Memórias da Telinha

Há 25 anos, O Rei do Gado quase foi vetada por excesso de italianos

Benedito Ruy Barbosa não precisou mexer em uma só linha da trama


Patrícia Pillar e Antonio Fagundes em O Rei do Gado
O Rei do Gado fez sucesso em suas três apresentações na Globo - Fotos: Divulgação/TV Globo

O Rei do Gado estreou em 17 de junho de 1996 na faixa das 21h (ainda era novela das oito, na verdade) e fez grande sucesso na Globo. Suas reapresentações em 1999 e principalmente em 2015, em comemoração aos 50 anos da emissora, também foram exitosas. Mas quase que a trama não saiu do papel. O motivo? O excesso de italianos na dramaturgia do canal.

Segundo noticiou O Globo em 1995, a ordem era vetar italianos em novelas depois de um núcleo parecido em A Próxima Vítima. Benedito Ruy Barbosa, autor do folhetim, havia elaborado a sinopse partindo de um flashback, narrando a trajetória dos imigrantes italianos no Brasil. Ninguém queria abrir mão de suas posições, mas o autor acabou vencendo a queda de braço.

Benedito ficou aliviado quando teve sua ideia aprovada sem mexer numa só linha meses depois. Conseguiu Luiz Fernando Carvalho para a direção, além de garantir Antônio Fagundes no papel principal. Segundo especulava-se na imprensa da época, o folhetim poderia perder o horário para Aguinaldo Silva, que projetava Mar Morto (cogitou-se a ideia de se fazer uma minissérie posteriormente, após perder a faixa para Benedito), que se transformou no sucesso Porto dos Milagres quatro anos mais tarde.

O ineditismo de O Rei do Gado

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Na novela que foi ao ar em 1996, vieram discussões que até então jamais tinham sido trazidas à tona em novelas (ao não ser em Meu Pedacinho de Chão, do próprio Benedito, em 1971), como a reforma agrária (discutida até hoje) e a luta dos trabalhadores do Movimento dos Sem Terra (MST). Em entrevista à Folha de S.Paulo em 1996, Benedito afirmou que uma novela não pode ser alienante e deve informar o público, sempre sendo útil à sociedade, para que o país possa abrir os olhos para sua realidade.

Coincidentemente, O Rei do Gado estreou dois meses depois da morte de 19 trabalhadores sem-terra no Pará, que ficou nacionalmente conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás. Em meio a tudo isso, uma grande história de amor – afinal, é disso que as novelas sempre tratam – entre dois jovens (Henrique e Giovanna, vividos por Leonardo Bricio e Letícia Spiller, respectivamente) de famílias rivais.

Perfeccionismo e sucesso na trilha sonora

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O cuidado com a produção foi grande. Luiz Fernando Carvalho queria conduzir a história dando tratamento cinematográfico, com sequências longas, iluminação detalhista e imagens de encher os olhos.

O cuidado era tanto que numa gravação na Itália foram contratados atores verdadeiramente italianos (os diálogos foram legendados, ainda na primeira fase) e “importados” cerca de 100 nigerianos radicados para viverem os pracinhas negros numa determinada cena. Tudo por conta do realismo exigido pelo autor.

Uma das outras grandes marcas de O Rei do Gado é a trilha sonora. A trama teve dois CDs lançados, que, juntos, obtiveram a maior vendagem de cópias de trilhas de novelas até então. Apenas o primeiro volume, entre CDs e LPs, bateu a marca de 1,5 milhão de vendas.

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