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"Liberdade, Liberdade" só conseguiu se definir e divertir no final

Estação NT


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Fotos: Reprodução/TV Globo

Os closes nos rostos empoeirados e nos dentes amarelos de grande parte do elenco de “Liberdade, Liberdade”, deixaram claro a proposta da novela das 23h da Globo.

As tramas de época açucaradas ficaram para trás, como convém à novíssima forma de se fazer teledramaturgia, iniciada em terras gringas. Mais crueza e menos glamour, mais proximidade com as imagens dos livros de História, e ao mesmo tempo, mais aceleração na hora de contar a história com h minúsculo.

Quando estreou às vésperas do feriado nacional de Tiradentes, a coluna viu a estreia de “Liberdade, Liberdade” por esse viés moderno, que segue a linha mestra da badalada “Game of Thrones” da HBO, mas que no caso da versão brasileira, tropeçava em manias locais. O último capítulo da novela exibido nesta quinta-feira (04) evidenciou estes cacoetes.

A trama sobre Joaquina (Andréia Horta), filha fictícia de Tiradentes, que se une ao movimento inconfidente nas Minas Gerais do século 19, começou sem dizer ao que veio, girando em círculos, apesar das tentativas do autor Mário Teixeira de criar uma novela aventuresca, e do estilo câmera-na-mão do diretor Vinícius Coimbra dar o tom em todos os detalhes.

A falta de carisma da protagonista, indecisa entre a mocinha frágil e a revolucionária fervorosa, criou um descompasso. Cada fala de Joaquina era acompanhada por tanto didatismo que logo desviou o foco para núcleos e personagens mais bem arquitetados: o excelente mercenário Mão de Luva (Marco Ricca), que funcionou ao mesmo tempo como alívio cômico e antagonista, o cruel intendente Rubião (Mateus Solano), contido mas firme, a Paris Hilton de espartilho Branca (Nathalia Dill) e a cortesã Virgínia (Lilia Cabral).

Apenas na sua reta final, “Liberdade, Liberdade” conseguiu criar uma identidade própria. Uma mistura de romance e aventura, mas com o pé fincado na Vila Rica violenta e miscigenada, uma verdadeira síntese do Brasil em suas origens. Destaque para a introdução na trama da família real portuguesa e seus conspiradores. A audiência reagiu positivamente. Contudo, não foi o bastante.

Em seu desfecho, a novela criou um corre-corre desnecessário para cortar as arestas da história e, mesmo assim, não conseguiu se livrar de certa ingenuidade, como Joaquina, prestes a ser enforcada, berrando “liberdade” para a multidão. Apesar da embalagem moderninha, esta novela das 23h não confiou totalmente no material excelente que tinha em mãos.


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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