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Pesquisadores se reúnem e início da TV no Brasil ganha nova versão

Artigo apresentado pelo professor Fernando Morgado comprova que o primeiro beijo da TV foi dado na Tupi do Rio


Índio Curirim, símbolo da TV Tupi, em vinha da emissora em 1950
História da TV brasileira está sendo recontada - Foto: Divulgação

Muitos dizem que a televisão só apareceu no Brasil em 18 de setembro de 1950, quando aconteceu a festa de inauguração da Tupi-Difusora, em São Paulo. Outros afirmam que a história da TV Tupi começou mesmo no fim de julho de 1950, quando os transmissores do então canal 3 paulistano foram ligados. Há ainda quem trate a apresentação do frei José Mojica, realizada em meados daquele ano no Museu de Arte de São Paulo, como uma pré-estreia da TV brasileira. Contudo, os Diários Associados, grupo empresarial que controlava a Tupi, fizeram suas primeiras transmissões de TV no Rio de Janeiro em abril de 1950, e não em São Paulo.

Esta foi a conclusão do artigo "O pioneirismo do Rio de Janeiro nas transmissões experimentais da TV Tupi". Ele foi apresentado durante o VI Encontro Regional Sudeste de História da Mídia, o que referenda as conclusões do trabalho. O evento foi realizado pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (ALCAR), principal entidade do setor no país, entre os dias 19 e 21 de novembro de 2020. Devido à pandemia de Covid-19, o encontro, que contou com a participação de professores consagrados nacional e internacionalmente, aconteceu de forma remota.

O trabalho foi realizado por Fernando Morgado, professor de televisão mundial das Faculdades Integradas Hélio Alonso, membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy, coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador associado do Laboratório de Estudos de Memória Brasileira e Representação da ESPM-Rio. Morgado também é autor de vários livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos - A Trajetória do Mito.

"'As primeiras experiências da Televisão Tupi': esta é a manchete estampada no centro da capa da edição de 16 de abril de 1950 do Jornal. O acontecimento é descrito como sendo 'a primeira transmissão de televisão realizada com o equipamento móvel da Televisão Tupi', e não como teste de câmera ou algo que o valha. Fotografias comprovam que as imagens captadas foram de fato transmitidas e recebidas por aparelhos de TV. Trata-se, portanto, do registro de uma transmissão experimental ocorrida no então Distrito Federal cerca de três meses antes daquelas noticiadas na capital paulista", escreveu Morgado logo no início do seu artigo.

Duas semanas depois dessa transmissão pioneira, realizou-se uma segunda que, assim como a primeira, ocorreu no auditório da General Eletric, no Rio de Janeiro. Tudo foi registrado em uma matéria jornalística de três páginas publicada pela revista O Cruzeiro, principal publicação semanal da época, com tiragem de 280 mil exemplares. Textos e fotos são assinados por Luciano Carneiro, um dos maiores profissionais da história da revista. Foi justamente nessa segunda transmissão experimental da Tupi no Rio que aconteceu o primeiro beijo da televisão brasileira, dado por Aimeé e Carlos Frias. A cena foi recebida por aparelhos de TV e uma foto da tela foi tirada no momento exato em que os lábios se encontram.

Além de se valer de extensa pesquisa documental e bibliográfica, Morgado recorreu ao conceito de televisão formulado por alguns dos principais teóricos da área no mundo. "Daniel Chandler, Dominique Wolton, Marshall McLuhan e Rod Munday são alguns dos vários autores que separam a definição de cada mídia da forma como elas são transmitidas. Há muito tempo que circuitos abertos ou fechados, torres e transmissores de ondas hertzianas deixaram de ser suficientes para explicar o que é TV. Do contrário, a televisão a cabo, que não emite sinais pelo ar e se restringe apenas aos que pagam assinatura, não poderia ser chamada de televisão. Os canais ao vivo no Globoplay também não seriam TV, pois chegam aos espectadores através da Internet", esclareceu Morgado.

E concluiu: "Esses autores também não mencionam a necessidade de se ter audiências massivas para se chamar algo de televisão, afinal, canais que dão traço no ibope também fazem TV. Este meio é, acima de tudo, uma instituição cultural, com códigos e linguagem muito particulares. Sendo assim, não há qualquer razão para que todas as produções feitas antes de 18 de setembro de 1950 não sejam consideradas em termos históricos".

 A polêmica do primeiro beijo da TV

Em março de 2020, o NaTelinha publicou a descoberta feita por Fernando Morgado do pioneiro beijo entre Aimeé e Carlos Frias. Até então, acreditava-se que Vida Alves e Walter Foster teriam sido os primeiros a se beijarem na TV, durante a novela Sua Vida Me Pertence, que estreou no dia 21 de dezembro de 1950 na Tupi de São Paulo. "E, no último capítulo, quando finalmente o galã (Walter Foster) se decide pela outra (Vida Alves), acontece o primeiro beijo. Lento, romântico. Lábios nos lábios. Cabeças inclinadas. Amor. Suavidade. Beleza", escreveu Vida em seu livro TV Tupi: Uma Linda História de Amor.

A atriz contou ainda que o fotógrafo dos Diários Associados, Chico Vizzoni, teria se recusado a registrar o beijo por considerá-lo "um escândalo". Não existe, portanto, qualquer registro do beijo entre Vida e Walter em foto ou videotape, que demoraria alguns anos para chegar ao Brasil.

Em mensagem publicada pelo site TelePadi, Elmo Francfort, profissional que trabalhou ao lado de Vida Alves durante quase 20 anos, reconheceu a descoberta feita por Morgado, esclarecendo que o beijo dado na televisão paulistana teria sido o primeiro em uma fase "não experimental". Francfort contou, inclusive, que ouviu José de Almeida Castro, ex-diretor dos Diários Associados, confirmar o pioneirismo de Aimée e Carlos Frias: "Sabe de uma coisa, rapaz, tenho provas de que esse primeiro beijo não foi deles [de Vida Alves e Walter Foster]. Foi lá na TV Tupi do Rio de Janeiro, eu estava lá". Elmo afirmou ainda Almeida Castro teria lhe relatado o fato com riqueza de detalhes. O site da Pró-TV, associação fundada por Vida Alves em 1995, na página dedicada a Carlos Frias, destaca que ele e Aimeé deram "o primeiro beijo na telinha carioca".

NaTelinha reverencia Vida Alves e Walter Foster

Em 2020, completam-se 70 anos da inauguração da TV Tupi de São Paulo e o NaTelinha comemora seu 15º aniversário. Mesmo com o advento de várias tecnologias, a televisão continua sendo protagonista do campo da comunicação e principal fonte de entretenimento e informação para os brasileiros.

Pautado na ética e no compromisso com o jornalismo independente, o site registra os principais fatos ocorridos diante e por trás das câmeras envolvendo artistas, executivos e demais profissionais da TV. Em alguns casos, como neste, recontando a história do meio.

O NaTelinha reforça a importância histórica de Vida Alves e Walter Foster, que foram os primeiros a se beijarem em uma telenovela no Brasil. O trabalho que eles e tantos outros pioneiros desempenharam nos quatro cantos do país foi fundamental para que a TV brasileira se posicionasse como uma das melhores do mundo. Para Vida Alves, Walter Foster e demais pioneiros, a nossa homenagem e o nosso reconhecimento.

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