Globo cortou sexo de Império para não ter problemas com a Justiça e irritou equipe
Direção irritou Aguinaldo Silva e Alexandre Nero
Publicado em 29/04/2021 às 04:00,
atualizado em 29/04/2021 às 11:53
Em 2014, ano da exibição original de Império, a Globo optou por cortar as cenas de sexo da trama para readequar a produção para a Classificação Indicativa aceitar que ela recebesse o selo liberado para 12 anos. A decisão fez com que o Ministério da Justiça acatasse as alterações e autorizasse a trama a ir ao ar a partir das 20h, mas irritou o autor Aguinaldo Silva e o protagonista da obra, o ator Alexandre Nero.
No início do folhetim, o público se impressionou com as fortes cenas do Comendador, personagem de Nero, com sua amante e sweet child, Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa). Embora as sequências sensuais de amor fossem elogiadas por boa parte do público à época, o Ministério da Justiça não gostou nada do que viu e classificou o folhetim como impróprio para menores de 14 anos, o que impedia a exibição antes das 21h.
Mesmo que as novelas da faixa iniciem praticamente todos os dias depois desse horário, a Globo teria de enfrentar um problema porque às quartas-feiras, dia do futebol, a novela começava em torno de 20h45, o que estaria proibido por conta da Classificação Indicativa. Quem acompanha hoje pode estranhar isso, já que não há mais vinculação de horário nas portarias do Ministério da Justiça, depois de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), o que incentivou o canal a exibir produções mais fortes no horário do Vale a Pena Ver de Novo, como aconteceu com Avenida Brasil.
Rapidamente a emissora se comprometeu a diminuir a quantidade de cenas de sexo na novela, porque este teria sido uma das principais observações por parte da relatoria do Ministério da Justiça, ao classificar Império como imprópria para menores de 14 anos. A partir daí, a cúpula do canal, à época dirigida pelo novelista Silvio de Abreu, que havia acabado de assumir a função, fez uma espécie de maratona de edições para retirar qualquer sequência que fosse considerada muito pesada para o horário, principalmente as longas cenas de sexo entre José Alfredo e sua sweet child.
Edição em Império irritou Aguinaldo Silva
Embora não tenha tornado público sua insatisfação, Aguinaldo Silva não gostou nada da edição que a cúpula de dramaturgia da Globo passou a realizar para ajustar Império no gosto do Ministério da Justiça. Nos bastidores, o autor chegou a reclamar porque, para ele, a história era um sucesso também pelo relacionamento ousado entre o Comendador e Maria Ísis, que o público aprovava na visão do novelista.
Mas de nada adiantou as reclamações do roteirista ou mesmo a insistência em enviar cenas tórridas nos capítulos, que podiam até ser gravados, mas eram atenuados durante a edição, por orientação de Silvio de Abreu. A estratégia, mesmo irritando o novelista, deu certo e o Ministério da Justiça publicou uma portaria em 23 de setembro daquele ano, quando a novela estava com dois meses no ar, a considerando própria para maiores de 12 anos, o que a liberava para ser exibida a partir das oito da noite, como a emissora carioca queria.
Mudanças irritaram Alexandre Nero
O protagonista da novela, o ator Alexandre Nero, não gostou nada da edição atenuante das sequências entre o Comendador e a amante e chegou a reclamar publicamente da situação. Em um post em seu perfil pessoal no Instagram, o artista fez questão de ironizar a decisão da cúpula de dramaturgia do canal. "Vocês ainda não entendem por que nas novelas não têm sexo, drogas, beijo gay e violência gratuita? Porque isso só existe na vida real!", desabafou.
Houve uma interpretação de que a publicação foi uma clara reclamação das mudanças que a Globo passou a exibir com a novela no ar, bem diferente do que era escrito pelo autor e filmado pelos atores. Mesmo assim, Império seguiu no ar bem mais leve do que se viu no início e, ao final, terminou com média de 32,7 pontos no Ibope e venceu o Emmy Internacional.