Lucas Penteado revela ligação espiritual com Claudinho em filme: "Senti a presença dele"
Ator estrela Nosso Sonho, cinebiografia sobre a dupla com Buchecha; morte do cantor carioca completa 20 anos nesta quarta-feira (13)
Publicado em 13/07/2022 às 04:00,
atualizado em 13/07/2022 às 08:17
Quando Claudinho (1975-2002), da dupla com Buchecha, morreu vítima de um acidente de carro há exatas duas décadas, o ator Lucas Penteado tinha apenas 5 anos de idade. Do uso de boné ao sucesso de hits como Só Love e Quero te Encontrar, as influências da dupla pioneira no funk brasileiro já estavam presentes na vida do garoto. Recentemente, ele viveu a emoção de interpretar o ídolo no filme Nosso Sonho, com estreia prevista para 2023.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Lucas Penteado conta que sentiu uma “ligação espiritual” com Claudinho durante as filmagens, finalizadas no primeiro semestre. “Senti a presença dele desde a preparação para o filme. Houve uma conexão muito grande entre mim e ele. Não tive como me conectar diretamente ao Claudinho, mas a energia dele estava presente o tempo inteiro.”
Essa foi a impressão do ator quando, hospedado em um hotel, começou a estudar o roteiro do filme e a assistir a vídeos sobre a trajetória do funkeiro. “Quando chegou na parte do falecimento dele, apagaram todas as luzes do hotel. A luz apagou e voltou, segundos depois. Foi o momento em que entendi que deveria mesmo fazer o Claudinho e que ele estaria ali o tempo todo me ajudando, me apoiando. Digo isso independentemente de religião. Não sou espírita, mas senti uma conexão energética e espiritual muito forte a partir daquele momento.”
Lucas conta que recebeu o convite para estrelar o longa-metragem logo após sua participação no BBB 21, no ano passado. Antes da alegria, veio a desconfiança. “Primeiro, pensei que fosse trote, porque recebemos muitas ligações de trabalho logo que eu saí do Big Brother, mas que não eram verdadeiras.”
“Quando tive a confirmação de que o convite era para valer, pensei ‘Eu, Lucas, chegando agora no mundo artístico, sou tão pequenininho para representar artistas desse tamanho’. É um privilégio interpretar uma dupla tão importante para a evolução artística da periferia no mercado musical do Brasil e no mundo.”
Lucas Penteado relata encontro com viúva e filha Claudinho e exalta parceria com Juan Paiva
Em Nosso Sonho, Lucas Penteado enfrentou o desafio de encenar um personagem real. “O Claudinho era um cara de tanta luz, tão humilde, gente boa, talentoso. Há uma grande diferença quando você faz uma performance sua, que só existia na cabeça do roteirista. Não tive muitos documentos audiovisuais sobre ele, só os clipes, algumas entrevistas e fotos.”
Além do estudo para resgatar o jeito de ser do cantor e conversas frequentes com Buchecha, o ator também emprestou um pouco de si à composição do personagem. “Se ele era cheio de energia, gostava de dançar, gostava de sorrir, eu também tenho tudo isso e pude emprestar um pouquinho.”
No último dia de gravação, ele conheceu a viúva, Vanessa, e a filha do cantor, Andressa. “Naquela altura, não tinha muito como voltar atrás, porque estavam terminando as filmagens (risos), mas elas me deram o aval. Disseram que eu estava bem próximo ao que ele era, se emocionaram ao me assistir... Foi muito gratificante ver pessoas que o conheceram se emocionando com o meu trabalho.”
A princípio, o ator daria vida a Buchecha, papel que acabou entregue a Juan Paiva. No filme, os dois vão soltar a voz: devem ir ao estúdio em breve para gravar algumas músicas para o filme. Lucas é todo elogios ao colega, com quem já havia trabalhado em Malhação: Viva a Diferença (2017).
“O Juan é o meu herói. Meu parceiro, gentil, delicado, um menino de ouro. Ele divide muito o tanto que ele sabe e o que está sentindo em cena. Eu sou mais gritalhão, e ele tem o jeitão dele, é mais tranquilo. As energias funcionam, porque um puxou o outro. Foi uma parceria e uma conexão inacreditável.”
Com direção de Eduardo Albergaria, Nosso Sonho tem no elenco nomes como Antônio Pitanga, Isabela Garcia, Nando Cunha e Tatiana Tiburcio. O longa chega aos cinemas em 2023, ainda sem data exata definida. A produção é da Urca Filmes, com distribuição da Manequim Filmes.
“Ouvir Claudinho e Buchecha me fez perceber que a periferia tem voz”, diz Lucas Penteado
As primeiras lembranças que Lucas Penteado tem de Claudinho e Buchecha são de tenra idade. “Eu usava boné desde criancinha, no jardim de infância. Meu pai chegou a me deixar de castigo porque eu queria usar boné, e a professora tinha proibido. Quando eu ligo a TV, eles estão lá, de boné. A partir daquela época, meu pai autorizou que eu usasse boné em qualquer lugar que eu fosse.”
Ele diz que a dupla teve importância na formação de sua identidade de vida, não só artística. “Foi quando eu me entendi como artista, mas também como cidadão. Ouvir Claudinho e Buchecha me fez perceber que a periferia tem voz. Não é só guerra, tráfico de drogas e o que a televisão mostra. A periferia é muito maior que isso. É alegria, união, luta. Luta não só política, pela ascensão por meio de políticas públicas. É a luta daquela mãe que trabalha para sustentar seus filhos.”
O ator lembra que a dupla deu visibilidade à arte das periferias. “Nós precisávamos ser vistos para que pudéssemos evoluir. As periferias viviam no exílio social. Eles exibiram nossa realidade para muita gente que nem sabia que esses lugares existiam. A periferia alcançou um engrandecimento que muitos artistas da comunidade burguesa não haviam alcançado.”
“Com o sucesso da dupla, aquele menino da periferia começa a acreditar que é possível. Assim, as alternativas ilícitas não são as mais próximas. Pelo contrário, são as únicas que trazem uma consequência negativa. Seguindo o caminho de Claudinho e Buchecha, a consequência é o aplauso. Em vez de a sociedade ter medo de mim quando eu estiver na rua, vai querer tirar uma foto comigo, dar um abraço.”
Nesta entrevista em lembrança aos 20 anos do falecimento de Claudinho, Lucas Penteado não quis falar de morte. Daquele 13 de julho de 2002, ele busca guardar apenas a emoção da mãe, Andréa Penteado, comovida com a tragédia de carro que tirou a vida do cantor, além das homenagens prestadas pelos artistas nos programas de TV.
“O Claudinho não morreu, continua aqui em todos nós. As músicas, na verdade, foram só palavras. O que ele trouxe de verdade foi o significado do perdão e do amor. Não o amor que temos dentro de nós, mas aquele que conseguimos incendiar no coração do próximo.”