Revolta

Mauro Beting abandona jogo da Champions ao vivo após ofensa racista

Demba Ba, reserva do Istanbul Basaksehir, acusou quarto árbitro de racismo


Mauro Beting abandona transmissão de PSG x Istanbul Basaksehir pela Champions League
Mauro Beting abandona transmissão de PSG x Istanbul Basaksehir pela Champions League - Foto: Reprodução/EI Plus

Comentarista do Esporte Interativo, Mauro Beting decidiu abandonar a transmissão de Paris Saint-Germain x Istanbul Basaksehir, nesta terça-feira (8), pela Champions League, após o jogador Demba Ba, reserva do time turco, acusar o quarto árbitro por uma ofensa racista. Enquanto os atletas saíam do campo aguardando a definição sobre a continuidade do jogo, o jornalista sentenciou que não trabalharia mais na partida se ela fosse retomada.

Beting acompanhou a revolta do narrador Jorge Iggor e disse que é preciso tomar atitudes como as que os jogadores tiveram: ser intolerante contra os intolerantes.

"A única coisa realmente boa é que os atletas tomaram a atitude que tinham que tomar já há muito tempo em outras situações. Todos os atletas saem, independentemente da cor, porque isso é uma questão de humanidade, questão de respeito. Repito: Amar é fácil, respeitar é mais complicado, e respeito e amor total à atitude dos colegas de Istanbul e Paris Saint-Germain. Hoje foi o marco zero. Claro que isso não se debela de uma hora para outra, mas é com atitudes como essa, com intolerância contra os intolerantes, que a gente vai começar a consertar alguma coisa no futebol", afirmou o comentarista.

Mauro ainda descreveu a quem é racista por que "vidas negras importam", lembrando os séculos de escravidão que repercutem até hoje na estrutura da sociedade: "Desculpe a emoção, porque não dá para falar outra coisa. Todas as vidas importam, mas aquelas que são segregadas e maltratadas há séculos importam mais".

Em seguida, Beting anunciou que não comentaria o jogo se voltasse a ser realizado: "Se a gente conseguiu superar uma pandemia, a gente consegue superar um jogo a mais para depois. Gente, não é uma questão de pontuação, de confronto direto. Aliás, é um confronto direto com a humanidade! É um negócio desumano se a gente continuar o jogo, como aliás, infelizmente, várias vezes aconteceram jogos que não poderiam acontecer ou seguir acontecendo por outras tragédias, problemas físicos, cai o estádio, chuva, neve, excesso de calor. Isso aqui é um excesso de humanidade, o mínimo de humanidade e o mínimo de respeito que a gente quer! Não pode voltar a ter jogo!".

O comentarista prosseguiu: "Repito: se tiver jogo, não vai ter comentarista, e aí, evidentemente, estarei submetido ao que vier, mas eu não comento mais esse jogo. Posso ficar aqui sentado, mas não dá, cara, não dá nem para brincar. Gente, isso não é brincadeira, é muito sério".

O narrador Jorge Iggor fez um forte discurso contra o caso de racismo: "Hoje chegamos ao ponto mais baixo, mais rasteiro, mais inadmissível da intolerância, da estupidez entre as relações humanas. A gente já viu de tudo e tudo é repugnante, tá? Todos os episódios [de racismo] que nós já vimos são repugnantes, são graves e inaceitáveis de jogador ofendendo jogador racialmente, de torcedor usando ofensa racial e de xenofobia de todo o tipo de intolerância que não sei de onde vem, mas isso foi pior. Hoje foi pior. Se alguém duvidava que a gente chegaria ao ponto mais baixo, a gente chegou hoje. Porque o quarto árbitro é uma autoridade, porque tem que aplicar regras, aplicar a lei, ele ofender racialmente um jogador é de dar nojo".

Jorge disse que há muitos casos de ataques raciais ao redor do mundo e criticou quem afirma que não há racismo. O narrador explicou que o preconceito e a intolerância não é "discurso político" e que atinge todos os lugares do planeta.

"Olha o nível que nós chegamos. E ainda vai ter gente dizendo que não há racismo no mundo, que não existe intolerância no mundo. Tem gente que tem a capacidade de usar o cinismo, a petulância de negar o óbvio, de negar a realidade que está nos nossos olhos, que a gente vê todos os dias, que a gente vê nos estádios, que a gente vê no shopping, que a gente vê em qualquer lugar, tá aí pra quem acha que isso é discurso político, de quem acha que isso é balela, que isso é conversa fiada. Quem não sente na pele, fica muito mais fácil achar que isso é conversa fiada. Sinta na pele, perceba os episódios que estamos vendo todos os dias", acrescentou.

"Constate com seus olhos, porque a realidade tá aí. Eu fico feliz com os avanços que tivemos ao longo dos anos, mas eu quando eu vejo um árbitro, uma autoridade cometendo uma barbaridade dessa, eu desanimo. A gente tem muito o que fazer pra mudar isso aí", completou.

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