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Tiago Pavinatto relembra infância sofrida e garante não ser bolsonarista

Apresentador concedeu uma entrevista exclusiva ao NaTelinha


Tiago Pavinatto em montagem do NaTelinha com ele sentado e nos estúdios da Jovem Pan
Tiago Pavinatto se tornou o apresentador mais polêmico da Jovem Pan - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Drika Oliveira

Publicado em 12/02/2023 às 08:13,
atualizado em 12/02/2023 às 15:59

Apresentador do programa Linha de Frente, da Jovem Pan, Tiago Pavinatto é uma dessas figuras incógnitas, a gente assiste na TV mas não sabe muito bem se ele está falando sério, ou se está fazendo piada com os assuntos mais relevantes, e pesados, que um país pode ter: a política.

Autodenominado um gay de direita, ele não tem o mínimo problema em bater de frente com a militância de esquerda que torce o nariz pela sua escolha e pelas suas declarações.

Seja fazendo caras e bocas, seja cantarolando antes de uma notícia bombástica, ou fazendo uma piada entre uma e outra, o advogado que é âncora de um dos principais programas da Jovem Pan, faz sucesso e ganhou uma legião de fãs que o aplaude e o segue em suas redes sociais.

Claro que não é uma unanimidade. Muita gente torce o nariz para o cara alto, estiloso, com jeito meio excêntrico, que faz questão de usar os termos jurídicos para explicar notícias e, muitas vezes, usa um tom debochado ao narrar o que ocorre no Brasil.

Pavinatto recebeu o NaTelinha, no tradicional restaurante Dona Dirce, na galeria do prédio onde fica a emissora Jovem Pan, na avenida Paulista, em São Paulo. Entre um lanche rápido e goles de água de coco, ele respondeu, sem filtros e sem negativas, a todas as perguntas que couberam em cerca de 1 hora e 30 minutos de conversa.

Entre elas, um assunto dolorido que é sua infância humilde no interior de São Paulo, a exclusão pelos amigos de escola, a descoberta da homossexualidade e do sucesso alcançado graças a sua força de vontade e determinação, pra vencer e sair da cidade na qual ele não poderia ser ele mesmo.

Confira a entrevista com Tiago Pavinatto

Quem é o Tiago Pavinatto?

Tiago Pavinatto - Um cara que não tinha nada pra dar certo, mas que lutou pra conquistar seus objetivos. Sou um cara sem parentes importantes, sem família rica, e vindo de Itapira, cidade pequena no interior de SP.

Nasci na primeira metade dos anos 80, em uma família de classe média. Uma família de pai, mãe e irmão mais novo. Quando eu tinha 8 anos, meu pai ficou desempregado e passamos a ser classe baixa. Minha mãe era dona de casa, meu pai escriturário e, depois se aposentou por invalidez. Ele diz que tem “LER” (lesão por esforço repetitivo), eu acho que é Parkinson, mas ele nunca me deixou o levar no Neurologista.

Como foi sua infância?

Tiago Pavinatto - Nasci em uma cidade muito católica e quando criança sempre fui muito bobo, sempre gostei de ver o que as crianças não gostavam como Ronald Golias e A Praça é Nossa. Tudo o que era comédia me atraía. Eu gostava de contar piada, aos 5 anos. Tudo pra mim virava piada, apesar da minha vida nunca ter sido ser uma piada. Acho que dessa maneira eu aliviava e, alivio até hoje, um pouco a pressão da vida. Fiz o ensino fundamental no SESI de Itapira.

Sempre gostei muito de falar. Quando a gente é criança não tem controle do que é um comportamento afeminado. Eu era muito comportadinho, tinha perna torta, era estrábico, gordinho, afeminadinho. Gostava de contar piada e aparecer. Essa é a receita para você não ter amigos na escola, pra não ser convidado para o bailinho.

Então na escola, eu era excluído e já que ninguém queria me ouvir falar, eu comecei a estudar mais que todos, para poder responder todas as perguntas primeiro que todo mundo.

E como você lidava com essa exclusão? Você contava pra sua família?

Tiago Pavinatto - Minha família não iria entender, então eu guardava pra mim. O lugar que eu me sentia seguro era na catequese, pois era um ambiente religioso, sem maldade. Comecei a ler a Bíblia inteira aos 8 anos de idade e, aos 9, 10 anos na catequese, me interessei pelo teatro. Pelo menos lá eu podia ser quem eu era.

Aprendi a ler com 7 anos, na escola. Não tinha livros em casa, pois minha mãe achava que livro era bobagem, que não era importante, então ninguém me estimulou em casa, não me ensinaram a escrever e a ler antes do tempo, como acontece em muitos lares. Comecei a ler dicionário. Lia muito dicionário e com ele aprendi muito.

Me parece que te dói falar sobre a sua infância...

Eu odeio falar sobre minha infância... Odeio. Até uns 5, 6 anos, posso dizer que foi uma infância feliz. Mas quando começou o convívio externo, o preconceito, foi difícil. Para mim é difícil falar pois não quero me colocar no papel de vítima, pois eu nunca gostei de me fazer de vítima. Então, quando eu era vítima, eu procurava fazer uma coisa ruim também pra não ser só vítima. Quando alguém me xingava, eu xingava de volta, quando tinha algum um desaforo, eu fazia piada da pessoa desaforada. Quando não me convidava, eu tirava sarro da festa que não havia sido convidado. Como eu não tinha amigos, e não era convidado pra nada, então, eu estudava. Ia lendo os livros da biblioteca do SESI.

Tiago Pavinatto

Você não tinha nenhum amigo na infância? E como foi a transição para a adolescência?

Tiago Pavinatto - Não. Até tinha algumas pessoas que eu conversava, mas amigo não tinha. Quando eu terminei o ensino fundamental no SESI, que iria até a 8ª série, fiquei sem opção para fazer o ensino médio, pois naquela época, a escola pública era uma catástrofe. Tanto na questão de ensino, quanto na criminalidade dentro da escola.

Imagina ser o primeiro aluno da classe, que gostava de estudar, como eu era. Tendo que ir para uma escola pública? Eu fiquei desolado. E o pior, meu pai me matriculou na pior escola pública que tinha, pois era a mais perto de casa. Eu me lembro que eu chorei muito quando chegou o uniforme dessa escola.

Para poder estudar, e sem contar pra minha família, eu peguei uma pastinha com vários textos que eu tinha feito, e fui a pé até o Colégio Anglo de Itapira. Andei cerca de uns 10 km até lá. Fui recebido pelo dono da escola, mostrei meus textos, e demonstrei uma vontade imensa de ter conhecimento, de ter um bom estudo, que me levaram a ganhar uma bolsa integral para cursar o ensino médio.

Em troca da bolsa, nunca precisei trabalhar nenhum dia sequer na escola, nunca me cobraram nada. No terceiro ano do ensino médio, comecei a dar aula de reforço aos alunos da escola e a ajudar a organizar os eventos. Foi uma forma de retribuir tudo que fizeram por mim, pois eu queria me sentir útil.

E até hoje, eu sou muito grato aos donos do colégio, porque eles me deram essa oportunidade de estudar, que mudou a minha vida.

Dos 15 aos 17 anos, me mantive no grupo de teatro e escrevia minhas peças, coordenava o teatro, e comecei a frequentar a Rádio Clube de Itapira e fazíamos um programa aos sábados. Sempre adorei rádio, sempre fui apaixonado pelo Pânico, desde que começou na rádio. O Pânico sempre foi tudo pra mim.

Como se descobriu gay?

Com 13 anos sabia que era gay. Isso foi em 1996. Nasci em 84 e nesse mesmo ano começa a AIDS. A AIDS ainda não era tratável como é hoje. E o tratamento ainda era severo, parecia uma quimioterapia, ninguém tinha acesso fácil. Ser gay era motivo de chacota da cidade, o gay do interior era sempre o cabeleireiro, pois era o único a se assumir. Além ser o objeto da piada, a gente tinha medo de morrer de AIDS. A gente não queria ser gay. A doença estava atrelada a AIDS, naquela época.

Tiago Pavinatto

Quando você descobre que é gay?

Tiago Pavinatto - Na primeira ereção. Pra mim foi muito natural descobrir, mas eu rezava, intensifiquei minha catequese, queria virar padre porque de maneira nenhuma eu queria ser gay.

Naquela época, na minha cabeça, rezar muito, e virar padre, era o único jeito de abdicar da sexualidade, pois se Deus não mudasse esse desejo em mim, eu iria morrer de AIDS. Era assim que pensávamos e que víamos na imprensa, todo santo dia. Criança não sabe nada de camisinha, a gente não tem educação sexual na escola e deveria ter. 

Ainda mais devia ter todo o medo de contar pra família...

Tiago Pavinatto - Só em pensar no preconceito que a minha família iria sofrer numa cidade pequena do interior, me dava pânico. No começo dos anos 1990, se você falasse que era gay, todo mundo já achava que você tinha AIDS.Em uma cidade, super católica onde os gays se casam, têm filhos, e enganam as mulheres a vida inteira para não assumir, o que seria de nós?

 Mas você já tinha assumido a sua sexualidade?

Tiago Pavinatto - Não. Ninguém sabia. Eu não contava pra ninguém, mas eu tinha trejeitos. Imagina, eu tinha 1,82m de altura, fazia teatro, falava mais que a boca, pessoa super desengonçada, me chamavam de bicha, sem saber que eu era mesmo.

Com 17 anos, meu sonho era sair de Itapira para pode viver, mas como eu ia fazer isso sem grana, sem nada? Na época eu tinha um professor que apostava tudo em um determinado aluno, que não conseguiu entrar em direito no Largo São Francisco. Quando falei para o professor que esse era meu sonho também, ele me jogou um balde de água fria dizendo que: se nem mesmo o fulano conseguiu passar, eu também não conseguiria.

Como eu gosto de desafios, então eu falei: eu vou passar. Fui lá e passei! Quando fui aprovado na faculdade, fui pra São Paulo, morar numa república com mais 7 pessoas, alunos também. Não foi uma época fácil, eu dormi no chão uns 3 ou 4 anos.

Quem estudava na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na época, era a elite. Só alunos provenientes das melhores escolas do Brasil e que já falavam inglês fluente, eram bem cultos, sabiam filosofia, sociologia, tinham noção de espanhol, de francês, coisas que eu não tinha, então, tive que estudar muito mais pra correr atrás do prejuízo. Eu fui sendo autodidata em coisas que as pessoas já sabiam, e eu lia os livros clássicos do Direito, estudava inglês, francês, para me aprofundar.

Eu não ia em cervejadas, em festas, nos jogos jurídicos. Não ia pra peruada, que era a festa mais sagrada do Largo São Francisco, e nos 5 anos de faculdade, fui apenas 1 vez.

E como você foi melhorando a sua condição financeira?

Tiago Pavinatto - Eu estudava e estagiava em escritório de Direito. A gente começa a ter contato com um mundo diferente, com restaurante mais bacana, roupa mais bacana, eu queria ser melhor porque queria ter a condição de sustentar uma vida mais bacana.

E como a política entrou na sua vida?

Tiago Pavinatto - Comecei a me envolver com política acadêmica do Largo São Francisco, e ao mesmo tempo, conheci um pessoal que queria fundar um diretório LGBT no PSDB, o regimento interno eu que assinei, e é valido até hoje, o “Diversidade Tucana”, que é o primeiro diretório político partidário LGBT do país, a tratar de diversidade no Brasil.

A gente auxiliava o Serra e o Alckmin nas ideias das políticas públicas e ajudamos a implementar o Hospital das DSTs, que hoje se chamam ISTs, que atende gays e trans aqui em SP. Eles também implantaram a diretoria da diversidade e vincularam com a Secretaria de Direitos Humanos em SP. A gente ajudou a implantar todo o aparato público de atendimento de pessoas LGBTs abandonadas, que não tinham pra onde correr, que sofriam preconceitos de médicos no hospital público. Pessoas que sofriam, por exemplo, fissura anal e quando chegavam no hospital público, eram menosprezadas por serem gays. E estarem naquela situação.

Naquela época, a militância LGBT pedia apenas liberdade, ninguém queria rótulo. A gente queria ser gay e pronto. Nós somos cidadãos como qualquer outra pessoa, pagamos impostos.

Essa outra rotulação que existe hoje, veio depois. E essa outra militância, matou a militância de liberdade, lá de trás, e eu passei a ser considerado um inimigo da militância, pois começou a colocar em risco tudo aquilo que a gente tinha montado.

Por quê?

Tiago Pavinatto - O que é maior e tem mais poder em uma Assembleia Legislativa ou no Congresso: a bancada da Bíblia ou a bancada da Biba? Quando você começa a ter uma estratégia de confronto para um seguimento que sempre foi desprivilegiado, quem vai perder o cabo de guerra?

Mas como um gay pode ser da direita? Faz sentido?

Tiago Pavinatto - Eu sempre fui com o pé na direita, nunca quis ser de esquerda. Quando eu tinha 20 anos, em 2005, antes de me formar na política acadêmica, eu saí do armário e, por isso, fui alvo de todo tipo de chacota: fui expulso da república onde eu morava, perdi o trabalho que eu tinha. Eu já tinha minha vida gay, mas na faculdade e no trabalho eu ainda não era assumido. Eu era um gay de direita. Sempre fui pró-liberdade, e não pró-igualdade.

Ninguém é igual a ninguém e eu tenho esse histórico de ir atrás de tudo que quero até conseguir. Acredito na meritocracia. Isso me influenciou muito. E vamos combinar, quem é a esquerda no Brasil?

Naquela época Lula era o presidente. Ser de esquerda era ser Lula e Lula nunca fez nada pela diversidade. Mas o Serra fez, FHC fez, então eu não iria ser de esquerda. E hoje nem sabemos o que é ser de esquerda e direita.

Mas como você conseguiu dar uma guinada e sair do armário pra viver sua vida?

Quando saí de armário, perdi os amigos héteros, sobraram alguns, bem poucos, que são amigos até hoje que fiz na faculdade. E aqueles de esquerda que seriam os amigos dos gays, não ficaram, pois eu era considerado de direita, então não servia para ser amigo deles. Bati muito a cabeça e sempre fiz questão de me afirmar como gay em todos os lugares, eu não me escondo, e nem me escondia desde que assumi. Sempre digo que eu sou um advogado gay, não sou um gay advogado. Depois que assumi a minha sexualidade, chegava nos lugares e dizia: Sou gay e quero trabalhar aqui e não fazia aquela linha de me esconder. Sou muito transparente se sempre falo antes, para não haver dúvidas depois.

Tiago Pavinatto

E como você deixou de ser o garoto humilde do interior e conseguiu se tornar o um profissional do Direito, ganhar dinheiro?

Tiago Pavinatto -  Me estabeleci na advocacia, o que me deixou em uma situação confortável de vida. Comprei meu teto, passei a fazer muitas viagens, me eduquei muito. Passei a ter um estilo de vida muito caro e com orgulho por ter conseguido tudo com meu esforço.

Fiz a graduação, pós-graduação, mestrado na USP e doutorado, e agora estou fazendo minha Livre-Docência que é o mais alto grau de titulação do sistema europeu de ensino que um acadêmico pode chegar. Em um certo ponto na vida, já tinha desistido de fazer qualquer coisa longe do direito. Fiz parte do MBL (Movimento Brasil Livre) por um tempo, e fui a primeira pessoa a dizer que um gay pode ser de direita, em rede nacional. Isso foi em 2014, e em um dia o vídeo já tinha mais de 1 milhão de views.         

Tudo isso dever ter mexido com sua cabeça.

Tiago Pavinatto - Depois de experimentar falar de política, aparecer e ser conhecido me acendeu a vontade de deixar um pouco o Direito de lado, e como eu já tinha um patrimônio bastante considerável que juntei trabalhando, em 2017, eu mudei o estilo de vida, e me tornei um Jet Set. Fui em todas as melhores festas na Europa, nos EUA, em Israel, passei um mês na Índia. A minha tese de doutorado foi conhecer as religiões de matrizes africanas, conheci a Etiópia, sul da África, Paquistão. A minha vida era curtir, viajar e estudar.

Mas isso te fez mais feliz?

Tiago Pavinatto - Em 2019, eu achei que minha vida tinha perdido o sentido, que não estava fazendo nada de relevante, e voltei pra tentar mais uma vez a militância política. Mas foi um desastre, saí deprimido. Fiquei 6 meses em depressão. Tudo o que eu passei no MBL de dezembro de 2020 até maio de 2021 foi terrível.

O que aconteceu nesse período no MBL?

Tiago Pavinatto - Não posso falar o que eu passei lá, porque não tenho como provar o que eu falo, e exigiria documentos que eu não tenho para provar, mas posso te dizer que foi um terror.

Pra você ter uma ideia, minha psiquiatra achou que iria me matar, porque eu estava em um estado deplorável, eu não saía de casa, não comia, não tomava banho, não falava com ninguém... Daí eu comecei a comprar livros, devo ter lido uns 300 livros... Eu queria escrever um tratado sobre liberdade religiosa.

Caso Paulo Gustavo

Tiago Pavinatto - Em maio, quando o Paulo Gustavo estava internado, um pastor da Assembléia de Deus disse que ele deveria morrer por ser gay, e aquilo me deu uma indignação e revolta tão grande, que parei minha pesquisa e escrevi o livro “Estética da Estupidez”.

Isso te deu um ânimo pra voltar, para correr atrás de novos objetivos que não fosse o Direito?

Tiago Pavinatto - Quando eu saí da depressão, fui chamado para fazer parte do programa Investigação Criminal – Crimes Perversos, que passava no canal pago AXN, e comecei a comentar crimes. E isso me reavivou a vontade de trabalhar ainda mais. Foi aí que conheci a Mariana Ferreira, diretora de programação na Jovem Pan e ela me convidou para ser comentarista no programa Linha de Frente, que era apresentado pela Carla Cecato. Isso foi em agosto.

Eu não queria muito falar de política, mas a Mari é tão bacana, tão gente boa e humana, que ela me convidou, insistiu e eu aceitei. Também fui convidado para falar sobre o meu livro no Pânico, e à convite do Emilio Surita, passei a participar toda quarta, o que pra mim era o ápice, pois sempre amei o Pânico.

Quando a Carla Cecato saiu, a Mari me convidou para apresentar o Linha de Frente e eu fiquei muito reticente e meio inseguro, mas a insistência da Mari e do Emílio Surita me trouxeram ao programa que estou até hoje. Eu nunca fiz televisão, então era um grande desafio um programa diário e, ao vivo. Eu sentei no primeiro dia, e estou aprendendo até hoje como é fazer televisão.

E como foi o desenrolar dessa história, já que você é um advogado e não um jornalista, por exemplo?

Tiago Pavinatto - Aconteceu uma coisa Incrível. Depois de 15 dias comigo, à frente do Linha de Frente, a gente estava pau a pau com a CNN, 1 mês depois estava à frente da CNN e 2 meses e meio depois, estávamos batendo a Globo News todo dia. Isso foi fantástico!

Porque eu comecei a tirar sarro da seriedade das notícias cantando, fazendo piada, tirando sarro de tudo. Isso quebrou uma certa barreira de gente que estava vendo aquela coisa pesada, de ódio, de política pesada toda hora. Foi uma loucura!

Lancei um outro livro “A declaração universal de direitos da pessoa mona fora do armário”, que apesar do título, não tem nada a ver com militância. Karnal leu meu livro sem que eu conhecesse e fez uma página inteira de crítica no jornal O Estado de SP e tudo foi fluindo ainda mais.

Você faz um programa que fala de pautas sérias e muito relevantes para o Brasil, mas seu jeito é meio escrachado. Você é debochado?

Tiago Pavinatto - Sou e muito. E sempre fui desde criança, faço piada, deboche...O Linha de Frente é um talk show, com as notícias comentadas, debatidas. Eu não sou jornalista, então eu faço piadas. Qual único jornalista que me prendeu a atenção no jornalismo a vida inteira? O Bonner? O Chapelin? Não. O único comentarista que me chamava a atenção era o Paulo Francis.

Eu sempre falava que queria ser o Paulo Francis, e hoje estou no caminho, pois tudo que escrevem sobre mim é: ‘Thiago Pavinatto envolvido em polêmicas’, sempre usado no sentido pejorativo.

Diferentemente das pessoas que criticam os políticos, eu critico com profundo embasamento jurídico. A minha piada contém academicismo, por quê? Porque a pessoa comum, que mal consegue interpretar um texto não vai chegar nunca na profundidade do Direito, que cheguei na minha vida acadêmica, então eu tento aproximar essa pessoa dos termos jurídicos.

Esse estilo Paulo Francis de colocar um pouco de comédia e deboche nas notícias é uma forma das pessoas passarem a aprender um pouco de direito e entender porque as coisas são assim. Felizmente deu certo, poderia ser um fracasso, mas deu certo.

Sinto que você não gosta muito de ser chamado de polêmico.

Tiago Pavinatto - Não, eu adoro, mas não gosto que seja usado no sentido pejorativo quando não se tem o que falar sobre mim. Adoro polêmica. Conhecer é polêmico. A curiosidade é polêmica. Eu adoro o Paulo Francis, que foi o maior polemista desse Brasil, então é uma honra. Mas eu não gosto quando sou chamado de envolvidos em polêmica, como se eu estivesse sendo investigado por algum crime.

Suas caretas incomodam muita gente. Muita gente também gosta, mas muitos acham que você está debochando de pautas muito importantes. O que são essas caretas, de onde elas vêm?

Tiago Pavinatto - É natural. Eu não percebo (pensativo)

Mas você já se viu nas telas? Tem noção das suas expressões no ar?

Tiago Pavinatto - Já e eu odeio me ver. É um rosto, uma expressão mais feia que outra. Se eu faço um print, é cara e boca ridícula. Mas esse sou eu. Pra mudar, só se eu encher a cara de botox feito o João Dória, e ficar sem expressão.

O episódio de comer um papel ao vivo, as caretas e gestos, foi muito polêmico. 

Tiago Pavinatto -  Eu tenho problema sério com mentira na minha vida pessoal. Quando você mente para enganar, para prejudicar alguém, para fazer o mal, é inaceitável em qualquer circunstância. O povo brasileiro é muito carente de educação formal, e quando você faz a vítima defender o seu algoz, é intragável. Eles mentem de forma a ver sua vítima defender quem fez o mal.  Quando eu vejo alguém falar de democracia, e não age democraticamente eu não me aguento.

E daí você come papel?

Tiago Pavinatto - É que eu não me aguento, e foi a maneira que eu encontrei naquela hora. Porque eu insisti para o produtor me colocar no ar, na tela (o que eu nunca deveria ter feito), mas eu insisti muito no ponto eletrônico, e ele me colocou no ar, dividindo a tela com o Ministro. E como a gente tinha que transmitir esse discurso e não podia falar nada, quando ele falou da Proteção da Constituição, ou algo assim, eu peguei e comi uma folha de papel, como quem rasga a Constituição, engole um objeto.

Comer papel foi seu ato de protesto?

Tiago Pavinatto - Foi absolutamente meu ato de protesto, porque não houve verdade em nenhuma palavra daquele discurso, isso pra mim é o verdadeiro deboche.

Tiago Pavinatto relembra infância sofrida e garante não ser bolsonarista

Você se acha superior às pessoas, se acha arrogante?

Tiago Pavinatto - Eu sempre me achei uma fraude até 2021. Eu sempre achei que eu não sabia de nada, e não estava preparado para falar sobre nada.

Mas você estudou muito, fez doutorado, mestrado, é autor de livros, como seria uma fraude?

Tiago Pavinatto - Mesmo assim eu me achava. Em 2021 eu percebi que tinha propriedade para falar sobre muitas coisas. Uma chavinha dentro de mim virou. Mas, me achar superior, depende em qual sentido. Intelectualmente envolve erudição, conhecimento, leitura, estudo, arte. Porque eu trabalho pra isso e me dedico muito.

Agora, existencialmente eu me acho um miserável. Eu me sinto inferior a todos existencialmente. A superioridade intelectual traz a miserabilidade existencial. Porque quando você valoriza muito o conhecimento, e sabe que não vai conseguir responder a principal pergunta da humanidade que é qual o sentido da vida, dá um grande desgosto existencial.

É por isso que você se joga no trabalho?

Tiago Pavinatto - Estou sempre preocupado em estudar e trabalhar, e não consigo viver direito e ter prazer nas coisas importantes.

Você faz terapia?

Tiago Pavinatto - Já fiz, mas não faço mais. Hoje não dá mais tempo. Eu trabalho 12 horas por dia, então eu tenho que escolher e acabo escolhendo o trabalho.

Como é seu contrato na Jovem Pan?

Tiago Pavinatto - Tenho um contrato por tempo indefinido e estou muito feliz. Agora também estou apresentando o Pingos nos Is e estou empolgado e sempre querendo aprender mais.

Como você vê a situação da Jovem Pan sendo acusada de apoiar os atos de terrorismo no dia 8 de janeiro?

Tiago Pavinatto - Primeiro que não teve crime de terrorismo. A gente teve vandalismo, a gente teve golpismo, incitação ao crime, teve um atentado ao Estado Democrático de Direito que é um crime previsto no código penal, nesses atos do dia 8, mas crime de terrorismo não. Porque não se enquadra no crime de terrorismo.

Para se enquadrar em terrorismo tem que ter finalidade de preconceito de etnia, raça, cor, religião e xenofobia, o que não foi o caso.

Como você vê esses atos, você de alguma maneira apoia esse tipo de manifestação?

Tiago Pavinatto - Eu abomino. Como é que uma pessoa que fala que o lema é a bandeira, é ordem, e vai praticar desordem? Como fala que é conservadora e vai fazer revolução? A saída tem que ser sempre institucional.

Você também acredita na narrativa que todo esse quebra-quebra foi feito por infiltrados de esquerda?

Tiago Pavinatto - Não importa se teve infiltrados ou não, tinha gente de direita lá.  Se teve gente de esquerda, isso não exclui o que aconteceu em Brasília. Não é porque achei meu inimigo na cena do crime, que eu não posso ser criminoso também.

As pessoas são treinadas pelas militâncias a pensarem de maneira binária. ‘Ah, eu fiz, mas aquele também faz’ e não é assim. Existe lei.

E uma coisa eu quero dizer é: A Jovem Pan nunca apoiou os atos do dia 8. Nunca!

Mas é claro, a JP sempre foi oposição ao Lula. E é claro que pessoas de direita que estavam em Brasília eram ouvintes da Jovem Pan. Mas não podemos culpar o padeiro, que leva os pães aos membros da coisa toda, dos atos cometidos por eles.

Muitos acham que JP ajudou a incitar esse tipo de pensamento e comportamento contra o novo governo. A Jovem Pan fez a propagação de informações falsas e distorcidas? A emissora está isenta desse tipo de coisa?

Tiago Pavinatto - Isenta eu não sei, pois, trabalho na Jovem Pan desde o final de setembro de 2021. O que sei é que a emissora está sendo investigada. E é pra isso que serve uma investigação, para provar se é culpada ou inocente.

Se a investigação é feita de maneira séria e correta, é sempre benéfica para todos porque vai esclarecer tudo, de uma vez por todas. Eu acredito na emissora em que eu trabalho.

O que você acha do movimento Sleeping Giants, que pede a desmonetização da Jovem Pan?

Tiago Pavinatto - O Sleeping Giants é um grupo criminoso, é uma quadrilha. São pessoas que, conjuntamente, praticam o crime de perseguição contra a JP, que já está sendo investigada por um órgão competente.

Nesse país você não pode chamar uma pessoa de não inocente como acontece com o Lula, tem que dizer que o Lula é inocente porque ele não foi condenado em última instância. Agora, eu posso perseguir a JP dizendo que ela é culpada de alguma coisa, com uma investigação que acabou de começar? Esse movimento é uma quadrilha. É o crime de associação criminosa para praticar o crime de calúnia e o crime de perseguição, mais o ato ilícito do abuso de direito, porque força, extorque, chantageia patrocinadores. E não estão nem aí se tem gente que vai pra rua, se tem família que pode ficar sem sustento. O crime deles está em curso. Eles praticam violência trazendo danos patrimoniais para a empresa.

Se é assim, quem investiga o Sleeping Giants?

Tiago Pavinatto - O mesmo órgão que investiga a Jovem Pan, que é o MP (Ministério Público), deveria investigar eles. Eu não tenho notícias de quem faz parte desse grupo, de quem são, mas precisa ser investigado também. Infelizmente, mesmo eu como advogado, não posso te dizer o porquê eles não investigam.

 A Jovem Pan já denunciou para o MP?

Tiago Pavinatto - Já tem denúncias, mas não sei te dizer quantas, como são, eu não sei como está o andamento, só sei que está parado.

Houve uma lista de demissões entre os apresentadores mais radicais da Jovem Pan. O que você tem a dizer sobre isso?

Tiago Pavinatto -  Eu não participo das decisões internas e jurídicas da JP e nem conhecia muito bem os envolvidos. A Zoé, por exemplo, só encontrei algumas vezes no Morning Show, coisa de entrar e sair do programa. O Constantino nunca vi pela frente. Não sei o que te falar sobre isso.

A JP está caminhando para ser uma emissora mais moderada, do que foi no ano passado?

Tiago Pavinatto - Pode ser, é algo que se pode deduzir, mas eu não tenho acesso às deliberações da diretoria. E olha, eu prefiro não saber porque isso pode afetar na alegria que eu tenho em trabalhar. Eu prefiro fazer meu trabalho que, já é bastante, e ir embora. Quero fazer o meu melhor e contribuir.

O Linha de Frente, por exemplo, não está sendo investigado.  Eu venho e faço meu trabalho, e sei que meu trabalho está sendo pautado pela moderação.

No dia 16 de janeiro, o programa Linha de Frente disse que o governo Lula teria reajustado o valor do auxílio-reclusão em R$ 500, totalizando a quantia de R$ 1.754,18, o que não é verdade e gerou muita revolta nas redes sociais e virou uma grande fake news.  Como você lidou com isso?

Tiago Pavinatto - Esse caso da fake news me escapou, pois um jornalista colocou no meu TP (teleprompter) e eu dei a notícia. Mas quando eu saí do programa, fui checar a veracidade e vi que a notícia era falsa, sem cabimento. Imediatamente coloquei uma retratação no meu Twitter, e avisei a direção. No dia seguinte, eu esclareci tudo no programa, pedi desculpas, no mesmo horário, e dei mais destaque para esclarecer a verdade, para que não ficasse dúvidas,porque temos que assumir quando erramos. Tivemos um erro, eu percebi e me desculpei.

Depois desse episódio, que teve uma grande repercussão, você ficou mais atento?

Tiago Pavinatto - Sim. “Gato escaldado tem medo de água fria". A equipe foi advertida, mas, agora, eu sempre olho as pautas antes. Eu trabalho 12 horas por dia, e não sou jornalista, sou apresentador, que chega para apresentar, para comentar, para instigar, para ajudar o debate. Quem cuida da pauta é o jornalismo, e eu preciso confiar nele. Mas agora, estou trabalhando ainda mais, pois estou fazendo mais uma coisa que eu não deveria fazer que é: revisar as pautas para que não tenhamos mais problemas desse tipo.

O Alexandre Frota disse que diante dessa fake news, a direção da Jovem Pan iria ser chamada para depor em Brasília. Como vocês receberam isso?

Tiago Pavinatto - Pode até ser que o Frota tenha feito uma petição. Mas daí falar que chamou a diretoria da JP em Brasília.... Porque quem descobriu a gafe fui eu, logo após o programa já tomei providências, avisei a direção, fiz o tuíte e pedi desculpas.

O Frota me bloqueou no Twitter, talvez para que eu não pudesse ver essa barbaridade, e ele ficasse sendo o ‘protetor da notícia verdadeira’ quando na verdade ele não é. Eu tenho a mesma relevância que o Frota No Twitter e as pessoas me mandam prints, mandam tudo, e eu acabo vendo. Será que ele pensou que ninguém iria me mostrar?

Você acabou sendo afastado da Jovem Pan no dia 13 de dezembro, por postura inadequada por decorrência do episódio do papel. Você ficou magoado quando foi afastado? 20 dias sem seu programa te fizeram refletir?

Tiago Pavinatto - Fiquei magoado sim, fiquei. Porque ensinar é o sentido da minha vida, eu tenho mania de professor. Às vezes me acham arrogante porque as pessoas estão acostumadas a ouvir aquilo que as agradam.

Se não for assim, pra mim não faz mais sentido. Na minha cabeça eu recebo um salário para falar o que eu sei, e não o que o outro quer ouvir, pois isso seria prostituir minha cabeça. Eu fiquei magoado sabe por que? Eu tenho a mais absoluta certeza de que eu não fui injusto no meu deboche, mas o objeto do meu deboche foi injusto no seu discurso.

Em algum momento desse afastamento, você achou que não iria voltar mais, que iria ser demitido?

Tiago Pavinatto - Não achei porque a direção da JP foi muito compreensiva comigo, apesar do esporro enorme que eu tomei, eles foram bacanas comigo. Mas eu fiquei triste, muito triste.

Sem querer usar a narrativa de nenhuma militância política dessa ou daquela vertente, me conta como um gay pode ser “bolsonarista”, diante de tanta coisa que esse governo falou contra os homossexuais?

Tiago Pavinatto -  Aí é uma coisa que eu sempre quis falar, uma coisa que muita gente acha que sou bolsonarista. Mas não sou, e nunca fui. Eu sou uma pessoa pautada pelo Direito, pela lei, e pela liberdade, sempre! Mas Bolsonaro, eu não sou não e nunca fui.

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