No ar em Portugal, Rui Vilhena diz que é o vilão quem define o sucesso de uma novela
Para ele, as pessoas podem esquecer nome da novela, ator, mas jamais o do vilão
Publicado em 05/02/2020 às 04:40
Atualmente escrevendo Na Corda Bamba, pelo canal TVI em Portugal, o autor Rui Vilhena acredita que a construção de um bom vilão é imprescindível para o sucesso de uma novela. Ele já trabalhou no Brasil como colaborador de Aguinaldo Silva em Fina Estampa (2011) e teve uma trama para chamar de sua, Boogie Oogie (2014-15).
Aos 59 anos, Vilhena recorda de quando escreveu a novela na Globo. "Boogie Oogie será sempre um marco incontornável na minha carreira, porque me deu chance de trabalhar com pessoas maravilhosas e experientes como o Ricardo Waddington, o Gustavo Fernandez e um elenco de luxo. É um projeto que guardo com muito carinho", diz em entrevista ao NaTelinha.
Ele se descreve como um tipo de autor que ainda que leia a mesma cena várias vezes, sempre vai encontrar acertos a serem feitos: "O mesmo acontece com qualquer trama que tenha escrito ou venha a escrever. Esse é o ponto de partida para a evolução pessoal e profissional. Melhorar a cada momento".
O autor também vê com naturalidade seu fim de ciclo na Globo: "Mantive e continuo a manter uma ótima relação com a empresa onde as portas permanecem abertas para eventuais colaborações".
Semelhanças e diferenças entre Portugal e Brasil
Na hora de escrever novelas, Portugal importou muito do modelo brasileiro de produzir, segundo Vilhena. "As diferenças, no que compete a escrita, são poucas. Mas, em Portugal, por exemplo, não respeitam os ganchos no final do capítulo. Essa é uma questão que particularmente me incomoda, pois não faz o menor sentido. O gancho é uma ferramenta imprescindível para seduzir e agarrar o público", aponta.
Com o mercado globalizado, ele não vê sentido em trabalhar apenas para um mercado: "Tenciono continuar a escrever no Brasil, assim como em outros países. A globalização não é só de mercadorias, mas também de pessoas, ideias e criatividade. A Netflix é o exemplo perfeito disso".
O poder dos vilões
Enquanto há autores que preferem não incluir personagens maniqueístas em suas histórias, Vilhena não abre mão deles: "O que eu costumo dizer é que uma novela é tão boa quanto o seu vilão. Se o vilão resultar, a novela certamente será um sucesso. Há uma galeria de vilãs inesquecíveis na história da dramaturgia".
E vai além: "As pessoas podem esquecer o nome da novela, do autor, mas não esquecem a Odete Roitman, a Nazaré ou a Carminha. Mas isso não significa que o vilão tem que ser uma caricatura. O lado humano da vilã acaba por seduzir o público. A personagem torna-se muito mais rica, com diversas camadas".
Escrevendo Na Corda Bomba, ele defende que a trama tem se recuperado na audiência: "A novela tem uma boa audiência. Está sempre entre os programas mais vistos. Poucos meses antes da estreia, a TVI entrou em um momento delicado. A emissora começou negociações para ser vendida e passou a ser gerida por uma nova administração. Toda a programação sofreu o baque, o que é natural numa situação dessa natureza".
Ele lembra ainda que o folhetim já ganhou diversos prêmios como Melhor Novela do Ano e comemora: "Neste momento estamos a concorrer como melhor novela da década. A tempestade já passou. A TVI está iniciando um novo ciclo e como diz o ditado que venha a bonança".