteúdo na web que tanto avançou nos últimos anos, foi uma loucura. Nosso trabalho é feito a várias mãos, e essas mãos não estavam mais próximas. Às vezes, eu parava e pensava: ‘Como tudo isso está indo ao ar?’.”
Glaucia Santiago
Para gravar em casa, Glaucia Santiago suportou obra de vizinho, supermercado barulhento e Covid-19
Muitos improvisos marcaram os primeiros dias de home office, em março de 2020. “Inicialmente, improvisei a gravação na mesa de jantar do meu apartamento. Arrastei móveis e empilhei livros e caixas para a câmera chegar à minha altura. Depois, fui para um quarto que transformei em escritório. Passei a usar um computador, um celular e um tablet, cada um para uma função.”
Houve dias de muito estresse, com problemas de trabalho aliados à rotina em casa. “Tenho a impressão que o meu prédio foi inteiro reformado nesta pandemia, porque todo dia era uma obra de vizinho. Só nesses dias percebi o quão incômodo é o supermercado aqui do lado, sempre com muito barulho justo na hora de entrar no ar”, relata Glaucia.
O maior perrengue, contudo, foi a contaminação pela Covid-19, que a afastou do trabalho por 45 dias. “Foram muitos dias em total isolamento em casa, sozinha. Peguei uma carga viral bem alta, tive sintomas, inflamação no pulmão. Havia também a frustração de querer voltar, retomar a rotina, porque é uma doença que cansa muito mentalmente”, conta.
A jornalista encara o retorno ao trabalho presencial como o início de um novo ciclo. “Superamos tudo que nos foi colocado e vencemos. A expectativa é que essa retomada seja não só nossa, mas de todos, com vacina e diminuição dos casos de coronavírus. Será um marco muito positivo e de esperança”, torce Gláucia Santiago.
Com dois filhos pequenos em casa, Felipe Motta vê retorno como “mais uma passo na luta por sobrevivência”
“Esse retorno tem um simbolismo muito forte, não só profissional”, avalia Felipe Motta. “Minha família foi muito rígida na questão de ficar em casa. Voltar ao trabalho traz a sensação de que, aos poucos, podemos retomar algum senso de normalidade. Obviamente ainda temos chão pela frente, mas já é um passo a mais nessa nossa luta por sobrevivência.”
Com dois filhos pequenos em casa, o jornalista também enfrentou maus bocados nos últimos meses. Em um dos episódios, estava ao vivo quando ouviu uma queda do caçula, hoje com três anos. “Ouvi o barulho e aquele choro alto logo depois. Percebi que a coisa tinha sido feia e fiquei pensando se minha mulher o levaria para o hospital, se eu deveria sair da transmissão...”, recorda. Felizmente, tudo não passou de um susto.
Em outra ocasião, prestes a entrar no ar, o âncora foi ao banheiro e, ao retornar, esqueceu de ligar um dos cabos que o conectava à equipe. “Não ouvia meus colegas falando. Foi um corre-corre, o pessoal se esgoelando… Entramos no ar e só depois percebi que não tinha plugado um dos cabos. Na hora, consegui disfarçar, mas foi uma cagada minha”, se diverte.
O improviso também marcou suas primeiras transmissões longe do estúdio. Sem tripé em casa, teve que usar um pufe em cima de uma cadeira, junto a uma pilha de livros, para posicionar a câmera adequadamente na sala de estar. O companheirismo da esposa, Paula, foi fundamental nesses momentos. “Ela foi cenógrafa, cabowoman, maquiadora, figurinista e até gerente de produção no cuidado com nossos filhos.”
Felipe acredita que o home office trouxe aprendizados que permanecerão no retorno ao presencial, como as experiências em entrevistas e outras transmissões à distância. Com a fusão entre ESPN e Fox Sports, ele também terá a chance de conhecer pessoas com quem nunca esteve presencialmente, mas com quem já desenvolveu uma química de trabalho.
“É a beleza da dificuldade. Finalmente vou poder conhecer pessoas que já fazem parte da minha vida há meses. Passei a trabalhar com centenas de profissionais que eu nunca vi. São pessoas que já se tornaram cúmplices, uma com as outras e com o próprio ofício. Para fazer TV, precisa ter troca, energia e compreensão até na adversidade, nas discussões. Voltar ao estúdio, para mim, é uma libertação.”
Felipe Motta
O Sportscenter 2 é exibido no ESPN Brasil de segunda a sexta-feira, das 16h às 18h. Além de Felipe Motta e Glaucia Santiago, participam do programa Natasha David e Renato Rodrigues.