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De "Mil e uma Noites" a "Sila": o que é que a novela turca tem?


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"Sila" é a novela turca atualmente no ar na Band - Fotos: Divulgação

A oferta constante de novelas em quase todas as emissoras de TV brasileiras, nos mais variados horários, naturaliza a ideia de que a paixão nacional pela teledramaturgia não conhece barreiras, nem mesmo de grade horária.

Porém, é no setor da importações que a novidade salta aos olhos: as tramas vindas da Turquia, escritas e gravadas lá, e que desde 2015 batem ponto na grade da Band, como “Mil e uma Noites”, “Fatmagül” e a atual “Sila - Prisioneira do Amor”.

Exibir novelas de fora não é exatamente novidade, se o telespectador se lembrar da sucessão de tramas mexicanas trazidas por Silvio Santos nos anos 80 e 90 graças à sua parceria com a Televisa (parceria que, aliás, segue firme, com três novelas desta emissora na programação do SBT).

Herdeira dos dramalhões cubanos, a novela brasileira guarda certa proximidade cultural com as suas similares faladas em espanhol. Os personagens exagerados, as histórias de superação, o visual colorido, os vilões maquiavélicos. Se nosso país tropical conseguiu, através de décadas, imprimir um estilo próprio neste formato, também conserva em seu DNA todas as características básicas acima, ainda que diluídas. Mas como explicar o sucesso das tramas turcas, vindas de uma cultura tão distante?

Saem as Marias e Paolas Brachos e entram nomes tão exóticos quanto Fatmagül, Rahmi, Selim, Onur, Sila, Burhan, Bediran, Filus. Os cenários chamativos são substituídos por tons acinzentados e figurinos sóbrios, sem o compromisso de lançar moda em vitrines.

As câmeras não fazem panorâmicas ou outros movimentos ousados, e sim, se mantêm próximas dos filmes antigos de mistério, às vezes surpreendendo com um leve tremor ou um flagra atrás do cenário. A dublagem compromete um pouco certas interpretações, entretanto, é fácil notar a discrição e o espaço para o silêncio, qualidades em falta nas novelas brasileiras.

De resto, a lista está completa: as protagonistas são mocinhas sofridas, quase sempre divididas entre homens ricos ou o namorado de infância. As reviravoltas no enredo beiram o absurdo, e o final feliz, garantido. Por outro lado, um elemento assustador se sobressai nestas tramas turcas: o retrato de uma sociedade patriarcal, nas quais as heroínas com frequência têm dilemas amorosos resultantes de estupros (como em “Fatmagül”), tradições tribais (“Sila”) ou acordos financeiros (“Mil e uma Noites”). Sem surpresa, estas personagens acabam se apaixonando por seus algozes.

Nesta nova onda de conservadorismo que toma o Brasil, estaria o nosso telespectador tão distante dos seus companheiros turcos?


Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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