Globo tentou fazer de Vale Tudo uma série, mas virou um Frankenstein das nove
Emissora buscou produzir um formato híbrido entre série e novela
Publicado em 21/09/2025 às 08:40
A nova versão de Vale Tudo tem apresentado temas que surgem e desaparecem sem explicação, muitas vezes sem conexão com a história central da trama. A autora Manuela Dias colocou elementos como o universo dos bebês reborn, o rápido retorno de Raquel (Taís Araújo) à pobreza e o burnout de Renato (João Vicente de Castro) para aproximar o formato de folhetim no de série na faixa das nove da Globo.
A versão original de Vale Tudo, exibida em 1988, apresentava tramas que se desenrolavam ao longo de vários capítulos, como o caso da falsa gravidez de Maria de Fátima, conhecida como “a famosa barriga”.
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Para adaptar a novela aos padrões atuais, houve, internamente, a necessidade não apenas de remontar a obra, mas também de incorporar uma nova dinâmica narrativa, em que os conflitos começam e se resolvem dentro de um único capítulo, como acontece nas séries de TV.
Em um cenário em que as séries dominam o interesse do público jovem nas plataformas de streaming, os bastidores da Globo consideraram estratégico adotar esse formato mais ágil para as novelas. Foi com esse espírito que Vale Tudo foi reformulada.
Na Globo, há um entendimento de que cenas extensas e diálogos longos já não se encaixam no perfil atual dos telespectadores de novelas. A aposta é em uma narrativa mais ágil e direta, alinhada ao consumo rápido de conteúdo.
Embora essa justificativa perca força quando as reprises clássicas do Vale a Pena Ver de Novo alcançam recordes de audiência.
Vale Tudo virou um Frankenstein dramático das nove

Em Vale Tudo, o resultado de produzir uma novela/série dá ao telespectador a sensação de que é uma obra costurada às pressas, onde cada pedaço pertence a um corpo diferente: um Frankenstein dramático das nove.
A Vale Tudo de Manuela Dias perdeu o fio condutor que sustentava sua força original e se transforma em um experimento narrativo, com um texto bem raso, que mais confunde do que instiga.