Celebrado?

Na Globo, Miriam Leitão aponta mentiras na carta de Braga Netto sobre golpe de 64

Jornalista da Globo detonou novo ministro do Governo Bolsonaro


Miriam Leitão falando no Bom Dia brasil de seu escritório
Miriam Leitão detona novo ministro da Defesa - Foto: Reprodução/TV Globo
Por Redação NT

Publicado em 31/03/2021 às 09:44,
atualizado em 31/03/2021 às 10:23

Miriam Leitão desmentiu o novo Ministro da Defesa, Walter Braga Netto, na manhã desta quarta-feira (31) no Bom Dia Brasil. Depois de dizer que o golpe militar de 1964, que completa 57 anos hoje, deve ser "compreendido e celebrado", a comentarista política explicou que essa "comemoração" fere a Constituição Brasileira de 1988. "Por que fere a Constituição? Porque exalta um período onde houve uma ruptura democrática. Essa nota tem mentiras", iniciou ela.

O golpe foi classificado pelo novo ministro como "movimento", e Miriam discordou: "É mentira que é só um movimento. Foi um golpe seguido de uma ditadura de 21 anos. É mentira que foi feito para garantir as liberdades democráticas. Suspendeu as liberdades democráticas, principalmente durante os 10 anos de AI-5. Todos as liberdades e garantias individuais. É errado que a gente tenha que celebrar na democracia, não faz cabimento em nenhum país democrático do mundo, não se celebra um momento de ruptura da ordem democrática".

"Não faz sentido que a gente esteja aqui hoje, agora, conversando sobre o que aconteceu há 57 anos. O Governo Bolsonaro é que trouxe, levou o país pra esse túnel do tempo. Temos emergência, agora. Ontem morreram quase 3700 brasileiros [vítimas de Covid-19], mas o presidente Bolsonaro jogou o país numa crise militar, veja só, e impõe sobre o país uma interpretação falsa da história", detonou ela.

O golpe de 1964 na visão de Miriam Leitão

Para Miriam, 57 anos depois do golpe, é hora de parar de brigar com os fatos e admitir o que realmente aconteceu. "Ninguém pode discutir esse assunto sem estar mentindo. Não faz sentido nenhum nada do que tá acontecendo. Nem celebrar 31 de março, mentir sobre 31 de março e a gente se preocupar com isso quando temos emergências agudas dilacerantes nesse momento da história do país", acrescentou.

A palavra para definir o atual momento é "bizarro", segundo ela. Apesar disso, os militares se comportaram muito bem, apontou a jornalista. "Os três comandantes se comportaram de maneira correta. Fizeram esse movimento de entregar os cargos e foram demitidos porque o presidente decidiu mostrar essa autoridade. Eles vão respeitar a constituição e fazer seu papel constitucional. As Forças Armadas têm muito a fazer pelo Brasil, ajudaram nessa pandemia. Não podem entrar nesse labirinto que o presidente Bolsonaro quer levá-las", opinou.

Confira a carta de Braga Netto na íntegra:

"Eventos ocorridos há 57 anos, assim como todo acontecimento histórico, só podem ser compreendidos a partir do contexto da época. O século 20 foi marcado por dois grandes conflitos bélicos mundiais e pela expansão de ideologias totalitárias, com importantes repercussões em todos os países.

Ao fim da segunda guerra mundial, o mundo, contando com a significativa participação do Brasil, havia derrotado o nazi-fascismo. O mapa geopolítico internacional foi reconfigurado e novos vetores de força disputavam espaço e influência. A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia.

Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das forças armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964.

As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos.

Em 1979, a Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional, consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia. Foi uma transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo. O país multiplicou suas capacidades e mudou de estatura.

O cenário geopolítico atual apresenta novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias. As Forças Armadas estão presentes, na linha de frente, protegendo a população.

A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país.

O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março."

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