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Assistir à "Velho Chico" nesta segunda não doeu só no coração. Doeu na alma

Nesta segunda (26) foi ao ar o primeiro capítulo sem Domingos Montagner


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Reprodução

Há alguns dias, eu vi muita gente questionando o fato da morte do Domingos Montagner ter tido uma comoção tão grande. "Ele nem era o ator mais famoso, nem era o mais conhecido", diziam eles.

Novela das 8 - ou das 9 se você é mais novinho - é uma tradição desde 1969. Para muitos, é uma grande companhia das noites. É como se aquelas pessoas fossem amigas dos telespectadores. Como se levassem eles para sonhar todos os dias, depois da realidade dura do dia a dia.

O falecimento de Montagner, da forma que foi, com semelhanças incríveis com a trama de Santo, seu papel em "Velho Chico", impressionou ainda mais. Muita gente não sabia como continuar o trabalho, como continuar a ver a novela sem seu ator principal.

Benedito Ruy Barbosa, Luiz Fernando Carvalho e sua equipe decidiram que isso seria feito pelo público. O público, que tanto chorou e se chocou com a ida do ator, carregaria o Santo dentro de si através do olho da câmera.

A primeira cena sem ele em estúdio foi exibida na noite desta segunda-feira (27), logo num momento de celebração, o pedido de casamento de Olívia (Giullia Buscacio) e Miguel (Gabriel Leone). Me impressionou a honra que todos os atores tentaram levar ao ar.

Olhando normalmente, era uma cena como outra qualquer, mas buscando nos olhos de todos, principalmente quando Camila Pitanga olha para a câmera, você nota a tristeza na alma de quem viveu o que viveu.

A sequência de casamento, no final da novela, foi tão emocionante quanto. Poética, Benedito conseguiu fazer até quem via a novela com curiosidade se emocionar com Tereza. As montagens de vozes de antigas cenas de Santo, para dizer que ele realmente estava lá, deram um pequeno tom macabro.

Mas ele logo se esvaiu com a fotografia, com a fala de "vida nova" de Bento (Irandhir Santos), com a alegria de Tereza por ser avó. Pela alegria do público ao saber que tudo continuou bem feito na trama.

O que todos devemos fazer é levantar, aplaudir e parabenizar elenco, diretores e todos os envolvidos em "Velho Chico". Conseguiram emocionar e dar continuidade em um dos capítulos mais tristes da história da teledramaturgia no Brasil.

Domingos Montagner pode, sim, ter ido materialmente. Mas Santo continua ali. Na cabeça e no coração dos atores e dos telespectadores. Ver a novela ontem doeu no coração e na alma. Mas a dor deu lugar, em boa parte, a um choro de emoção e alegria pela fibra e garra de todos.


Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Ainda assina as colunas "Antenado", sobre TV aberta, e "Eu Paguei pra Ver", sobre TV por assinatura. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer

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