Dia de Combate à Aids: Globo teve série pioneira sobre HIV, mas atores recusaram papel
O Portador enfrentou resistência dentro da própria emissora, segundo Jayme Periard
Publicado em 01/12/2023 às 15:00
Nesta sexta-feira, 1º de dezembro, é lembrado o Dia Mundial de Combate à Aids. Nos anos 1990, quando a desinformação acerca da doença era ainda maior, a Globo foi pioneira ao lançar uma série sobre o assunto. Contudo, a produção enfrentou resistência de atores, que recusaram o papel.
Em O Portador, o ator Jayme Periard deu vida a Léo, protagonista que descobre ser HIV positivo. Em entrevista ao NaTelinha, ele revelou que houve um medo, nos bastidores da emissora, em abordar o assunto. Além disso, colegas recusaram o papel, com medo do estigma.
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“Foi uma minissérie muito difícil, que sofreu resistência dentro da própria Globo e acabou engavetada por um bom tempo”, contou Jayme, há dois anos. O ator foi convidado pelo diretor Herval Rossano (1935-2007) assim que este teve a ideia da minissérie.
“Logo depois do convite, a Globo disse que queria outro ator, que estivesse mais em evidência e fosse mais experiente. O Herval me avisou e aceitei, obviamente, não tinha o que contestar, mas disse a ele que aquele personagem seria meu. Pouco depois, ele me ligou novamente informando que alguns atores haviam recusado, com medo do estigma, e o Léo retornou para mim.”
Jayme Periard
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O Portador foi ao ar bem antes de HIV/Aids virar assunto em vários filmes e séries. Passou na TV dois anos antes de Tom Hanks dar vida a um advogado soropositivo no filme Filadélfia (1993), papel que lhe rendeu o Oscar.
Ator lamenta que O Portador tenha sido "renegada pela Globo"
Na história, Léo contrai HIV ao passar por uma transfusão de sangue após acidente aéreo. Com a descoberta, precisa lidar com o preconceito de amigos e colegas de trabalho, os conflitos com a ex-namorada Marlene (Dedina Bernadelli) e também com novos interesses amorosos.
Ele também inicia uma jornada para descobrir qual dos outros passageiros do avião fez a transfusão de sangue e, sem saber, também está com o vírus. “Era uma série de 24 capítulos, mas foi reduzida”, revelou Jayme Periard. A produção começou em 1990, mas só foi ao ar em setembro do ano seguinte.
“Foi uma briga grande, porque era um tema muito difícil de ser abordado na época, com pouquíssima informação. Também vivíamos um momento de muita dor, com muitas pessoas morrendo e sendo infectadas.”
Jayme Periard
O ator diz que a minissérie inovou não só pelo tema, mas pela abordagem. “A ideia era muito importante, porque tirava aquele erro brutal de colocar a Aids como uma doença gay, um problema de um grupo de pessoas”, pontua.
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Uma trama paralela mostrava o drama de Aurélio (Edwin Luisi), cujo namorado estava em estágio terminal. Mas, ao final do enredo, quem doou sangue para o protagonista foi Alfredão (Jonas Mello), que contraiu HIV em uma relação heterossexual. No desfecho, a mensagem era de esperança: Léo fica com Marlene e faz um discurso exaltando a vida.
“Até hoje recebo mensagens falando de uma série que não tem cópias nem foi reprisada ou veiculada em nenhum outro lugar. Lamento que, na época e até hoje, O Portador tenha sido renegada pela Globo.”
O tema de abertura, O Tempo Não Para, era uma homenagem ao cantor, compositor e poeta Cazuza (1958-1990), um dos vários talentos perdidos no Brasil em decorrência da doença naquela época. A canção foi regravada por Arnaldo Brandão, do grupo Hanoi Hanoi, outro criador da letra.
Confira a abertura da minissérie O Portador, exibida na Globo em 1991:
