Dia das Mães: Por que o vínculo de mães é tão importante para a dramaturgia
Tema é recorrente nas novelas brasileiras
Publicado em 12/05/2019 às 09:00
Neste domingo (12) se comemora o Dia das Mães em todo o Brasil. E se existe um assunto que é tratado de todos os modos e com diversos olhares na teledramaturgia nacional é justamente a relação entre mães e filhos e mesmo entre mães e o resto do mundo.
O NaTelinha falou com diversos especialistas sobre o assunto e todos foram unânimes em apontar que o vínculo emocional e afetivo que uma mãe costuma ter com seus filhos, principalmente na cultura ocidental, é o fator decisivo para gerar interesse da dramaturgia.
"Não é apenas na dramaturgia, mas na arte em geral. A música e a Literatura falam muito dessa relação de amor quase doentio que as mães costumam ter com seus filhos", comentou o professor de História Cícero de Souza. Para ele, isso acontece justamente por conta da cultura ocidental.
"No ocidente, a relação de uma mãe para com seus filhos é quase sagrada. Como foi desenhado um amor incondicional para a cultura deste lado do mundo, essa força acaba sendo muito atraente para a arte em geral", concluiu. Quem concorda com ele, mas acrescenta a questão religiosa é o Pastor Oscar Benevenutto.
"A relação de mães é vista desde os primórdios pelo olhar da religião. Eva, Maria, são muitas as mulheres que aparecem na Bíblia e que a maior função é ser mãe, isso acaba inundando o imaginário popular e transformando em força para se contar histórias", explicou ele.
Cícero lembra que a relação de mãe e filho é tão estranha que inspirou até um dos grandes clássicos do teatro e da Literatura, "Édipo Rei", de Sófocles que narra a história de um rei que se apaixona e se relaciona com a própria mãe. Essa ligação profunda de amor doentio narrada na história acabou servindo de base para a psicologia dar nome a uma doença sobre o tema.
O "Complexo de Édipo" designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que um menino tem para com sua mãe durante a infância e é tratado como um fenômeno psíquico.
Nas novelas isso se repete desde que existe o formato. São centenas de histórias em que as mães se sacrificam em amor do filho. Praticamente todos os autores já contaram essa história de alguma forma e, em determinado momento, chegaram a causar conflito entre eles.
Foi o caso de "Fina Estampa" (2011) e "Morde e Assopra" (2011). A trama de Walcyr Carrasco exibida no horário das 19h acabou gerando atrito entre ele e seu colega Aguinaldo Silva. É que Aguinaldo acusou o colega de ter "roubado" um plot de sua novela que não tinha estreado ainda. A história da mãe que se sacrifica para estudar o filho que tem vergonha dela.
No caso de "Morde e Assopra", Walcyr mostrou a história de Dulce (Cássia Kiss) que era muito pobre e humilde e fazia tudo para bancar a faculdade do filho Guilherme (Kleber Toledo) que engana a mãe e sequer estuda, além de se envergonhar dela.
O caso se repetiu em "Fina Estampa". Aguinaldo Silva levou ao ar, com ares de protagonismo, a história de Pereirão (Lília Cabral) que trabalhava como marido de aluguel para pagar a faculdade do filho Antenor, vivido por Caio Castro, que também tinha vergonha da mãe.
Para a psicóloga Laís Figueira esse tipo de história é bem vista porque está longe da realidade das pessoas. "Quase ninguém conhece um filho que tenha vergonha das mães, mas acha que conhece porque isso povoa o imaginário popular", lembrou.
Laís comentou ainda que considera o sacrifício que mães fazem em prol de filhos um clichê que nunca ficará velho justamente porque é muito próximo do cotidiano. "Nem sempre uma mãe mata pelo filho, mas todas sabem que se preciso fosse, elas matariam", concluiu.
É como "Por Amor" (1997) e "Laços de Família" (2000), duas tramas de Manoel Carlos que tratam justamente do sacrífico materno. A atual reprise do "Vale a Pena Ver de Novo" mostra como Helena (Regina Duarte) fará tudo para ver sua filha Eduarda (Gabriela Duarte) feliz, inclusive, trocar os bebês.
O mesmo acontece em "Laços de Família", quando Helena (Vera Fisher) vai para cama com Pedro (José Mayer) apenas para engravidar e ter um filho para salvar sua filha Camila (Carolina Dieckmann) que está com leucemia. E casos assim são recorrentes.
Para Laís, enquanto houver telenovela, haverá força das mães no formato. "Não é possível imaginar o formato sem voltar a mostrar a relação das mães com os filhos", conclui ela lembrando que precisa comprar um presente para sua mãe em comemoração ao Dia das Mães e encerrando a entrevista.