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Por que O Cravo e a Rosa faz tanto sucesso pela 5ª vez?

O NaTelinha conversou com um fã de Catarina e Petruchio e um especialista em novelas para entender o fenômeno; reprise chega ao fim nesta semana com alta audiência


Eduardo Moscovis e Adriana Esteves como Petruchio e Catarina na novela O Cravo e a Rosa, em reprise na Globo
O Cravo e a Rosa foi exibida originalmente entre 2000 e 2001 e já teve quatro reprises: três na TV aberta e uma no canal Viva - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 27/09/2022 às 04:00,
atualizado em 27/09/2022 às 09:13

O Cravo e a Rosa encerra mais uma jornada na TV na próxima sexta-feira (30), quando chega ao fim a quinta exibição da novela. Apresentada originalmente entre 2000 e 2001, a trama de Catarina (Adriana Esteves) e Petruchio (Eduardo Moscovis) conquistou o público mais uma vez e devolveu à Globo o primeiro lugar de audiência no início da tarde, faixa que atravessou uma forte crise nos últimos anos. O NaTelinha conversou com um fã da história e um especialista em novelas para entender o fenômeno da reprise.

Entre os telespectadores fiéis da novela está Edimário Duplat, de Salvador (BA). O aposentado 62 anos divide seu tempo entre o curso de engenharia elétrica, em que ingressou recentemente, e os capítulos finais da trama de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira. Todos os capítulos da trama, aliás, já foram “maratonados” no Globoplay.

“Acompanhei das outras vezes em que passou, mas, como naquela época não havia Globoplay, nem todos os capítulos eu pude assistir. Só agora pude ver do início até ao fim”, conta Edimário. O relato de seu filho, Edimário Júnior, que falou sobre a paixão do pai pela novela no Twitter em agosto, viralizou na rede social:

Edimário tem preferência por histórias de época, por isso pretende acompanhar a substituta Chocolate com Pimenta (2003), que segue o mesmo estilo de O Cravo e a Rosa. Por outro lado, rejeita as demais tramas em exibição na Globo. “Não gosto de Pantanal, acho uma trama mal feita, uma chatice, e a vida já é muito chata”, critica.

Outra que não apetece o baiano é Cara e Coragem, exibida às 19h. “É outra novela chata. É até pior que Pantanal. Nesses horários, prefiro antecipar os capítulos de O Cravo e a Rosa. É engraçado: mesmo já sabendo o final, a gente sempre quer assistir mais uma vez para passar por aquela emoção de novo.”

O casal principal da trama gera uma identificação: o patriarca se vê em Petruchio; já a mulher, Miriam, com quem assiste aos capítulos, guarda semelhanças com Catarina. “A minha esposa também é um pouco fera (risos). Inclusive, sempre disse que ela se parecia com a personagem, quando era mais nova.”

O núcleo caipira, aliás, representa um resgate da infância. “Meu avô tinha uma fazenda há muitas décadas. A gente ia para lá, tinha os bois, as vaquinhas, um monte de bicho... Gosto muito do contato com a natureza”, conta. O grande trunfo, contudo, é mesmo a boa história, na opinião de Edimário:

“A novela é muito boa, não fica chata em nenhum momento. Toda vez que a história ia caindo, o autor dava um upgrade, inserindo mais situações que voltavam a animar. Não é aquela mesmice, como tem no Pantanal. Você quer ver o bem triunfar contra o mal, por isso assisti a tudo de uma só vez. É como se fosse um time de futebol, você fica torcendo.”

Ele conta que não se frustrou com o desfecho, em que os vilões são pouco castigados. “Pelo contrário. É a realidade. Não precisa o personagem mau morrer, sofrer impiedosamente. Basta que o bem vença, e que o mal tenha a chance de se recuperar. Até porque ninguém é totalmente bom ou ruim. Como eu digo sempre, o exemplo evangeliza.”

Inspirada em clássico, história já fez sucesso na TV em outras ocasiões

O Machão
Antônio Fagundes interpretou Julião Petruchio em O Machão (1974), na extinta Tupi - Foto: Reprodução

Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Lucas Martins Néia lembra que O Cravo e a Rosa é inspirada na peça A Megera Domada, de William Shakespeare. A tradição pode ser um fator que justifique o sucesso reincidente da trama, segundo o especialista.

“Estamos falando de uma história que faz parte de um arcabouço da cultura ocidental. É uma história que já contada e recontada, mas que ao mesmo tempo pode iluminar questões contemporâneas, como a emancipação da mulher e o movimento feminista”, identifica Lucas.

Levar o mote shakespeariano para a São Paulo dos anos 1920 também foi a premissa das novelas A Indomável (1965), de Ivani Ribeiro na Excelsior, e O Machão (1974), Sérgio Jockyman e Dárcio Ferreira na Tupi. A dinâmica de uma megera ser "domada" por uma paixão também surge em outras comédias românticos de sucesso, como A Gata Comeu (1985), também de Ivani Ribeiro.

A dobradinha entre os autores principais também foi garantia para o êxito da produção, segundo Lucas. “São dois novelistas que sabem medir a temperatura da história com o público. Walcyr Carrasco é um curinga, capaz de levantar a audiência de qualquer horário. Não tem nenhum tipo de pudor para agradar o público. O texto dele tem um apelo muito popular.”

“Mário Teixeira também tem esse apelo, vide o sucesso de Mar do Sertão, que está mantendo os números da reta final de Além da Ilusão. Ele também tem o dom de mobilizar o público, por mais que algumas de suas novelas pareçam bem aquecidas no início e tenham uma queda por conta de esvaziamento da premissa principal.”

Onda de nostalgia devolveu primeiro lugar de audiência para Globo

O Cravo e a Rosa
O Cravo e a Rosa passou na TV em 2000, 2003, 2013, 2019 e, novamente, desde dezembro de 2021 - Foto: Reprodução

Nos últimos anos, muitas foram as tentativas da Globo para recuperar o primeiro lugar de audiência no início da tarde. Reformulações no Vídeo Show e o lançamento do Se Joga, por exemplo, tentaram tirar a liderança do quadro A Hora da Venenosa, do Balanço Geral, mas só a volta das novelas conseguiu esse feito.

Para Lucas Martins Néia, a Globo entendeu algo que o SBT e a Record já sabem há algum tempo: o apelo das reprises repetitivas junto ao público. Alguns títulos são reprisados à exaustão, como Maria do Bairro e A Usurpadora.

“Até os anos 2000, a Globo tinha um pouco de pudor em reprisar a mesma novela duas vezes no Vale a Pena Ver de Novo”, lembra Lucas. O expediente começou justamente com A Gata Comeu, que passou em 1985, retornou em 1989 e novamente em 2001. “Nos anos 2010, vimos uma maior reincidência de tramas na faixa.”

“Foi quando começamos a mergulhar em um período em que a nostalgia, principalmente em relação à televisão. Muitos têm interesse em reassistir novelas para relembrar a infância ou a juventude. Na mesma época, surgiu o Viva”, destaca Lucas. Mais recentemente, as plataformas de streaming também passaram a revirar acervos.

“O Globoplay tem usado isso como ativo contra plataforma de streaming transnacionais.” Outras empresas, como a Netflix, também apelam a nostalgia dos mais velhos, mas de uma outra forma, a exemplo dos reboots de sucessos do passado ou mesmo de histórias originais como Stranger Things, que foca os anos 1980.

“A TV aberta tem operado muito nessa lógica, pensando em atender um público mais velho, até em detrimento de crianças e jovens, que já há algum tempo está migrando no streaming. Prova disso foi que a Globo acabou com a Malhação e colocou o Vale a Pena Ver de Novo colado na novela das seis. Pode ser um erro, porque não está criando um novo público para as próximas décadas.”

Lucas Martins Néia

O especialista acredita que Chocolate com Pimenta deve manter os bons resultados na faixa. Além de também ter a assinatura de Walcyr Carrasco, a novela bebe em outra fonte da dramaturgia clássica: A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt. “São novelas com o mesmo estilo, mais inocentes, justificadas pelas tramas de época.”

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